Cimeira. Bruxelas deverá moderar as expectativas de Kiev quanto a uma adesão rápida ao bloco
Kiev recebe esta sexta-feira a 24.ª cimeira União Europeia-Ucrânia, a primeira desde o início da ofensiva militar da Rússia. Os líderes da União Europeia deverão levar a promessa de novas sanções contra a Rússia, mas vão moderar as expectativas de Kiev em relação a uma adesão rápida ao bloco europeu.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o chefe do Conselho Europeu, Charles Michel, irão reunir-se com o presidente ucraniano para debater a guerra, novas sanções contra a Rússia e integração da Ucrânia ao mercado interno da UE.
Ao que tudo indica, segundo a agência Reuters, os líderes europeus vão ceder aos apelos de Volodymyr Zelensky e aprovar um novo pacote de sanções contra a Rússia, mas não deverão anunciar avanços quanto à entrada da Ucrânia na UE.
Em declarações feitas em Kiev, já ao lado do presidente ucraniano, Ursula von der Leyen afirmou que a UE conta adotar o décimo pacote de sanções à Rússia até 24 de fevereiro, data em que se assinala um ano desde o início da invasão da Ucrânia.
Zelensky tinha pedido mais medidas punitivas contra a Rússia por parte da UE, mas as novas sanções que serão aplicadas por Bruxelas ficarão aquém das exigências do seu Governo.
“Vemos hoje que o ritmo das sanções na Europa diminuiu um pouco”, disse Zelensky em conferência de imprensa conjunta ao lado da presidente da Comissão Europeia. “Em vez disso, o Estado terrorista aumenta o ritmo de adaptação às sanções. Isto deve ser resolvido. Acreditamos que podemos fazer isso juntos”, afirmou.
Por sua vez, von der Leyen disse que Moscovo está “a pagar um preço alto” pelas sanções ocidentais, que já fizeram a economia russa recuar uma geração. “Até 24 de fevereiro, exatamente um ano desde o início da invasão, pretendemos ter o 10º pacote de sanções em vigor”, anunciou.
Sem avanços sobre adesão à UE
No que diz respeito à adesão à UE, Kiev também poderá não receber a boa notícia que espera.
A Ucrânia procura uma adesão rápida ao bloco europeu depois de ter recebido o estatuto de candidato oficial à adesão, em junho de 2022. O presidente ucraniano disse que o seu país merecia iniciar as negociações este ano para se tornar 28º membro da UE, argumentando que seria um passo decisivo para derrotar a Rússia.
No entanto, Bruxelas tentará moderar as expectativas de Kiev, evitando declarações públicas negativas que possam enfraquecer a moral e prejudicar os esforços de Zelensky para projetar um futuro europeu para os ucranianos.
O presidente do Conselho Europeu escreveu esta sexta-feira no Twitter que Bruxelas irá apoiar a Ucrânia "em todas as etapas da sua jornada para a UE". No entanto, os 27 estão preocupados com as expectativas irrealistas de Kiev sobre a adesão à UE, depois de o primeiro-ministro ucraniano ter afirmando, no início desta semana, que o país tinha “um plano muito ambicioso para ingressar na UE nos próximos dois anos”. Apesar de o estatuto candidato concedido à Ucrânia ter sido uma decisão histórica tomada com uma velocidade sem precedentes, a entrada efetiva no bloco europeu é um processo longo e complexo e poderá levar mesmo décadas.
“Não há uma via rápida”, disse um alto diplomata da UE, citado por The Guardian, acrescentando que é “muito cedo para dizer” se a Ucrânia entrará na UE. “O caminho para qualquer país candidato é longo. A Ucrânia não é exceção aqui”, afirmou.
Os 27 têm mostrado relutância quanto à entrada de Kiev na UE, argumentando que o país não cumpre os requisitos para se tornar Estado-membro. Bruxelas tem salientado que a Ucrânia tem de implementar mais normas democráticas e restrições à corrupção antes de poder iniciar as negociações de adesão.
A presidente da Comissão Europeia elogiou o “progresso impressionante” da Ucrânia para cumprir os sete requisitos estabelecidos no parecer da comissão sobre o estatuto de candidato da Ucrânia. No entanto, os Estados-membros da UE continuam preocupados com a corrupção no país, que foi considerado o segundo mais corrupto da Europa em 2022.
O presidente ucraniano anunciou que estava a planear implementar reformas no governo como parte dos esforços de prosseguir com as negociações para garantir a adesão da Ucrânia à UE.
“O que é muito importante é que estamos a preparar novas reformas na Ucrânia”, disse Zelensky, citado pela Reuters. “São reformas que em muitos aspetos vão mudar as realidades sociais, jurídicas e políticas, tornando-as mais humanas, mais transparentes e mais eficazes”, acrescentou.
Na quinta-feira, a Comissão Europeia anunciou a duplicação do número de soldados ucranianos a serem treinados pela UE para 30.000 este ano, assim como um novo apoio de 25 milhões de euros para a desminagem de áreas recapturadas.
“Estamos aqui juntos para mostrar que a UE está do lado da Ucrânia mais firmemente que nunca. E para aprofundar ainda mais o nosso apoio e cooperação”, disse von der Leyen.
c/agências