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CNRT rejeita debate com Fretilin por não considerar temas apropriados

por Lusa

O CNRT, na oposição em Timor-Leste, anunciou hoje ter rejeitado uma proposta do maior partido no parlamento, a Fretilin, no Governo, para dois debates durante a campanha eleitoral por não considerar os temas apropriados.

Mari Alkatiri, secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) tinha pedido à Comissão Nacional de Eleições (CNE) para promover dois debates entre si e Xanana Gusmão, presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT).

O pedido de debate foi apresentado à CNE pelo adjunto do secretário-geral da Fretilin, Flávio Maria Guterres da Silva, numa carta de 20 de abril, a que a Lusa teve acesso.

Na carta, o responsável pede ao presidente da CNE, José Belo, que "se digne organizar dois debates políticos (...) nos primeiros 10 dias e nos últimos 10 dias da campanha", dedicados ao tema do tratado da fronteira marítima permanente com a Austrália e sobre a polémica envolvendo o navio Ro Haksolok, que estava a ser construído em Portugal.

Em resposta, numa carta enviada segunda-feira à CNE, o vice-presidente do CNRT, Tomás Cabral, confirma a rejeição de Xanana Gusmão, transcrevendo uma mensagem do líder do partido que pede desculpa, notando que "este período é de campanha do partido CNRT e nenhum debate é apropriado".

Em entrevista à Lusa, Mari Alkatiri disse que pretendia debater com Xanana Gusmão "sobre as verdades" de alguns aspetos do desenvolvimento do país desde a restauração da independência.

"A CNE não faz porque Xanana Gusmão não quer. Se Xanana Gusmão tivesse tomado a iniciativa o debate teria acontecido. Estamos em campanha e quem gere a campanha é o CNRT e o STAE [Secretariado Técnico de Administração Eleitoral] e, por isso, para o debate acontecer deve ser iniciado e organizado pela CNE", disse Mari Alkatiri.

"Quando se diz que sou traidor porque ordenei voto contra o tratado, quero provar perante o público todo que o tratado não existe, que se cometeram graves erros no tratado. E depois sobre a questão do desenvolvimento. Xanana Gusmão agora fala ao público e parece que não governou durante 15 anos. Por isso quero os debates", explicou.

Roberto Soares, coordenador de política externa do CNRT e porta-voz da campanha, defendeu hoje aos jornalistas que não são necessários mais debates sobre o tratado, já que o acordo com a Austrália foi assinado "pelo 7º Governo", que era liderado pela Fretilin, e depois "ratificado no Parlamento Nacional, onde a Fretilin votou contra a fronteira marítima e os anexos".

Mari Alkatiri tem afirmado que o partido votou contra apenas porque a fronteira foi apresentada num "pacote" conjunto com outros aspetos, incluindo o desenvolvimento dos campos petrolíferos de Greater Sunrise.

Roberto Soares disse ainda que no 6º Governo, liderado pelo CNRT, o então primeiro-ministro Rui Maria de Araújo, militante da Fretilin, "sempre convocou encontros regulares ao mais alto nível do Estado para informar sobre o processo de negociação ligado às fronteiras".

Relativamente ao barco Ro Haksolok, o CNRT considera não ser um momento oportuno para um debate já que "o assunto está a ser investigado pela Comissão Anticorrupção (CAC) e pelo Ministério Público, pelo que tem que se respeitar o segredo de justiça".

Declarando "orgulho" pela conclusão do tratado de fronteiras permanentes, Soares disse que o CNRT está "comprometido com o respeito pelo Estado de direito democrático".

"O partido CNRT apela aos militantes, simpatizantes para manterem um clima de ordem e paz durante o período da campanha eleitoral, respeitar todos os adversários políticos, para valorizar e contribuir para o processo de democracia em Timor-Leste", disse.

Roberto Soares referiu-se ainda aos primeiros dias da campanha, em particular a ataques a apoiantes do CNRT, que causaram vários feridos e alguns estragos.

"O presidente do CNRT e todo o partido expressam solidariedade máxima para com as vitímas e famílias. Apelamos a continuar a unificar a força, respeitando o processo de democratização, para que a campanha decorra bem, com normalidade", disse.

O CNRT "condena atos de indivíduos que continuem para estes incidentes, que criam instabilidade. Temos que continuar a promover valores da fraternidade humana e da solidariedade", afirmou ainda Soares.

O CNRT pediu ainda à CNE e às autoridades policiais que atuem com "imparcialidade, profissionalismo e dedicação" para controlar os comportamentos de todos os partidos, militantes e simpatizantes, durante o resto do processo eleitoral.

"Assim podem contribuir para criar um clima livre, sem intimidação, sem ameaças, e com segurança para que os cidadãos expressem a sua liberdade em âmbito de respeito dos valores e princípios do Estado de direito democrático", afirmou Soares.

 

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