Combatentes do Wagner podem entrar na UE passando por migrantes

por Inês Moreira Santos - RTP
Kuba Stezycki - Reuters

Mais de uma centena de mercenários do grupo Wagner deslocou-se em direção a Suwałki, região na Polónia perto da fronteira com a Bielorrússia. O alerta foi deixado pelo primeiro-ministro polaco este sábado, que acredita que os combatentes da força paramilitar podem estar a fazer-se passar por migrantes para conseguir entrar na União Europeia.

“Temos informações de que mais de 100 mercenários do grupo Wagner se movimentaram em direção ao corredor de Suwałki, não muito longe [da cidade bielorrussa de] Grodno. Por que motivo eles fizeram isso? Este é certamente um passo para um novo ataque híbrido em território polaco”, disse Mateusz Morawiecki num discurso numa fábrica no sul da Polónia, este sábado.

O primeiro-ministro polaco usou o termo “ataque híbrido” referindo-se às tentativas do Governo da Bielorrússia em manipular o fluxo de migrantes na região, de forma a pressionar a UE por causa das sanções contra Minsk. Além disso, as autoridades polacas acreditam a Rússia está a ajudas a Bielorrússia nesta estratégia.

O Governo de Varsóvia considera a presença de combatentes do Wagner na Bielorrússia como uma ameaça potencial. O presidente bielorrusso Alexander Lukashenko tem negado qualquer acusação sobre contribuir para uma crise migratória na Europa, atraindo possíveis migrantes para as fronteiras bielorrussas com os países da UE.

Mas Morawiecki admitiu, este sábado, que há a possibilidade de os mercenários que estão na Bielorrússia se estejam a fazer passar por migrantes ou por guardas de fronteira e, assim, a entrar na em território da União Europeia.

"Eles provavelmente estão disfarçados de guardas de fronteira bielorrussos e vão ajudando imigrantes ilegais a entrar no território polaco, e a destabilizar a Polónia, mas provavelmente também tentarão infiltrar-se na Polónia fingindo ser imigrantes ilegais e isso cria riscos adicionais", disse o governante.
Situação está a agravar
A cidade de Grodno, onde estarão pelo menos 100 soldados do grupo paramilitar, fica perto das fronteiras com a Polónia e a Lituânia.

"Agora a situação está a tornar-se ainda mais perigosa", disse na conferência de imprensa, durante a visita à fábrica de armas em Gliwice.

Morawiecki disse ainda que há registo de 16 mil tentativas de pessoas a cruzar a fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia só este ano. De acordo com a Frontex, a agência de fronteiras da UE, houve 2.312 travessias ilegais de fronteira para a UE a partir da Bielorrússia entre janeiro e junho.

Vários milhares de combatentes do grupo Wagner rumaram à Bielorrússia depois do motim que orquestraram contra o Kremlin em junho passado. Já na quinta-feira, o ministro polaco do Interior disse que a Polónia, a Lituânia e a Letónia podem decidir fechar as fronteiras com a Bielorrússia se houvesse incidentes que envolvessem o grupo Wagner perto dos seus territórios.

Mas na semana passada, Lukashenko garantiu que iria manter os mercenário Wagner no centro da Bielorrússia.

"Eles estão a edir para ir para oeste, para fazer uma viagem a Varsóvia", brincou Lukashenko numa conversa com o presidente russo, Vladimir Putin, citado pela BBC.

"Mas é óbvio que os vou manter no centro da Bielorrússia, como combinamos", terá dito ainda o presidente bielorrusso.
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