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Ciência comprova que os pássaros têm córtex cerebral e pensam

por Nuno Patrício - RTP
Foto: Reuters

Um estudo recente realizado na Alemanha descobriu que os pássaros e os mamíferos têm habilidades cognitivas semelhantes. O que nos leva a repensar as atitudes destes animais. A ideia de que são apenas seres vivos com funções biológicas de sobrevivência num ecossistema fechado pode não ser verdadeira.

Não são poucas as vezes em que as ações destes seres vivos nos surpreendem. Certamente por isso vários cientistas têm procurado olhar para eles de forma mais profunda.

Num estudo recente, dedicado ao comportamento das aves, um neuroanatomista e biofisiologista da Ruhr-University Bochum, Alemanha, decidiu investigar o prosencéfalo das aves  - a parte frontal do cérebro -, que controla a percepção. E comparar assim os cérebros dos mamíferos e das aves.

Os resultados sugerem que "não têm nada em comum", disse Martin Stacho, responsável pelo trabalho. "Ainda assim, pássaros e mamíferos têm muitas das mesmas habilidades cognitivas."

Observações mais atentas ao comportamento de algumas espécies provaram mesmo a existência de estímulos [acção-analise-reacção] perante determinados imprevistos. 
A inteligência faz-nos voar
A filosofia afirma que "a inteligência humana faz o homem criar e voar na sua imaginação". E se na verdade a inteligência voasse mesmo?

No dicionário a descrição para uma Ave é a de um "animal vertebrado, ovíparo, de respiração pulmonar, sangue quente, pele coberta de penas, em que os membros posteriores servem para andar e os anteriores, ou asas, para voar; tem bico córneo e desdentado (in dicionario.priberam.org)".

É uma forma, diríamos, simples para descrever as aves. Mas há pormenores que escapam a esta descrição possível de verificar num qualquer dicionário, e que só estudos ciêntíficos conseguem descortinar.
Por exemplo, quando olhamos para um pássaro, verificamos que os olhos são redondos e os cérebros do tamanha de uma noz. Apesar da reduzida dimensão, outros dois trabalhos publicados este ano sugerem que as aves têm poderes mentais surpreendentes. 

Um deles revela mesmo que parte do cérebro das aves se assemelha ao neocórtex humano, fonte da inteligência humana. O outro mostra que os corvos carniceiros ou gralha preta (Corvus corone) são ainda mais fascinantes do que os pesquisadores pensavam e podem mesmo ser capazes de algum pensamento consciente.
A gralha-preta é um dos corvídeos mais abundantes da nossa fauna. Pode ser vista em quase todos os tipos de habitats, excepto as zonas urbanizadas. Forma frequentemente pequenos bandos. Distribui-se por todo o território, embora seja relativamente rara na parte meridional do Alentejo e no Algarve. É uma espécie residente que pode ser vista durante todo o ano.
Nos humanos, o neocórtex é composto por camadas horizontais, entrelaçadas com colunas interconectadas de células nervosas, que permitem um pensamento complexo.

Julgava-se que os cérebros dos pássaros eram compostos por simples aglomerados de células nervosas. Mas usando técnicas de imagem tridimensional de luz polarizada, os neuroanatomistas examinaram mais de perto o prosencéfalo de pombos-correio e corujas e descobriram que os nervos se conectam tanto horizontalmente - como as camadas do neocórtex - como verticalmente, tal como as existentes nos cérebros humanos.
Tens mesmo um birdbrain
O termo birdbrain (cérebro de pássaro) é utilizado na comunidade como uma afirmação depreciativa.


No entanto, os pássaros, e particularmente os corvídeos (como os corvos), são tão capazes cognitivamente como os macacos ou até mesmo os grandes símios.

Por exemplo, o pálio de pássaros canoros (exóticos) e papagaios são na verdade muito mais do que simples unidades neuronais. Chegam a processar informações idênticas aos córtices dos mamíferos de tamanho equivalente.

Estudos publicados na AAAS Science revelam que o pálio do pássaro tem neurónios que representam o que ele percebe - uma marca registada da consciência.

Mas os pássaros têm experiências conscientes? Será que estão cientes do que vêem e fazem? Para descobrir isso, Andreas Nieder, neurofisiologista da Universidade alemã de Tübingen, observou os cérebros das gralhas pretas enquanto respondiam a sinais.

Conhecidos como "macacos emplumados", por causa da aparente inteligência, estes corvos têm demonstrado algum raciocínio causal. No entanto, diz Nieder, inferir a consciência de tais experiências é desafiador.

Esta equipa de cientistas investigou a parte do cérebro dos corvos carniceiros, na busca por pistas de que estas aves estão cientes do que vêem e fazem.


Primeiro treinaram corvos criados em laboratório para virar a cabeça quando lhes eram mostradas certas sequências de luzes a piscar num monitor.


A atividade cerebral, bem como as reações e movimentos dos corvos eram claras, mesmo quando as luzes eram quase imperceptíveis, sugerindo que não era simplesmente uma resposta a estímulos sensoriais.

Créditos: Current-biology/DR

Os cientistas acham que a vibração neural representa um tipo de consciência - uma representação mental do que os pássaros viram.

Scanner de luz polarizada 3D prova sinais de inteligência nas aves

Para descobrir como os cérebros dos pássaros suportam esses talentos mentais, o biofisiologista alemão Martin Stacho e os colegas examinaram fatias microscópicas de cérebros de três pombos-correio usando imagens 3D de luz polarizada. 

Esta técnica de alta resolução permitiu que analisassem os circuitos de uma região do prosencéfalo chamada pallium, considerada a mais semelhante ao neocórtex dos mamíferos.

Os cientistas compararam as imagens do pallia dos pássaros com as de ratos, macacos e córtices humanos.

A análise revelou que as fibras do pálio das aves são organizadas de maneira surpreendentemente semelhante às fibras dos córtex dos mamíferos.

Os pesquisadores também visualizaram as conexões entre neurónios no cérebro de duas espécies aviárias distantemente relacionadas: pombos e corujas. Essa neuroarquitetura - as conexões entre as estruturas, em vez das próprias estruturas - explica por que os pássaros são tão talentosos cognitivamente quanto os mamíferos, relatam na AAAScience .

Quem não se lembra das famosas e loucas aventuras da animação criada por Hanna Barbera em 1969, Stop the pigeon, onde um inteligentíssimo pombo-correio fazia as desgraças de uns caçadores de mensagens, em tempos de guerra. Muitas vezes a ficção apresenta-se como uma janela do que o futuro nos reserva.
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Mas voltando a realidade, os investigadores Stacho e Nieder acrescentam que os blocos de construção da cognição dos mamíferos e das aves podem ter estado presentes no último ancestral comum, há cerca de 320 milhões de anos.

"É claro que os cérebros dos mamíferos e das aves evoluíram de forma diferente”, diz Martin Stacho. "O que é surpreendente é como eles ainda são semelhantes nas habilidades perceptivas e cognitivas."
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