"Clara ameaça ao Estado democrático". General detido após golpe de Estado falhado na Bolívia

por Joana Raposo Santos - RTP
A tensão tem vindo a aumentar na Bolívia na altura que antecede as eleições gerais de 2025. Foto: Claudia Morales - Reuters

As forças armadas da Bolívia retiraram-se do palácio presidencial de La Paz na quarta-feira e um general foi detido, depois de o presidente Luis Arce ter denunciado uma tentativa de "golpe" contra o Governo. Nove pessoas ficaram feridas neste episódio, que está a merecer condenação de vários líderes internacionais.

Logo ao início do dia, unidades militares lideradas pelo general Juan José Zúñiga, que foi recentemente destituído, reuniram-se na praça Murillo, onde se encontra o palácio presidencial e o Congresso.

Segundo uma testemunha ouvida pela Reuters, um veículo blindado mandou abaixo uma porta do palácio presidencial e os soldados entraram no edifício.

"Hoje o país enfrenta uma tentativa de golpe de Estado. Hoje o país enfrenta, mais uma vez, os interesses de quem pretende que a democracia na Bolívia seja interrompida", declarou o presidente Luis Arce na quarta-feira no palácio presidencial, com soldados armados no exterior.

"O povo boliviano é hoje convocado. Precisamos que se organize e mobilize contra o golpe de Estado, em favor da democracia", acrescentou.

Poucas horas depois, ainda segundo a agência Reuters, os soldados retiraram-se da praça e a polícia assumiu o controlo do local. As autoridades bolivianas acabaram por deter o general Juan José Zúñiga.

Este general foi entretanto substituído por José Wilson Sanchez, que apelou à calma e ao restabelecimento da ordem. “Ordeno que todo o pessoal mobilizado nas ruas regresse às suas unidades”, declarou. “Pedimos que o sangue dos nossos soldados não seja derramado”.
“Parem de destruir o nosso país”
A tensão tem vindo a aumentar na Bolívia na altura que antecede as eleições gerais de 2025, nas quais o ex-presidente Evo Morales planeia concorrer contra o antigo aliado e atual presidente Luis Arce, criando uma divisão no partido Movimento ao Socialismo.

Muitos bolivianos dizem não querer o regresso de Morales, que governou entre 2006 e 2019, altura em que foi deposto após protestos e substituído por um governo conservador interino. Arce acabou por vencer as eleições em 2020.

O general Zúñiga, que agora terá organizado o golpe de Estado, disse recentemente que Morales não deveria poder regressar como presidente e ameaçou bloqueá-lo se o tentasse fazer, o que levou Luis Arce a destituí-lo do seu cargo.

Antes do ataque ao palácio presidencial, Zúñiga dirigiu-se aos jornalistas na praça e alertou para o descontentamento crescente no país, que tem lutado contra uma recessão económica perante as reservas esgotadas do banco central e a pressão sobre a moeda boliviana.

“Parem de destruir e de empobrecer o nosso país, parem de humilhar o nosso exército”, exigiu o general, pedindo ainda a nomeação de um novo gabinete de ministros.
Condenação internacional
Os Estados Unidos já reagiram à situação na Bolívia, garantindo estar a vigiar de perto a situação e pedindo contenção e calma.

Também o México se mostrou solidário. “Expressamos a mais forte condenação à tentativa de golpe de Estado na Bolívia. Apoiamos totalmente o presidente Luis Arce”, escreveu o presidente mexicano, Lopez Obrador, na rede social X.

Do Brasil veio o alerta para uma “clara ameaça ao Estado democrático de Direito”.

Em Espanha, Pedro Sánchez pediu respeito pela democracia e, em Portugal, a líder bloquista Mariana Mortágua manifestou solidariedade com o povo da Bolívia.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, também declarou que a União Europeia “condena qualquer tentativa de minar a ordem constitucional na Bolívia”. Já Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, disse apoiar a democracia e o povo bolivianos.

c/ agências
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