Comissão Europeia quer retoma de viagens e turismo na UE mas com restrições
Os países mais afetados pela pandemia vão demorar a abrir fronteiras e a retomar a circulação normal, mas a Comissão Europeia pretende que haja "alguma forma de turismo" na Europa no verão, embora ainda limitado. No entanto, as viagens para fora da União Europeia estão desaconselhadas, pelo menos, até ao final do ano. Quanto aos reembolsos dos voos cancelados nas últimas semanas, a UE recusa alterar as regras dos direitos passageiros.
Apesar de reconhecer que isso causa problemas de concorrência no turismo e no mercado interno da UE, a comissária europeia frisou que é necessário "considerar, primeiro que tudo, a situação sanitária".
Ainda não se sabe quando é que os países levantarão as restrições às viagens, estando as fronteiras externas e internas da UE praticamente fechadas, o que acaba por criar uma certa incerteza sobre a retoma do turismo, que deverá centrar-se, numa primeira fase, no doméstico.
Mesmo com datas diferentes, Adina Valean realçou a necessidade de haver "uma abordagem coordenada a nível europeu", razão pela qual a Comissão Europeia vai apresentar, em meados de maio, "recomendações para todos os países adotarem".
"O que podemos recomendar é que, quando se restabelecerem as viagens" sejam considerados aspetos como a "não discriminação com base na nacionalidade, isto é, assegurando que quem quiser viajar para um determinado destino consegue fazê-lo, do ponto A para o ponto B", precisou a comissária europeia.
A comissária europeia dos Transportes ressalvou, ainda, que esta é uma responsabilidade dos Estados-membros, cabendo aos países "decidir quando é seguro o suficiente para os seus cidadãos viajarem ou para receber viajantes de outros países".
"Essa foi a situação no início da crise e, por isso, tivemos de organizar vários voos para repatriar pessoas que estavam retidas em destinos afastados e que não puderam utilizar transportes para voltar", ressalvou, recomendando "cautela nesta questão".
De acordo com a informação da Comissão Europeia, disponível no `site` sobre a resposta ao novo coronavírus, existem de momento (dados de final de abril) limites às viagens internacionais em todos os países da UE, embora alguns sejam apenas parciais ou regionais.
Em Portugal, por exemplo, estão proibidas as viagens internacionais, mas existe alguma permissão para aterragem de voos europeus, nomeadamente de repatriamento, com exceção das ligações a Itália e Espanha.
Mas a 08 de abril, a Comissão Europeia convidou os Estados-membros a prolongarem esta interdição até 15 de maio, o que se mantém.
Estas restrições de viagens aplicam-se a todos os Estados-membros da UE que fazem parte do espaço Schengen, mas também a Bulgária, Croácia, Chipre e Roménia, assim como aos quatro países associados, nomeadamente Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça, num total de 30 Estados (a Irlanda tem uma derrogação).
Até à data, não existem datas para levantar estas restrições, tanto a nível europeu como para fora, mas no que toca às viagens internacionais a comissária europeia admitiu que esta é uma "situação muito complexa".
"Por um lado, sabemos que existe cooperação e troca de informação ao nível da UE sobre o que acontece em cada Estado-membro, mas para retomar as viagens internacionais teríamos de dar aos viajantes informação suficiente [sobre esses destinos] que não existe exatamente, pelo que teríamos de depender de terceiras partes", adiantou.
"Utilizar equipamentos de proteção - máscaras, em particular - deve ser uma das condições. É o mínimo que podemos fazer para nos protegermos a nós e aos outros ao pé de nós", explicou Adina Valean.
Em meios de transporte como autocarros e comboios, explica, é possível circularem "com um número mais baixo de passageiros, com indicações para as pessoas se sentarem, mantendo alguma distância entre elas, e com maior frequência".
"Aqui temos de garantir equilíbrio entre a viabilidade económica de um voo e o número de passageiros e claro que é mais difícil manter grandes distâncias, pelo que é um risco que a pessoa assume, apesar de tudo".
Quanto a uma eventual disposição de assentos vazios entre passageiros para garantir o distanciamento social, Adina Valean afastou esta medida como regra.
"Não recomendo, como norma, manter espaços livres [entre passageiros]".
Apresentando posições contra como a da transportadora Ryanair, que já veio dizer que não retoma a sua operação se tiver de voar com lugares vazios por não considerar viável economicamente uma taxa de ocupação a rondar os 60 por cento, Adina Valean afirmou que "eles têm alguma razão".
"Não devemos ser demasiado rígidos e é por isso que digo que devemos manifestar alguma flexibilidade sobre o que poderá ser aplicado, encontrando o equilíbrio certo com a viabilidade económica de um voo".
"Não estamos a inventar nada de revolucionário, mas todas as recomendações visam clarificar e proporcionar uma adoção comum por todos os Estados-membros para que as pessoas saibam o que esperar quando viajam", afirmou a comissária europeia.
Bruxelas vai ter principalmente em conta a segurança desde o ponto de partida da viagem, embora considere que cabe também "às autoridades locais do local de destino assegurar que um viajante está o mais seguro possível".
Ainda assim, "a responsabilidade não pode ser atribuída a outra pessoa do que ao próprio passageiro, pelo que não podemos transferir essa responsabilidade para as empresas ou para os aeroportos para fornecerem máscaras", argumentou Adina Valean.
Divulgadas em Diário da República, esta medida "estabelece para o transporte aéreo um limite máximo de passageiros, bem como as exceções a esse limite e respetivos requisitos, por forma a garantir a distância conveniente entre os passageiros e a garantir a sua segurança”, prevendo igualmente as exceções à regra geral de dois terços da capacidade das aeronaves, que entra em vigor já este domingo.
"Tenho conhecimento de que vários Estados-membros estão a solicitar essa mudança, mas de momento não a apoio, e incentivo antes toda a gente a tornar os `vouchers` mais atrativos para os passageiros fazerem uma escolha voluntária", afirmou a comissária europeia dos Transportes.
"Assim é a lei e assim deverá manter-se".
Estes países apelaram "à Comissão Europeia para que proponha com urgência uma alteração temporária do regulamento, [...] que permita às companhias aéreas escolher os meios de reembolso dos passageiros", considerando que a medida "constituiria uma solução para as atuais restrições de liquidez das companhias aéreas, preservando, simultaneamente, a competitividade da aviação europeia".
Insistindo que está "nas mãos dos Estados-membros e das empresas" tornar estes `vouchers` mais apelativos, a comissária europeia sugeriu que as empresas façam "ofertas atrativas" e que os Estados-membros assumam garantias contra riscos nestes vales, como perante eventuais insolvências.