Comunidades da região amazónica e da costa peruanas reuniram-se, em Lima, para pedir ajuda à ONU na resolução dos derrames de petróleo, incluindo o que ocorreu em janeiro, ao largo do Peru.
"Os derrames que ocorreram na costa central do Peru podem ajudar a aumentar a consciência da humanidade, mas isso não é suficiente", disse o relator da ONU sobre Substâncias Tóxicas e Direitos Humanos, Marco Orellana, em visita académica ao Peru, onde recebeu as exigências daquelas comunidades, na sexta-feira.
Representantes de comunidades nativas da selva e da costa do norte do país apresentaram experiências, petições e queixas ao relator relativamente aos derrames que afetaram o modo de vida ligado à natureza durante décadas, pedindo que a ONU assuma a mensagem e a transmita ao Presidente do Peru, Pedro Castillo, e à comunidade internacional.
"Há um elemento de responsabilidade, não só das empresas mas também dos países de onde as empresas são originárias. A dimensão extraterritorial dos direitos humanos e o dever de respeito é uma consideração universal neste momento", disse Orellana.
Associações de pescadores artesanais afetados pelo derrame de janeiro, na refinaria La Pampilla, operada pela espanhola Repsol, e representantes de organizações e comunidades indígenas amazónicas no norte do Peru alegaram que o Estado não lhes concede os mesmos direitos que a outros cidadãos.
"Foi preciso um derrame na capital, algo que tem vindo a acontecer noutras partes do país, para que todos olhassem para o norte e para o Amazonas, para ver águas e rios contaminados", disse o presidente da Frente Macro Região Norte, Macedónio Vásquez.
Alguns representantes exigiram o encerramento das refinarias e locais de extração, devido às consequências dos derrames, especialmente na contaminação da água e peixes, trazendo doenças à população.
Os representantes denunciaram o alegado favorecimento das grandes empresas pelo Estado e exigiram estudos, investigações e análises para descobrir como a água contaminada com hidrocarbonetos afeta as comunidades.
As comunidades entregaram um documento com exigências formais a Orellana, incluindo um pedido para "modificar os regulamentos que permitem que empresas extrativas fiquem impunes", bem como "as violações" dos territórios e do ambiente, e para reforçar as instituições ambientais.
Também pediram "mecanismos fortes para a aplicação dos regulamentos que obrigam as empresas a manter e a alterar oleodutos, se necessário, e a implementar sistemas de monitorização atualizados".
"São necessárias medidas concretas, passos para começar a mudar a trajetória, porque neste momento estamos a assistir a uma emergência climática, ao envenenamento sistemático do planeta, e isto deve ser invertido", disse Orellana.