Pelo menos dois grupos ligados ao movimento francês de protesto "coletes amarelos" estão a tentar dar novo ímpeto às manifestações que marcaram o início do mês de dezembro em todo o país e em especial na capital, Paris. Os protestos coincidem com o anúncio da subida das portagens já a partir de fevereiro.
Nas redes sociais, após um fim de ano marcado pelo abrandamento da mobilização, os "coletes amarelos" tentam recuperar força já este sábado, com encontros em "locais simbólicos" das cidades francesas.
Chamam-lhe a VIII, a oitava, referindo-se à continuidade com as outras sete jornadas de protesto, sempre aos sábados.
Um dos líderes mais mediáticos, Eric Drouet, foi interpelado quarta-feira passada em Paris perto dos Campos Elísios. A sua detenção causou indignação entre os partidos da oposição, tanto à direita como à esquerda.
Drouet foi entretanto libertado mas a sua prisão está a servir o próprio movimento de protesto, que a vê como um sinal dissuasor por parte das autoridades, para evitar manifestações não declaradas.
Duas marchas de protesto
Diante "desta repressão", o coletivo "França em cólera" sugeriu aos seus simpatizantes que dispam os seus coletes amarelos para "irem para as ruas, nas praças, como os simples cidadãos que são."
O coletivo, constituído em torno de duas figuras do movimento, o próprio Eric Drouet e Priscillia Ludosky, marcou junto da Prefeitura de Paris, uma manifestação na praça de L'Hotel-de-Ville até à Assembleia Nacional.
A Prefeitura recebeu ainda outra declaração de manifestação, esta tendo início nos Campos Elísios, seguindo-se uma marcha até à praça da Bolsa.
Estão ainda previstas para domingo marchas de "mulheres coletes-amarelos". As organizadoras afirmam-se na sua página de Facebook como "complementares e solidárias com os homens", prometendo uma "ação de grande impacto". "Não é uma luta feminista mas feminina", lê-se ainda no texto da apresentação.
"Fúria vai tornar-se ódio"
Até ao meio dia desta sexta-feira, menos de mil pessoas tinham confirmado a sua participação no evento de Facebook marcado pelo "França em cólera". Sábado, os organizadores esperam ler em público uma "carta aberta cidadã", já difundida desde quinta-feira à noite, em resposta ao discurso de fim de ano do Presidente francês, Emmanuel Macron, dia 31 de dezembro.
"A fúria vai transformar-se em ódio se vocês continuarem, do vosso pedestal, vocês e os vossos pares, a considerar o pequeno povo como bronco", avisam na carta.
"Mudem de atitude e acolham-nos à volta da mesa para conversar", acrescentam, rejeitando implicitamente o grande debate nacional proposto por Macron, o qual consideram uma "armadilha política".
"Nós não nos resignamos" e "nós iremos mais longe", promete ainda o coletivo. "Não pensem que estão acima das leis e da vontade do povo de França", afirmam, lembrando a revolução ucraniana de 2013-14, que derrubou o então Presidente da Ucrânia, o pró russo Viktor Ianoukovitch.
Governo denuncia "agitadores"
Esta sexta-feira, o executivo francês denunciou "os agitadores" que "querem derrubar o Governo".
O seu porta-voz, Benjamin Griveaux, afirmou à saída do primeiro conselho de ministros do ano, que o movimento agora "se tornou , para aqueles que se mantêm mobilizados, um ato de agitadores que querem uma insurreição e, no fundo, derrubar o Governo". "Não querem", acusou, "participar no grande debate nacional".
"Devemos ir sem dúvida mais longe na mudança, ser ainda mais radicais nos nossos métodos, nos nossos modos de fazer, no nosso estilo", para "ir até ao fim da vontade de mudança dos franceses, pois foi esta vontade que nos levou ao poder", acrescentou Griveaux aos jornalistas.
A 10 de dezembro de 2018, depois de semanas de protestos cada vez mais violentos, o Presidente Emmanuel Macron anunciou uma série de medidas sociais - como o aumento do salário mínimo em 100 euros por mês - e a organização de uma grande concertação nacional para reaproximar os franceses dos decisores políticos.
Na sua alocução de ano novo, Macron pareceu entretanto mais determinado em recuperar o controlo do seu mandato e no relançamento das suas reformas, muitas das quais rejeitadas pelos franceses, como as do subsídio de desemprego e o sistema de reformas.
Os níveis de aprovação do Presidente e do seu executivo estão no seu ponto mais baixo, o que não promete muito sucesso para estas medidas, tanto politica como socialmente.
Governo apreensivo
Mesmo estando aparentemente a perder força, os "coletes amarelos" conseguem manter o Governo francês à defesa.
Esta sexta-feira, a ministra dos Transportes, Elisabeth Borne, pediu "gestos comerciais" às empresas que administram as auto-estradas, em favor dos automobilistas, face ao aumento da maior parte das portagens previsto dia 1 de fevereiro próximo.
Numa reunião destinada a fazer o ponto de situação de sete semanas de protestos dos 'coletes amarelos', a ministra "apelou às concessionárias que escutem as fortes expetativas que se exprimem a favor do poder de compra e a fazer propostas à altura, no quadro das suas políticas tarifárias e comerciais", afirmou o seu gabinete, revelando que foram já "abordadas as primeiras pistas", nomeadamente para os utilizadores regulares de portagens no trajeto casa-trabalho.
As concessionárias foram das empresas mais prejudicadas pelos protestos dos 'coletes amarelos', com prejuízos devidos à operação "portagens gratuitas" e vários estragos.