Companhias aéreas recusam diminuir ocupação dos voos

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Benoit Tessier - Reuters

No contexto da pandemia, as companhias aéreas recusam a ideia de deixar lugares vagos nos voos, alertando que esta medida conduziria à falência e ao aumento dos preços dos bilhetes. As empresas defendem que medidas como o uso obrigatório de máscara, a medição da temperatura e a apresentação do "passaporte de saúde" são suficientes.

Numa altura em que se prepara o regresso dos voos comerciais, são equacionadas as medidas a ser impostas de forma a prevenir a infeção por Covid-19. Companhias como a Iberia, American Airlines, Air France ou Lufthansa já publicaram um protocolo de segurança para os primeiros voos. Os passageiros serão obrigados a utilizar máscara, sujeitos à medição da temperatura e deverão apresentar o seu “passaporte de saúde” com teste negativo ao coronavírus. O serviço de bordo foi suspenso e apelam ainda ao distanciamento físico no percurso do aeroporto.

As empresas rejeitam, no entanto, a colocação de alguns lugares livres nos voos para evitar o contágio da Covid-19 por considerarem que esta medida conduziria à falência ou ao aumento do preço dos bilhetes em 50 por cento.

A Comissão Europeia também se pronunciou sobre a retoma dos voos e mostrou-se igualmente contra a regra de colocar assentos vazios, reconhecendo que isso afetaria a viabilidade económica das operações.

“Temos de garantir equilíbrio entre a viabilidade económica de um voo e o número de passageiros e claro que é mais difícil manter grandes distâncias, pelo que é um risco que a pessoa assume, apesar de tudo”, declarou em entrevista à agência Lusa a comissária europeia dos Transportes, Adina Vălean.

Não recomendo, como norma, manter espaços livres [entre passageiros]”, asseverou Vălean.

A Ryanar, por exemplo, já anunciou que não retoma a sua operação se tiver de voar com lugares vazios por não considerar viável economicamente uma taxa de ocupação de cerca de 60 por cento. Adina Vălean afirmou que “eles têm alguma razão”.

A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) é também contra a colocação de lugares vagos, explicando que a indústria requer uma ocupação de 77 por cento para ser rentável. A IATA explica que as despesas se multiplicariam e a medida exigiria um aumento dos preços dos bilhetes entre 43 e 54 por cento.
Companhias aéreas garantem “baixo risco” de transmissão
Os passageiros mostram-se inseguros pela inexistência de uma distância de segurança durante os voos. As companhias argumentam, por sua vez, que não existe nenhuma regulamentação até ao momento que assim o exija e garantem a segurança.

“O avião é provavelmente uma das melhores maneiras de viajar no mundo pós-Covid, porque o sistema de ventilação das cabines já foi projetado para purificar o ar que circula de cima para baixo, não de frente para trás ou da esquerda para a direita”, explicou o CEO da Airbus, Guillaume Faury, em entrevista ao jornal espanhol El País.

“Durante o voo, o ar da cabine é reciclado a cada dois ou três minutos. Os nossos aviões estão equipados com os mesmos filtros utilizados nos hospitais”, garantiu Faury.

Indo ao encontro das palavras do CEO da Airbus, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) sublinhou que esse sistema de filtragem, conhecido por HEPA, captura partículas que podem conter o vírus com 99,97 por cento de eficácia.

“As evidências, embora limitadas, sugerem que o risco de transmissão de vírus a bordo de uma aeronave é baixo, mesmo sem medidas especiais”, disse o diretor executivo da IATA, Alexandre de Juniac.

O diretor administrativo da Airlines for Europe, Thomas Reynaert, também assegurou que “as companhias aéreas são experientes e sabem que existe um risco baixo de transmissão do vírus a bordo”.

Qualquer forma de distanciamento físico é desnecessária, ineficaz e simplesmente impraticável, pois o mesmo resultado desejado pode ser alcançado ao usar máscara num ambiente já desinfetado”, defendeu ainda Reynaert.

Os especialistas levantam, porém, dúvidas relativamente a esta questão. Joan Ramón Villabí, membro do conselho de administração da Sociedade Espanhola de Saúde Pública e Administração Sanitária considera que ainda existe “muita incerteza”:

“Os voos foram interrompidos porque há sinais de transmissão nos aviões. Sabemos que o vírus é transmitido por gotículas que se formam ao tossir, falar ou espirrar e que viajam até um metro de distância. A uma distância inferior a dois metros, a máscara ajuda. Além disso, a renovação do ar num avião é limitada”, argumentou Villabí, citado por El País.

Relativamente a esta questão dos lugares vagos nos voos comerciais, a União Europeia anunciou que tentará chegar a um acordo para uma regra comum na próxima quarta-feira.
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