Confirmado. Homem de Neandertal desapareceu afinal há mais de 40 mil anos

por RTP
Reconstrução fisionómica de um velho Homem de Neandertal, realizada pelo Museu de Neandertal, em Mettmann, Alemanha DR

Um novo estudo indica que os fósseis de Homens de Neandertal encontrados numa gruta na Bélgica, e considerados como pertencentes a alguns dos últimos sobreviventes da espécie no norte da Europa, são milhares de anos mais antigos do que o estimado inicialmente.

Datações anteriores por radiocarbono indicavam que os restos fossilizados remontavam há apenas 24 mil anos. O novo estudo, que recorreu a uma nova técnica, revelou, com "uma probabilidade de 95,4 por cento", que afinal terão entre 44.200 e 40.600 anos.

A datação confirma assim outras investigações a restos atribuídos aos Homens de Neandertal, incluindo na Península Ibérica, as quais indicaram que eles terão começado a perecer há cerca de 43.000 anos e se extinguiram há cerca de 40.000.

A investigação envolveu cientistas da Bélgica, da Grã-Bretanha e da Alemanha e estudou os espécimes encontrados na Gruta Spy, local onde têm sido recuperados inúmeros restos humanos desde o século XIX. A precisão do momento em que a espécie desapareceu ajuda à compreensão da sua natureza e às razões que levaram à sua substituição pelo Homem moderno.


Os resultados das pesquisas foram publicados segunda-feira, na revista cientifica Pnas - Proceedings of the National Academy of Science.

Um dos coautores do estudo, Thibaut Deviese, das Universidades de Oxford e de Aix-Marseille, explicou à Agência France-Presse que, apesar de continuar a utilizar o método do radiocarbono, a equipa multidisciplinar desenvolveu um método de preparação das amostras que permitiu evitar todo o tipo de contaminação externa.

Os autores do estudo fazem notar que, no futuro, esta técnica deveria ser usada para avaliar todos os vestígios encontrados, por permitir obter resultados mais precisos.
Amostras mais limpas
A diferença baseou-se no refinamento das amostras, de forma a eliminar quaisquer compostos de solo ou ambientais que pudessem baralhar as contas sobre a decadência do carbono 14.

Todos os seres vivos absorvem carbono, através da atmosfera ou dos alimentos, incluindo o carbono 14, que se desintegram ao longo do tempo. Uma vez que as plantas e animais deixam de absorver carbono quando morrem, saber o que resta do carbono 14 auxilia a determinar em que momento estavam vivos.

No caso de ossadas, os investigadores extraem pequenas quantidades feitas de colagénio para a análise, já que este é orgânico.

"O que fizemos foi ir mais longe", explicou Deviese. Os cientistas centraram atenções em apenas certas moléculas, chamadas aminoácidos, com a certeza de que estas faziam parte do colagénio.

As novas datas agora reveladas apontam para a extinção do Homem de Neandertal "do norte da Europa, muito antes do que antes era sugerido", indicou Deviese.

Os autores dataram igualmente restos encontrados noutros locais da Bélgica, Fonds-de-Foret e Engis, e obtiveram resultados comparáveis.

"Quase dois séculos após a descoberta da criança Neandertal de Engis, fomos capazes de lhe dar uma idade fiável", declarou o investigador.
Rever a História
"Datar todos estes espécimes da Bélgica era muito entusiasmante, pois desempenharam um papel crucial na compreensão e definição do Homem de Neandertal", acrescentou Deviese à AFP.

"A datação é crucial em arqueologia, pois sem um quadro cronológico fiável, não podemos ter certezas quanto às relações entre o Homo Neandhertalensis e o Homo Sapiens", referiu Deviese.

Por exemplo, alguns utensílios em pedra foram atribuídos aos Neandertal, e interpretados como sinal do seu desenvolvimento cognitivo, referiu. Ora, se for revelado que eles não sobreviveram tanto tempo como se pensava, estes objetos têm de ser reexaminados para determinar se foram ou não, obra sua, sublinhou o investigador.

O desaparecimento do Homem de Neandertal tem sido atribuído a causas climáticas, a uma extrema consanguinidade e também à competição com o Homo Sapiens.

Diversas investigações têm revelado semelhanças entre as duas espécies, incluindo a possibilidade dos Neandertal terem sido absorvidos pelas populações de Homo Sapiens, como indicam análises ao ADN humano actual.

Em novembro de 2020, um estudo igualmente publicado na Pnas sobre dentes identificados como pertencentes a crianças Neandertal, indicou que estas, à semelhança dos seus primos Sapiens, eram desmamadas entre os cinco e os seis meses.

A conclusão implica exigências de nutrição e energia idênticas durante a primeira infância, um dado confirmado pela velocidade de crescimento da dentição entre os Neandertal, a qual segue trajetórias comparáveis à dos modernos seres-humanos.

Outro estudo recente provou que, ao contrário do que se pensou durante várias décadas, os Neandertal eram capazes de emitir sons, incluindo vogais, semelhantes ao Homo Sapiens, o que abre novos cenários em termos de capacidades cognitivas e de comunicação entre as duas espécies.
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