Cidades moçambicanas precisam de "mapa de risco climático"

por Lusa

Um grupo de investigadores moçambicanos está a elaborar um mapa de risco climático das cidades da Beira e Maputo e pretende estudar mais urbes vulneráveis a desastres naturais, disse hoje à Lusa o geógrafo José Langa.

O mapa é o culminar de um estudo sobre mudanças climáticas que já está em curso e que deverá estar pronto em julho.

"Há muita informação e dados dispersos sobre a geografia das zonas de risco nas cidades moçambicanas, que resultam do rescaldo que é feito logo a seguir a um evento climático, mas falta um conhecimento de pormenor sobre esses fenómenos", afirmou Langa.

O novo mapa dará detalhes físicos sobre a área concreta vulnerável e o tipo de fenómeno com maior potencial de provocar danos, explicou.

"Por exemplo, a cidade da Beira, por onde começámos o estudo, é ciclicamente sujeita a ciclones e cheias, porque está abaixo do nível do mar", e os canais de "escape de água que a cidade tinha foram ocupados por edificações", acrescentou.

Em relação à capital moçambicana, prosseguiu, o mapa climático vai permitir mostrar que as enchentes na baixa da cidade têm relação com a obstrução do sistema de drenagem nos novos bairros de Maputo, "os chamados bairros de expansão".

José Langa, docente na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), de Maputo, avançou que os investigadores também vão estudar o impacto social e ambiental das mudanças climáticas nas cidades moçambicanas, para permitir que "os tomadores de decisão desenhem políticas consentâneas com a realidade no terreno".

A pesquisa vai igualmente resultar num instrumento de simulação dos efeitos de desastres naturais em cada zona.

Depois de Beira e Maputo, os pesquisadores pretendem estudar o efeito das mudanças climáticas noutras cidades moçambicanas vulneráveis aos desastres naturais.

Os investigadores envolvidos no projeto fazem parte do Observatório Ambiental para Mudanças Climáticas (ObservA), uma entidade de pesquisa não governamental.

O Índice de Risco Climático Global, publicado em janeiro pela organização não-governamental Germanwatch, considerou Moçambique o país mais vulnerável à ocorrência de desastres naturais no mundo.

A pesquisa foi elaborada olhando para o facto de o país ter sido afetado num só ano, 2019, por dois dos maiores ciclones tropicais que já se abateram sobre o hemisfério sul, os ciclones Idai e Kenneth.

Moçambique está em plena época chuvosa e ciclónica, que ocorre entre os meses de outubro e abril, com ventos oriundos do Índico e cheias com origem nas bacias hidrográficas da África Austral.

Este ano milhares de pessoas já foram afetadas pelas intempéries.

As mais graves foram a tempestade Chalane, no final do ano, e o ciclone Eloise, em janeiro, com um balanço oficial total de 19 mortos, mas relatos de autoridades locais apontam para o dobro.

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