Coletes amarelos. Medidas de Macron vistas como "migalhas"

por Joana Raposo Santos - RTP
A maioria dos “coletes amarelos” diz ter ficado desiludida com a intervenção do Presidente Stephane Mahe - Reuters

Apesar de Emmanuel Macron ter cedido à pressão exercida pelos “coletes amarelos” e anunciado o aumento de 100 euros do salário mínimo, o Presidente francês continua a ser criticado e as suas medidas foram consideradas insuficientes. Para muitos, Macron é “o Presidente dos ricos” e as medidas anunciadas são “migalhas”.

“Macron recuou para poder saltar melhor” mais tarde, acredita Marine Le Pen, líder da extrema-direita francesa. “Ele recusa-se a admitir que o que está a ser contestado é o modelo [político] no qual é campeão”.

“É um modelo de globalização selvagem, de concorrência desleal, de livre comércio generalizado, de imigração em massa e todas as consequências sociais e culturais” que daí surgem, escreveu Le Pen no Twitter.


Já o vice-presidente do partido da União Nacional de Le Pen, Steeve Briois, considera que “a classe média e os desempregados, isto é, grande parte dos franceses, foram esquecidos no discurso de Macron”.

Nicolas Dupont-Aignan, também da extrema-direita francesa, viu as medidas de Macron como “um grande número de teatro” presidencial. “Ele continuará a seguir a mesma política, ofereceu apenas uns pequenos presentes com embrulhos coloridos”, declarou. “E seguir a mesma política significa continuar a roubar aos franceses que trabalham”.

Bruno Retailleau, membro do Senado francês pelo partido Os Republicanos, reconheceu que o Presidente tomou medidas “justas”, mas lamentou que não tenha sabido lidar com outras questões fundamentais. “Não pode haver cortes nos impostos se não houver uma redução dos gastos públicos”, afirmou.

Eric Ciotti, deputado dos Republicanos, considera que Macron “se contentou em dar algumas migalhas aos franceses descontentes”, conforme relata o diário francês Le Monde.
“Presidente dos ricos”
Não foi apenas a direita política a criticar o discurso de Macron. Jean-Luc Mélenchon, candidato à presidência nas últimas eleições e líder do partido de esquerda "França Insubmissa", veio já denunciar um Presidente que “está enganado” e reafirmou o apoio aos manifestantes.

Mélenchon vê Macron como “o Presidente dos ricos” e acredita que “todas as medidas que anunciou serão pagas pelos contribuintes e por quem depende de rendimentos sociais”.

Houve também quem realçasse as questões que Macron não abordou no seu discurso. Benoît Hamon, ex-candidato presidencial, frisou que o Presidente francês não falou acerca da abolição do imposto sobre as fortunas nem sobre a falta de contribuição por parte de “grandes empresas poluentes” e de “bancos e acionistas”.

Yannick Jadot, líder do partido “Europa Ecologia - Os Verdes”, lamentou que Macron não tenha “abordado qualquer perspetiva para uma transição ecológica e social justa”.
Um Presidente “à altura”
Para Richard Ferrand, atual presidente do partido do Governo "República em Marcha", fundado por Macron em 2016, “as decisões imediatas e as perspetivas futuras respondem às expetativas e questões levantadas pelos ‘coletes amarelos’”.As medidas de Macron ganharam aprovação geral pela maioria no Governo.

Vários deputados do "República em Marcha" afirmaram ter ficado tranquilizados pela amplitude das medidas apresentadas e consideram que estas “mudarão claramente as vidas das pessoas”.

“As medidas são tangíveis e respondem às exigências salariais e à questão do poder de compra, demonstrando que o Presidente entendeu o descontentamento sentido nas últimas semanas”, afirmou Bruno Questel, também ele do partido de Macron. “A partir de agora haverá condições para um debate pacífico”, acredita.
“Não é o meu Presidente”
A maioria dos “coletes amarelos” diz ter ficado desiludida com a intervenção do Presidente e garante que os protestos nas ruas por todo o país vão continuar no sábado.

“Não vou ouvi-lo mais, ele não é o meu Presidente”, garantiu um dos manifestantes, realçando o descontentamento por Macron ter “esperado um mês” para se dirigir aos “coletes amarelos”.

“A lei deve estabelecer uma distribuição justa dos lucros: um terço para os acionistas, um terço para o investimento e um terço para os salários”, defendeu outro dos manifestantes.

“O movimento continua, o que ele disse não nos convenceu”, avançou Emiline Gobilot, do movimento “coletes amarelos”. “Não apresentou medidas suficientes, e as que apresentou, no final de contas não são reais pois não foram votadas pela Assembleia”.

O Presidente francês anunciou, na segunda-feira, um aumento de 100 euros do salário mínimo, que passou para 1598,47 euros, sem custos para as empresas, tendo ainda decretado a isenção de tributação nas horas extraordinárias e o fim da Contribuição Social Generalizada para reformados que recebam menos de dois mil euros mensais.
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