As cimenteiras podem ajudar a combater os fogos e pres tar "um serviço ambiental" se substituírem os combustíveis fósseis por resíduos, nomeadamente florestais, defendeu a Comissão Científica Independente (CCI) num relatório de avaliação da co-incineração.
Os especialistas salientam que o Protocolo de Quioto e o comércio de li cenças de emissão, aliados ao aumento de preço dos combustíveis, incrementaram a prática da co-incineração, sendo esta forma de valorização energética dos resíd uos cada vez mais usada.
No relatório, divulgado hoje, a CCI lembra que a indústria cimenteira é um forte emissor de dióxido de carbono (45 por cento proveniente do combustível ), sendo por isso obrigada a adquirir licenças de emissão no âmbito do protocolo de Quioto.
"Com o início do funcionamento do mercado de carbono em virtude da apli cação do protocolo de Quito, várias fontes de energia começam a tornar-se compet itivas", salienta o documento.
A CCI sublinhou que a biomassa (resíduos florestais) pode substituir va ntajosamente o pet-coque, um produto petroquímico vulgarmente usado nas cimentei ras nacionais, com benefícios significativos na redução dos fogos, permitindo um tratamento mais adequado das florestas ao limpar o território dos resíduos flor estais.
"A recolha sistemática de biomassa poderia vir a substituir um terço ou mais da energia das cimenteiras, permitindo absorver mais de 36 por cento da bi omassa nacional disponível", diz o relatório.
A CCI argumenta ainda que se as cimenteiras estiverem dispostas a co-in cinerar RIP estão a prestar um serviço ambiental à sociedade, permitindo a valor ização energética deste tipo de resíduos com garantias ambientais e plena salvag uarda da saúde pública.
Um dos contributos de grande relevo para a imagem ambiental das cimente iras é o seu impacto favorável a nível das emissões de CO2 comparativamente aos procedimentos de eliminação de RIP em incineradoras dedicadas exclusivamente a e sse fim, usando resíduos pré-tratados como combustível, salientam os especialist as.
As estimativas apontam para que sejam produzidas anualmente em Portugal 254 mil toneladas de resíduos perigosos, que incluem por exemplo, tintas e vern izes, solventes, óleos usados, produtos da refinação do petróleo, químicos e out ros.
Face à subida do preço da energia, o uso de Resíduos Industriais Banais (RIB) como combustível alternativo tornou-se também atractivo, destaca a CCI.
As razões prendem-se com a baixa relação entre custo e valor energético e com o facto das emissões poderem não ser contabilizadas no cômputo das licenç as de dióxido de carbono previstas no âmbito do Protocolo de Quioto.
Os especialistas alertam que os problemas da incineração (emissões noci vas) resultam mais da forma como se queima do que aquilo que se queima, já que a distinção entre RIP e RIB se baseia nas suas propriedades antes da queima e não nas diferenças de emissões.
A CCI alega que a co-incineração não provoca emissões acrescidas de dio xinas ou metais pesados, nem os resultados da co-incineração de RIB são melhores que os obtidos na co-incineração de RIP.