CNRT e Fretilin saúdam resolução de impasse sobre funeral que suscitou protesto

por Lusa
António Sampaio - Lusa

Os partidos timorenses CNRT, de Xanana Gusmão e na oposição, e Fretilin, um dos três no Governo, saudaram hoje a resolução do impasse que se prolongou desde segunda-feira sobre o funeral de um homem que morreu com covid-19.

"Devemos congratular todas as partes envolvidas que permitiram chegar a uma decisão eficaz que permitiu resolver esta polémica", disse à Lusa Dionísio Babo, presidente da Comissão Diretiva Nacional do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT).

"Quero congratular Xanana Gusmão pela persistência e paciência neste caso, mas também o primeiro-ministro por uma decisão de bom senso", frisou.

Depois de quatro dias de impasse e de um protesto do antigo presidente Xanana Gusmão, em solidariedade com os familiares, o funeral de um homem que morreu na segunda-feira em Timor-Leste com covid-19 realizou-se hoje num cemitério de Díli.

Ao início da tarde de hoje, e mais de 80 horas depois do início do protesto, o caixão com o corpo do homem de 46 anos saiu do centro de isolamento de Vera Cruz, após ter sido preparado por equipas de saúde.

Familiares da vítima, que pediram a intervenção de Xanana Gusmão para poder realizar o funeral em Díli, em vez de ser no cemitério que o Governo pretendia, fora da cidade, entraram no centro para presenciar os preparativos finais.

A solução surgiu depois de um longo impasse com confusão sobre a competência para a decisão final, que acabou por permitir ceder a algumas das vontades da família, mantendo ainda assim o protocolo de saúde.

Babo deixou mensagens de agradecimento à equipa do Centro Integrado de Gestão de Crise (CIGC) que procurou "desde a primeira hora resolver o assunto" mostrando "sensibilidade" para o caso.

"Tentaram fazer todos os esforços, apesar de ser uma situação problemática, para ajudar a resolver a situação", considerou.

O responsável do CNRT destacou a importância das cerimónias fúnebres em Timor-Leste e como "último rito da passagem da vida", com grande significado cultural no país.

"O primeiro-ministro fez bem em pedir desculpa à família da primeira vitima que foi enterrada", disse, referindo-se ao funeral da primeira pessoa a morrer com covid-19 que foi enterrada com uma retroescavadora num cemitério fora de Díli.

"Todo o país está contente", disse, saudando Xanana Gusmão e agradecendo o apoio de vários setores que o ex-presidente da República teve durante o protesto.

Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin -- maior força do Governo timorense -- também saudou a resolução do caso, considerando que a situação mostrou que "a verdade da covid-19 é irrefutável" e que as autoridades aprenderam a necessidade de tratar os mortos "com dignidade".

Numa mensagem na sua página oficial no Facebook, o responsável da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) considera que a solução encontrada não permitiu a Xanana Gusmão vincar a sua posição de que o Centro Integrado de Gestão de Crise (CIGC) reconhecesse que "o homem não morreu de covid-19 e que devia ser entregue à família sem mais restrições".

"Isto não aconteceu. O cadáver foi devidamente tratado e blindado contra o vírus. O que saiu de carro funerário era um caixão já blindado. E o funeral foi organizado respeitando estritamente o protocolo covid", escreve.

"Por isso, a ciência prevaleceu sobre os erros e ignorâncias", sublinhou.

Alkatiri recordou, porém, a forma como o primeiro funeral ocorreu, com um protocolo que o próprio CIGC já admitiu ter sido exagerado, afirmando que os dois casos permitem aprender lições.

"Os mortos também devem ser tratados com dignidade. Porque deixam para trás os seus entes queridos com tudo aquilo que sentem - o sofrimento", refere.

"Devemos reconhecer que o primeiro funeral covid foi uma afronta a tudo isso. Mas ninguém pode continuar a dizer que em Timor-Leste não há covid-19. O erro que foi cometido no primeiro funeral não deverá nunca voltar a ser repetido", sublinha.

Alkatiri recordou o apoio que deu à ministra da Saúde, Odete Belo, militante da Fretilin, pela "coragem de enfrentar o assunto de cabeça erguida", considerando que a resolução do caso mostrou que "a ciência venceu".

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