Claudine Gay. Reitora de Harvard demite-se após suspeitas de plágio e anti-semitismo

por Graça Andrade Ramos - RTP
Claudine Gay, primeira reitora negra da Universidade de Harvard, EUA Brian Snyder - Reuters

A presidente de Harvard anunciou a demissão esta terça-feira, após semanas de polémica em torno da sua reação aos protestos anti-israelitas nos campus da universidade norte-americana, que a levou mesmo a ser questionada por congressistas.

Claudine Gay é ainda suspeita de ter plagiado conteúdos dos seus trabalhos universitários.

"É com o coração pesado mas com um amor profundo por Harvard que vos escrevo a anunciar que vou abandonar o meu cargo de reitora", escreveu Gay, de 53 anos, numa carta de demissão publicada terça-feira.

Na missiva, Claudie Gay considerou que "foi complicado ver a dúvida pairar sobre os meus compromissos para enfrentar o ódio e a respeitar o rigor académico" e que foi "assustador ser objeto de ataques pessoas e de ameaças alimentadas pelo racismo".

Mais de 70 congressistas, incluindo dois democratas, assim como antigos estudantes e doadores renomados de Harvard haviam exigido nas últimas semanas a remoção de Gay. A comunidade educativa de Harvard apoiou contudo a sua presidente que se manteve em funções até hoje.

A direção da Universidade de Harvard, que aceitou o pedido de demissão, saudou a sua "notável resiliência face aos ataques contínuos e profundamente pessoais".

"Se uma parte deste assunto se desenrolou de forma pública, uma grande parte assumiu a forma de ataques imundos e nalguns casos racistas contra ela, através de emails e de chamadas telefónicas vergonhosas", referiu a instituição em comunicado.
Assédio definido "pelo contexto"
A presidente, professora de ciências políticas, tinha tomado posse em julho, tornando-se a primeira reitora negra da universidade de Harvard, situada perto da cidade de Boston, na Costa Leste dos Estados Unidos da América.

Algumas alas conservadoras contestaram desde logo a sua escolha, citando suspeitas de plágio. A controvérsia agravou-se com as respostas dadas pela reitora quando questionada sobre o anti-semitismo revelado nos campus de várias universidades a partir de outubro, em resposta às operações militares de Israel, na Faixa de Gaza, contra o grupo terrorista palestiniano Hamas, coordenador de uma invasão de Israel e de um ataque a civis que a 7 de outubro fez 1200 mortos israelitas.

Milhares de estudantes, de Harvard e de outras instituições de ensino superior, reproduziram, em diversas ações e sem qualquer oposição por parte das autoridades universitárias, as teses políticas palestinianas contra Israel. Alunos e docentes que discordavam destas opiniões assumiram nas redes sociais ter-se sentido perseguidos e amedrontados pelo clima assim gerado. Além de Gay foram questionadas também as responsáveis da Universidade da Pensilvânia e do IMT, o Instituto de Tecnologia do Massachussets, Elizabeth Magill e Sally Kornbluth.

Gay foi acusada de pouco ou nada fazer para garantir a segurança de professores e de alunos judeus da universidade, tendo sido objeto de uma audição no Congresso que durou cerca de cinco horas.

A representante republicana Elise Stefanik chegou na ocasião a considerar os apelos à "intifada", registados nos protestos, uma incitação a "um genocídio contra os judeus em Israel e no mundo".

Quando Stefanik perguntou se "apelar ao genocídio de judeus violava as regras de Harvard sobre o assédio, sim ou não?", Claudine Gay admitiu que "isso pode ser assim, em função do contexto", antes de acrescentar "se se dirigir contra uma pessoa".

"Se o discurso passar aos atos, pode tornar-se assédio", respondeu igualmente Magill, à mesma questão. "É uma decisão que depende do contexto".
Segunda demissão
As respostas tornaram-se virais de levaram mesmo a uma reação da Casa Branca, que, através de um dos seus porta-vozes, Andrew Bates, considerou "incrível que tenha de ser dito que os apelos ao genocídio são monstruosos".

Nascida em Nova Iorque, no seio de uma família de imigrantes do Haiti, Claudine Gay tornou-se detentora da presidência mais curta da universidade de Harvard, desde a sua fundação em 1636.

Elise Stefanik considerou contudo na rede social X que esta demissão pecou por ser "muito tardia", considerando-a também "o início do que irá ser o maior escândalo de toda a universidade na história".

Gay é a segunda reitora da Ivy League, que reúne as oito universidades de elite norte-americanas, a demitir-se, seguindo o exemplo de Elizabeth Magill, reitora da Universidade da Pensilvânia, que deixou o cargo fortemente pressionada.

À polémica sobre a resposta das reitoras aos protestos dos alunos, juntaram-se ainda, nos meses recentes, suspeitas de que financiamentos particulares poderão estar na origem da grave deriva anti-semita recentemente revelada nos campus universitários dos EUA.
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