O CNRT, de Xanana Gusmão, segunda força timorense, confia que o atual descontentamento com o Governo e os partidos que o suportam, a que se soma a crise socioeconómica, se traduzirá num maior apoio eleitoral nas próximas legislativas.
Em entrevista à Lusa Dionisio Babo, presidente da Comissão Diretiva Nacional (CDN) do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), vê nas próximas eleições uma oportunidade para mudar a gestão do país.
"Perante a situação atual, o povo começou a refletir e cresceu o sentimento de memória da governação do CNRT, quando a economia cresceu, entre 2007 e 2015. Foi o período de maior desenvolvimento do país e isso leva a população a lembrar esse momento", disse o dirigente do partido que, nos últimos meses, tem multiplicado as ações de base junto da população, a pensar no próximo ciclo eleitoral.
"Esperamos que esse sentimento se possa multiplicar, porque as pessoas começam a pensar que o CNRT foi mais positivo para o país", afirmou.
Numa entrevista à Agência Lusa, Dionísio Babo analisou o atual momento político em Timor-Leste e dentro do CNRT, numa altura em que o líder do partido, Xanana Gusmão, parece ter apoio público redobrado.
Ainda sem datas anunciadas para as eleições presidenciais de 2022 (prevê-se que sejam em março), está por anunciar o nome do candidato apoiado pelo CNRT e pelo seu líder e, igualmente, sobre o que pode acontecer em termos do atual Governo caso esse candidato vença.
"Há debates dentro e fora do partido sobre potenciais candidatos. Uma opção é de que seja Xanana Gusmão a apresentar uma ideia sobre possíveis candidatos. Outra que seja o partido a votar na conferência nacional", disse.
"O ambiente político no partido é favorável à indicação de alguém do CNRT e não ir buscar pessoas de fora", considerou.
Após as eleições, existe a possibilidade de o novo Presidente dissolver o parlamento e convocar eleições antecipadas. O CNRT tem insistido nessa posição, contestando a legitimidade do Governo e da maioria parlamentar.
Babo diz que o partido "ainda não discutiu pormenores", mas sublinha que o CNRT foi alvo "do desleixo político" dos últimos anos e que "não se pode excluir nenhuma opção".
"O partido tem a sua convicção de que este Governo está a ser gerido de uma forma fora das normas constitucionais, o Parlamento tem uma maioria, mas não foi estabelecida conforme os regimentos e não reflete o resultado eleitoral", considera.
Os partidos que compõem o governo timorense não são os mais votados das últimas legislativas.
A pensar nas próximas eleições, Babo considera que os partidos mais pequenos poderão ter maiores dificuldades, e que o CNRT "está a trabalhar para ter uma maioria absoluta, ou bem preenchida".
Crucial para os resultados, considera, será o comportamento de entre 170 e 200 mil novos eleitores, entre os quais diz existir um sentimento renovado de "estima por Xanana Gusmão".
Pela primeira vez desde que foi formado, o CNRT está em oposição o que, como admite Dionísio Babo, permite construir e consolidar as estruturas de vários níveis em todo o país, antes da importante Conferência Nacional, prevista para o último trimestre deste ano.
Por isso, as estruturas do partido já realizaram as primeiras conferências a níveis de aldeias e sucos, querendo agora acelerar as reuniões a nível de postos administrativos e municípios.
"Quando o CNRT estava na governação, as estruturas funcionavam, mas não estavam muito ativas. Inclusive porque algumas das pessoas acabaram por ocupar funções governativas e administrativas", explicou.
"Sentia-se essa lacuna de estruturas, e em 2017, apesar de o CNRT estar a governar, não conseguiu ser o partido mais votado", recordou.
O partido acabaria por vencer as eleições antecipadas de 2018, na altura numa coligação pré-eleitoral com o PLP e KHUNTO, mas essa aliança acabou por fracassar, depois de o chefe de Estado não dar posse à maioria dos membros do executivo nomeados pelo CNRT.
A tensão entre o CNRT e os parceiros de coligação acentuou-se e cresceram também algumas "diferenças de opinião internas", especialmente devido à decisão de Xanana Gusmão deixar as rédeas do executivo em Taur Matan Ruak, líder do Partido Libertação Popular (PLP), que só controla oito lugares no parlamento.
"Isso afetou muito o partido e as estruturas. Causou muita desilusão a muitas pessoas. Desilusão, desmotivação e algum sentimento de desorientação", admite Babo.
O agravamento da situação da pandemia e da crise socioeconómica do país, que "afetou os bolsos dos cidadãos" e a perceção de que o atual Governo "está quase paralisado sem projetos no terreno", estão a servir de estímulo para movimentação mais acentuada do CNRT.
"Um pouco difícil", considera, é pensar numa aliança Fretilin-CNRT, pelo menos, "até que a Fretilin faça alguma mudança interna e tenha alguém com quem o CNRT possa trabalhar", explicou, numa referência a uma eventual troca de liderança no partido, atualmente dirigido por Mari Alkatiri.
Babo considera haver "alguma desintegração dentro do Governo", aponta as dificuldades de liderança de Taur Matan Ruak por ser de um partido mais pequeno (apenas oito lugares no parlamento) e as críticas da população pela gestão da pandemia e pela situação socioeconómica do país.
"O Governo parece apostar simplesmente em como usar a pandemia para prolongar o estado de emergência e o poder em sim, e subsídios como cesta básica e outros, para poder sobreviver, com medidas populistas que não são sustentáveis", afirmou.
"Um novo governo que virá, vai ter que resolver todos estes problemas criados, este problema económico real, mas todas as leis que foram aprovadas e emendadas só para servir a sobrevivência do Governo", afirmou.