ClearSpace recebe mais 29 milhões de euros para primeira missão espacial de remoção de detritos

por Nuno Patrício - RTP
São cada vez mais os investidores privados a apostarem no projeto da ClearSpace com a ESA que pretende retirar de órbita parte de um foguete europeu da categoria Vega. Foto: ClearSpace/DR

A startup privada espacial suíça ClearSpace voltou a ter a confiança do setor privado para construir um sistema robótico que visa a remoção e eliminação de detritos espaciais em orbita terrestre.

Depois da Agência Espacial Europeia entre outros consórcios privados, que investiram cerca de 130 milhões de euros neste projecto, de acordo com o cofundador e CEO Luc Piguet, desta vez foi a empresa OTB Venture, em conjunto com a Swisscom Ventures, um braço de investimento da empresa de telecomunicações suíça Swisscom, a dar a sua confiança ao consócio privado espacial.

A OTB Venture injecta assim mais 29 milhões de euros para a construção do estágio inicial da sonda robótica espacial, servindo para apoiar a primeira missão, nesta área espacial, na remoção de detritos espaciais em 2026.

Para além destes dois novos parceiros, também a Luxembourg Future Fund (LFF), apoiado pelo governo, participa neste projeto referindo a ClearSpace a estabelecer uma presença operacional neste país.

Mas que projeto é este que demonstra tanto interesse do sector privado? No fundo é a construção de uma sonda, com quadro braços robóticos articulados, que depois de ser colocado em órbita vai capturar parte do estágio superior VESPA (VEga Secondary Payload Adapter) de um foguete, lançado em 2013, que ficou a voar na órbita baixa terrestre.

Apos a captura a sonda ClearSpace One vai levá-lo até a atmosfera terrestre, reentrar nesta e originar a destruição dos mesmos.

Fonte: ClearSpace/DR

Este projeto da ClearSpace é um passo importante para a tão desejada limpeza da orbita terrestre de detritos e objectos deixados em órbita aquando o lançamento de cargas espaciais, como satélites ou estágios de foguetes das missões espaciais.

A ideia é que futuras sondas robóticas repitam este procedimento para limpar e libertar, para já, a Órbita Baixa da Terra (OBT) para novas operações espaciais.

Créditos: ClearSpace/DR

Mais de 32 mil grandes pedaços de lixo espacial estão agora a voar na OBT
Na órbita terrestre estão quantificados 32.480 grandes pedaços de lixo, de tal forma que o seu tamanho é grande o suficiente para serem rastreados, de acordo com a Agência Espacial Europeia. Mas apesar destes enormes problemas, infelizmente são os mais de 130 milhões de objetos, com tamanho de um milímetro e que não podem ser rastreados, que reside um dos mais graves problemas no campo aerospacial.

Um pequeno parafuso que nesta região orbital terrestre, que pode facilmente viajar a velocidades superiores a 20 mil quilómetros por hora, colida com um satélite é o suficiente para inutilizar um importante instrumento de comunicações ou de investigação avaliado em vários milhares ou milhões de euros. Isto para não falar de males maiores, sendo que uma colisão de um pequeno objecto no espaço origina a criação de outros pequenos objectos, aumentando ainda mais este problema.

Representação gráfica dos milhares de detritos maiores que 1mm que existem em órbita terrrestre. Fonte: ESA/DR

Limpeza do espaço com uma aposta crescente

O entusiamo e o acreditar nesta missão da ClearSpace, que ainda não chegou á plataforma de lançamento, é tão grande que levou já a Agência Espacial do Reino Unido a colocar a startup privada na lista de finalistas para uma nova missão que visa remover dois satélites, instalados na orbita baixa terrestre (OBT), em 2026. Mas na corrida está também a startup japonesa de manutenção em órbita Astroscale é a outra candidata a este contrato.

Embora este projeto esteja ainda em fase de desenvolvimento a startup ClearSpace regista já algumas receitas e patrocinios associadas à missão ClearSpace One, como por exemplo a empresa relojoeira suíça de luxo Omega.

ClearSpace, Astroscale e outros veem uma demanda crescente por serviços que possam reduzir os detritos que ameaçam as operações em órbitas próximas à Terra cada vez mais congestionadas.

Recentemente a ClearSpace anunciou também outros projetos espaciais, como por exemplo a extensão da vida útil de um satélite Intelsat, antes que fique sem combustível em órbita geoestacionária por volta de 2026-2028.
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