Comunidade brasileira na Austrália duplicou nos últimos cinco anos apesar da pandemia
A comunidade brasileira na Austrália duplicou nos últimos anos, impulsionada pelo crescente número de estudantes que procura o país e pela falta de mão-de-obra com que o país se depara atualmente, disse à Lusa o embaixador em Camberra.
"O último censo, de 2021, mostrou um crescimento muito expressivo, quase de 100 por cento. Tínhamos 27 mil brasileiros em 2016 e em 2021 são 46 mil", explicou em entrevista à Lusa o embaixador brasileiro no país, Mauricio Carvalho Lyrio.
"Temos de ter em conta que houve pandemia e dois anos de praticamente fecho de fronteiras. O crescimento antes disse que era muito rápido e quando se retomar teremos números ainda mais altos", sublinhou o diplomata.
Em 2020, por exemplo, o Brasil foi a principal fonte, fora da Ásia, de estudantes internacionais para a Austrália e a quinta maior em termos globais, beneficiando de cerca de 110 acordos ativos entre instituições educativas dos dois países.
Maurício Lyrio, que iniciou o seu mandato em Camberra há cerca de um ano, explicou que o aspeto mais destacado da comunidade é a sua idade, com "muitos jovens" e a grande maioria "entre 30 e 35 anos".
Estudantes a estudar em cursos que vão de línguas e técnico-profissionais a bacharelatos, mestrados e doutoramentos, muitos beneficiando dos vistos de estudante que permitem trabalhar até 20 horas por semana.
Dos cerca de 46 mil brasileiros listados no censo, entre 12 e 13 mil, explica o diploma, têm dupla nacionalidade, sendo que a grande maioria está no país com vistos temporário e que só alguns conseguem, depois, a residência permanente.
"A grande maioria volta para o Brasil. Alguns conseguem começar a trabalhar num emprego temporário e depois o empregador torna-se patrocinador e isso permite que fiquem, mas a grande maioria vem e volta para o Brasil", enfatizou.
O facto de a Austrália registar pleno emprego, de haver uma procura significativa de mão-de-obra e dos salários serem elevados, são, na opinião do diplomata, os fatores de atração, com os dois países a assinaram recentemente um acordo para a introdução do visto "férias-trabalho", tradicionalmente conhecido como o visto dos mochileiros.
"São modalidades de visto para as pessoas ficarem um tempo e voltarem e isso aplica-se de facto a maioria dos brasileiros", referiu, notando que a desaceleração económica e o aumento do desemprego no Brasil estimularam a saída daquele país de mais pessoas.
Sendo o estado de Nova Gales do Sul o que conta com a maior comunidade brasileira, os dados do censo mostram que o maior crescimento dos últimos anos ocorre no estado de Queensland, em regiões como a Gold Coast e Brisbane.
"É uma comunidade muito integrada entre si. Mas o brasileiro é muito brasileiro, muito sociável, e a integração na comunidade australiana também é muito grande. Viajei por quase todos os Estados e o que ouço das autoridades é até um desejo de atrair, especialmente para trabalhar, mais brasileiros", destacou o embaixador.
"E temos também um fluxo de trabalhadores altamente especializados, com um fluxo recíproco, especialmente em especialistas em tecnologias de ponta ou nos setores em que os dois países são fortes, como agricultura, mineração e energia", sublinhou.
Para as autoridades brasileiras no país os sinais são positivos e a expetativa é de que os números continuem a aumentar, com zonas como Queensland -- zonas de praias e de turismo -- sejam os destinos mais procurados.
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