A Cruz Vermelha afirma que mais de 90 por cento da cidade da Beira, capital da província moçambicana de Sofala, ficou destruída após a passagem do ciclone Idai por Moçambique, Zimbabué e Malaui. As Nações Unidas admitem que o número de vítimas pode aumentar nos próximos dias uma vez que se prevê o agravamento das cheias causadas pela tempestade.
Dados da Unicef revelam que a tempestade tropical afetou mais de 1,6 milhões de pessoas que vivem nas áreas afetadas nos três países.
O ciclone atingiu a cidade da Beira, uma das maiores de Moçambique, na quinta-feira, tendo seguido depois para oeste, em direção ao Zimbabué e ao Malaui, afetando mais alguns milhares de pessoas, em particular nas zonas orientais da fronteira com Moçambique.
As autoridades dos três países alertam para o agravamento das cheias nos próximos dias devido à continuação de chuvas fortes, à saturação dos solos e às descargas de barragens.A cidade da Beira, capital provincial de Sofala e uma das principais do país, continua sem eletricidade e comunicações e está desde sábado isolada por terra devido ao corte de vários troços da estrada nacional 6, alguns dos quais arrastados pelas correntes.
A estrada nacional 6 é a espinha dorsal do centro de Moçambique e liga o porto da Beira aos países do centro da África Austral, nomeadamente ao Zimbábue.
Toda a zona urbana tem sinais de destruição causada pelo vento e chuva forte e as forças de defesa e segurança tem estado a trabalhar na desobstrução de vias.
O Presidente de Moçambique que sobrevou a zona afetada pelo ciclone frisa que os danos provocados são “muito preocupantes”.
“Está muito mal. Está pior. A situação está grave, porque continua muita população em cima das árvores e das casas”, afirmou Filipe Nyusi.
Segundo o Presidente moçambicano é necessário “reforçar o socorro daquelas pessoas e vai levar tempo, mas tem que se fazer este trabalho a todo o custo. Está difícil”.
Filipe Nyusi referiu que o país pediu apoio a vários parceiros e há meios a chegar, assim como voluntários, para socorrer a população, reconhecendo que há dificuldades em distribuir alimentos devido à falta de vias de comunicação.
O chefe de Estado encurtou no sábado uma visita oficial a Essuatini (antiga Suazilândia) e viajou diretamente para a cidade da Beira, cujo aeroporto voltou no domingo a receber voos domésticos.
Nyusi destacou membros do Governo para a capital provincial, que está parcialmente destruída, por forma a agilizarem um balanço que permita tomar decisões quanto ao apoio humanitário na reunião de terça-feira do Conselho de Ministros.
A população da província de Sofala queixa-se de ainda não ter recebido ajuda humanitária.
Adão Cuambe, correspondente da RDP África
No país, a prioridade "é resgatar as pessoas que estão por cima das árvores, por cima das casas" nas zonas alagadas que cobrem quase toda a região, frisou Rita Almeida, dirigente do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC).
Rita Almeida referiu que o socorro prestado pelo INGC e parceiros, como as agências das Nações Unidas, tem sido limitado devido à destruição das vias de acesso e falta de redes de comunicações.
As equipas montaram 28 centros de acolhimento na cidade da Beira e Dondo, as zonas mais afetadas, onde milhares de pessoas têm procurado abrigo e comida.
Não há registo de portugueses afetados
O ministro dos Negócios Estrangeiros garante que, para já, não há registo de portugueses entre os mortos ou feridos.
Augusto Santos Silva adianta, em declarações à Lusa, que o ciclone provocou “muitos estragos que também atingiram bens de portugueses”.
Na região da Beira devem residir cerca de 2.500 portugueses, de acordo com o gabinete do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas.
“Temos informações de estragos consideráveis no nosso consulado e também registo de pessoas que se dirigem ao nosso Gabinete de Emergência Consular, dando conta também de estragos nas respetivas casas e bens", afirmou Augusto Santos Silva, acrescentando que não há igualmente "informações sobre desaparecidos" entre a comunidade portuguesa.
O Consulado de Portugal na Beira tem um total de 5.600 cidadãos portugueses inscritos, mas a área de jurisdição consular é muito grande e abrange sete províncias – Sofala, Manica, Zambézia, Tete, Nampula, Niassa e Cabo Delgado.
C/ Lusa