Os habitantes de Beirute acordaram esta quarta-feira em luto e ainda abalados pelo cenário de devastação causado pelas explosões no porto da capital libanesa, que provocaram pelo menos 100 mortes e feriram milhares de pessoas. As autoridades continuam no local, descrito pela autarquia como "um cenário de guerra", e admitem que o número de vítimas venha a subir.
“É como um cenário de guerra. Estou sem palavras”, lamentou o presidente da Câmara de Beirute, Jamal Itani, à agência Reuters, depois de ter inspecionado esta quarta-feira os estragos causados pelo desastre, estimando que correspondam a milhares de milhões de dólares. “Esta é uma catástrofe para Beirute e para o Líbano”.
O elevado número de feridos levou a uma sobrelotação dos hospitais de Beirute, contou à estação LBCI a Cruz Vermelha, que está em coordenação com o Ministério libanês da Saúde para montar morgues. O Presidente do Líbano anunciou que o Governo irá disponibilizar o equivalente a 66 milhões de dólares em fundos de emergência.
Várias pessoas continuam desaparecidas. Ao longo da última noite, os locutores de rádio do país leram os nomes das pessoas que desapareceram e, na rede social Instagram, foi criada a página “Localizar vítimas de Beirute” para partilhar as fotografias dessas possíveis vítimas do desastre.
Entre os óbitos já confirmados não se encontra nenhum português, confirmou esta manhã à RTP a secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes.
“Até ao momento, não há qualquer português nem com ferimentos graves, ou ligeiros, ou qualquer fatalidade entre a comunidade portuguesa, apenas alguns danos materiais”, como foi o caso de um casal cujo apartamento ficou danificado, explicou a responsável.
Berta Nunes avançou que apenas um português que vive há cerca de um ano em Beirute e que já tinha intenções de regressar a Portugal pediu que a emissão do seu visto seja acelerada para “poder retornar o mais breve possível, dada a situação em Beirute”.
Berta Nunes avançou que apenas um português que vive há cerca de um ano em Beirute e que já tinha intenções de regressar a Portugal pediu que a emissão do seu visto seja acelerada para “poder retornar o mais breve possível, dada a situação em Beirute”.
“É inadmissível que um carregamento de nitrato de amónio, estimado em 2750 toneladas, estivesse há seis anos num armazém, sem medidas de precaução. É inaceitável e não podemos calar-nos sobre esta questão”, disse por sua vez o primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, acrescentando que “os responsáveis vão pagar o preço”.
França envia médicos e materiais de saúde
Num breve discurso transmitido pela televisão esta manhã, o chefe de Governo libanês afirmou que o país está a viver "uma verdadeira catástrofe" e voltou a pedir a ajuda de todos os países e amigos do Líbano.
A União Europeia já se disponibilizou a ajudar, lamentando esta quarta-feira as fortes explosões. "A UE expressa a sua total solidariedade e apoio às famílias das vítimas, à população e às autoridades libanesas na sequência das violentas explosões que afetaram Beirute", disse o Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, na rede social Twitter.
O Comissário Europeu para a Gestão de Crises, Janez Lenarcic, adiantou que Bruxelas está já em contacto com Beirute para enviar a ajuda necessária. "O nosso Centro de Coordenação de Resposta de Emergência está em contacto com as autoridades de proteção civil no Líbano", afirmou o comissário.
Também os Estados Unidos ofereceram ajuda, com Donald Trump a enviar "as mais sentidas condolências" para com o povo libanês. "Rezamos por todas as vítimas e as suas famílias. Os EUA estão preparados para auxiliar o Líbano. Temos uma relação muito boa com o povo do Líbano e vamos estar presentes para ajudar", assegurou o Presidente norte-americano.
França foi outro dos países que se apressaram a oferecer apoio, comprometendo-se a enviar ainda esta quarta-feira para o Líbano dois aviões de transporte militar com equipas da proteção civil e material com ajuda de emergência às vítimas das explosões.
Fontes da Presidência francesa indicaram que os dois aparelhos militares, um A400M e um MRTT, vão transportar 55 pessoas e 15 toneladas de material, assim como uma unidade sanitária que pode prestar cuidados a 500 feridos.
Segundo a agência Lusa, França vai enviar também mais uma dezena de médicos e enfermeiros especializados em situações de emergência para reforçarem os hospitais e as equipas locais.
Fontes governamentais de Paris indicaram igualmente que os militares franceses da Força de Paz das Nações Unidas no Líbano (FINUL) já estiveram no local da explosão, onde prestaram ajuda.
Também Moscovo vai enviar cinco aviões de carga com ajuda de emergência para a capital do Líbano. O ministro para as Situações de Emergência da Rússia garantiu que o país vai enviar pessoal médico, hospitais de campanha e um laboratório para testes ao SARS-CoV-2.
A Cruz Vermelha Portuguesa afirmou hoje que "não está fora de hipótese" a participação em Beirute, possibilidade que está a "ser devidamente enquadrada", mas explicou que o pedido tem de surgir da Cruz Vermelha do Líbano.
Desastre acontece entre crise económica no LíbanoA explosão em Beirute, sentida a 240 quilómetros de distância, aconteceu num período sensível para o Líbano, que vive uma crescente crise económica e divisões internas enquanto lida com os danos provocados pela pandemia de Covid-19.
Os últimos tempos têm sido marcados por manifestações nas ruas do país contra o modo como o Governo lida com aquela que é a pior crise económica desde a guerra civil de 1975-1990. Muitos culpam os políticos libaneses por se focarem nas próprias fortunas enquanto falham na realização das necessárias reformas para a resolução dos problemas do país.
O Líbano, que possui uma dívida pública de 90 mil milhões de dólares, importa a maioria da sua comida e o porto de Beirute, fundamental no armazenamento dessas importações, está agora destruído.
c/ agências