As forças turcas e os combatentes aliados do Exército Livre da Síria, ELS, conquistaram várias cidades e vilas em torno de Afrin, durante o dia de domingo, numa ofensiva que apanhou os combatentes curdos das milícias do povo, as YPG, de surpresa.
"Há pessoas que dizem querer ajudar as YPG contra o ELS e os turcos e por isso ofereceram-se como escudos humanos - uma proposta que foi aceite pelas YPG. E não são só pessoas das áreas curdas que estão a ir para lá. Estamos também a receber informações de grupos de mulheres, de grupos socialistas que estão a disponibilizar os seus serviços - para se colocarem entre o ELS e os turcos e as YPG", afirmou Alan Fisher, repórter da televisão do Qatar, al Jazeera.
"O que os curdos dizem com este 'escudo humano' é desafiamo-vos a considerar a questão humanitária".
A Turquia lançou a 20 de janeiro uma ofensiva armada aérea e terrestre no norte da Síria, contra as milícias curdas sírias YPG, que acusa de serem uma extensão do PKK, o movimento armado curdo da Turquia, que combate há três décadas a hegemonia de Ancara e que esta considera "terrorista".
Um milhão de refugiados em Afrin
Depois de semanas de combates, o exército curdo e o ELS avançaram domingo até às portas de Afrin. "A velocidade do assalto apanhou todos de surpresa", refere Alan Fisher.
Nas últimas 48 horas a cidade foi bombardeada por aviões turcos, o abastecimento de água foi cortado e a internet interrompida.
No sábado, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan disse que as suas forças entrariam em Afrin dentro de dias, mas garantiu estar a demorar para planear uma estratégia que evitasse o máximo de vítimas civis, por razões humanitárias.
Domingo, referiu que as suas forças e dos seus aliados do ELS estavam a a penas cinco quilómetros da cidade.
Mais de um milhão de pessoas estão concentradas na cidade e nas aldeias limítrofes de Afrin, depois de fugir dos combates, afirma o Observatório Sírio dos Direitos Humanos.
"Estamos a ter informações de pessoas de dentro da própria cidade de que há quatro a cinco famílias em cada casa, devido ao número de pessoas que procuraram ali refúgio", diz Fisher.
Pedido de auxílio
O Presidente turco diz que a ofensiva das suas tropas permitiu dominar 950 quilómetros quadrados de território sírio controlado pelas YPG. O obejtivo d ofensiva, esclareceu, não é "ocupar" mas sim "libertar" e depois devolver a área aos residentes.
"Na zona de Afrin, os donos das terras começaram a regressar", afirmou. Acusou ainda as forças aliadas da NATO de nada fazer para apoiarem a ofensiva.
Numa declaração enviada domingo ao Conselho de Segurança da ONU, o conselho curdo que governa Afrin na ausência de forças sirias devido à guerra civil, apelou uma resposta internacional à ofensiva turca.
"A comunidade internacional deve apoiar a resistência do povo de Afrin e acabar com o silêncio sobre estes ataques invasivos", denunciou, apelando ao estabelecimento de uma zona sem voos sobre Afrin.
O Conselho de Segurança da ONU impos há duas semanas um período de tréguas de 30 dias em toda a Síria, sobretudo devido às ofensivas do Governo sírio em Ghouta Oriental e do Governo turco em Afrin.
As tréguas não foram respeitadas por nenhum dos envolvidos e Ancara afirmou considerar que não se aplicavam à sua intervenção.
As milícias YPG receberam apoio dos Estados Unidos na sua luta para destruir o grupo armado islamita Estado Islâmico mas ficaram isoladas desde então.
Também a Rússia, aliada de Damasco, terá autorizado a ofensiva turca no norte da Síria e Damasco enviou apenas em auxílio das YPG grupos de milícias, algumas iranianas.