Cientistas de cinco países terminam hoje uma expedição a Cabo Verde, com o registo fossilífero do último estádio interglacial no arquipélago, uma pesquisa que querem estender a todos as ilhas da Macaronésia para criar uma "rota dos fósseis".
"Todas essas ilhas têm património paleontológico, alguns deles de relevo internacional", disse à Lusa o biólogo e paleontólogo português Sérgio Ávila, que liderou uma equipa que nas últimas três semanas realizou mais uma expedição científica a Cabo Verde.
Durante 21 dias, nove investigadores dos Estados Unidos, Espanha (Canárias), Polónia, Reino Unido e Portugal desenvolveram trabalhos de campo nas ilhas do Sal, Santiago, Boa Vista e Maio, numa coordenação da CIBIO-Açores, Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos -- Açores, com sede na Universidade dos Açores.
No caso de Cabo Verde, este tipo de trabalho está a ser realizado há cerca de sete anos, e já foram detetados campos de megablocos, associados a megatsunamis gerados pelo colapso lateral de edifícios vulcânicos.
Sérgio Ávila afirmou que já foram recolhidas "informações importantes" sobre a geologia de praticamente todas as oito ilhas do país com registo fossilífero, que serão publicadas em revistas da especialidade.
A investigação começou há mais de 20 anos na ilha de Santa Maria, nos Açores, onde já foi realizada uma rota dos fósseis e criado o primeiro PaleoParque a nível mundial.
Além de Santa Maria, o biólogo e paleontólogo revelou que há registos de fósseis em duas ilhas na Madeira, em praticamente todas as ilhas da Canárias e em oito das 10 ilhas de Cabo Verde.
Por isso, a ideia é apresentar as produções científicas aos governos desses arquipélagos e criar "rotas dos fósseis" na Macaronésia.
"Esta experiência que nós temos de anos e anos de trabalho em Santa Maria, neste momento estamos a alargá-la, não só ao arquipélago da Madeira, em particular à ilha do Porto Santo, mas às ilhas do arquipélago das Canárias, e agora, mais recentemente, a Cabo Verde", afirmou.
"Tencionamos expandir a nossa experiência e produzir em todas estas ilhas rotas dos fósseis" e apresentar projetos para conservação e preservação desse património e sugerir a criação de museus, acrescentou.
A partir do momento em que as rotas estejam delineadas e os museus estejam construídos, Sérgio Ávila disse que os cientistas vão apresentar propostas a todos os governos para criarem paleoparques e, assim, "transformar artigos científicos em dividendos económicos".
Os cientistas vão criar ainda programas de televisão com todo o material recolhido, e ainda este ano vão entregar gratuitamente quatro episódios à RTP Açores, filmados na ilha de Santiago, e cujo objetivo é que passem nos canais de todos os outros arquipélagos.
A expedição é financiada pelo Governo Regional dos Açores, através do projeto "Base de Dados da PaleoBiodiversidade da Macaronésia", que pretende colocar online todo o património paleontológico de todas as ilhas da Macaronésia.