Cimeira entre Rússia e África realiza-se sob a sombra da guerra

por Lusa

A segunda edição da cimeira Rússia/África, que começa esta quinta-feira em São Petersburgo, vai decorrer num ambiente geopolítico completamente diferente do que rodeou a primeira, em 2019, com os efeitos da invasão russa da Ucrânia a marcarem o evento.

A invasão russa marca os trabalhos de dois dias com chefes de Estado, de governo, ministros ou diplomatas, de 49 dos 55 Estados membros da União Africana, segundo Alexander Polyakov, vice-diretor do departamento de África do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.

Entre os ausentes está Cabo Verde, cujo primeiro-ministro justificou a ausência do país para não ter nenhuma ação que possa ser interpretada como apoio à invasão da Rússia à Ucrânia.

O encontro deste ano ocorre num contexto diferente, com uma importante tónica económica e alimentar, num momento em que o acordo de cereais russo e ucraniano – do qual muitos Estados africanos dependem exclusivamente – aparenta ter a continuidade ameaçada.

Em termos económicos e comerciais Moscovo não consegue assegurar a sua posição no continente, a Rússia exporta principalmente cereais, armas, produtos de extracção e energia nuclear para África. No entanto, mais de 70% de todo o comércio russo com África está concentrado em apenas quatro países - Egipto, Argélia, Marrocos e África do Sul. 

Apesar dos acordos e promessas assinados durante a cimeira de 2019, poucos foram materializados. Na Cimeira de Sochi em 2019, o presidente russo Vladimir Putin comprometeu-se a duplicar o nível do comércio russo com África em cinco anos. Em vez disso, observa-se uma queda gradual desde 2018, totalizando 30% de redução.

Por outro lado a guerra entre a Rússia e a Ucrânia pôs em evidência que o abastecimento mundial de cereais depende destes dois países, que conjuntamente representam 27% das exportações de cereais. 

Recentemente, um relatório publicado pelas Nações Unidas apresenta uma amostra de 25 países africanos que dependem das importações de trigo da Rússia ou da Ucrânia. Deste grupo, 21 importam a maior parte do seu trigo da Rússia. 

Entre 2018 e 2020, África importou 3,7 mil milhões de dólares em trigo (32% do total das importações de trigo do continente) da Rússia e outros 1,4 mil milhões de dólares da Ucrânia (12% das importações de trigo do continente).

EUA pedem a líderes africanos que confrontem Putin com crise dos cereais

O secretário de Estado norte-americano instou os líderes africanos presentes na cimeira com a Rússia a exigirem respostas sobre a crise dos cereais, que mergulhou os países mais pobres do mundo numa crise.

Antony Blinken, que se encontra de visita à Nova Zelândia, insistiu que os dirigente de África sabem que o aumento dos custos dos alimentos e a escassez de cereais e fertilizantes resultam da guerra da Rússia na Ucrânia.

"Eles sabem exatamente quem é responsável pela situação atual", disse Blinken, referindo-se aos líderes africanos, alguns dos quais ofereceram apoio tácito a Moscovo ou recusaram-se a denunciar a invasão da Ucrânia pela Rússia.

"Espero que a Rússia ouça claramente esta mensagem dos seus parceiros africanos", afirmou, citado pela agência de notícias France-Presse.

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