Ciclone Chido. Centenas de pessoas poderão ter morrido em Mayotte

por Cristina Sambado - RTP
French Civil Security/Handout via Reuters

As equipas de salvamento estão a tentar encontrar sobreviventes na ilha francesa de Mayotte, depois de o território, ao largo da costa da África Oriental, ter sido atingido por um ciclone no fim de semana.

O ciclone Chido, que provocou ventos de mais de 225 km/h, arrasou povoações inteiras, afetando sobretudo os mais pobres que viviam em bairros de lata.

O número de mortos poderá atingir “perto de um milhar ou mesmo vários milhares”, avançou o principal responsável do Governo na ilha do Oceano Índico, François-Xavier Bieuville.

O autarca admitiu que era “extremamente difícil” obter um número exato agora, depois de as ilhas do Oceano Índico terem sido atingidas pelo intenso ciclone tropical no sábado, causando destruição generalizada.

No entanto, o balanço final será “muito difícil” de estabelecer, uma vez que a tradição muçulmana, bem viva em Mayotte, exige que os mortos sejam enterrados “no prazo de 24 horas”, explicou no domingo François-Xavier Bieuville.

Segundo dados do Ministério do Interior, a população ilegal da ilha ultrapassa os 100 mil habitantes - de uma população oficial de 320 mil - tornando improvável a realização de uma contagem completa dos mortos.Segundo a AFP, o ministro francês do Interior, Bruno Retailleau, desloca-se esta segunda-feira à ilha com 160 soldados e bombeiros para reforçar os 110 que já se encontram no local.

As autoridades francesas informaram que estão a decorrer operações marítimas e aéreas para transportar material e equipamento de socorro, depois de o ciclone Chido ter atingido as ilhas com ventos de mais de 200 km/h.

“Os primeiros aviões de intervenção chegaram a Mayotte para prestar ajuda de emergência face aos danos causados pelo ciclone. O Estado está totalmente mobilizado para apoiar os habitantes de Mayotte nesta provação”, afirmou Nicolas Daragon, ministro francês da Segurança Interna, na rede social X.

A extensão das vítimas e dos danos físicos nas ilhas, que se situam entre Madagáscar e Moçambique, não é clara.

As autoridades também estabeleceram uma ponte aérea entre Mayotte e a Ilha da Reunião, outro território ultramarino francês do outro lado de Madagáscar, disse Sebastien Lecornu, o ministro francês da Defesa.

“Para o alojamento dos serviços de emergência, três estruturas com capacidade para 150 pessoas estão no local, estando uma outra a caminho”, acrescentou Lecornu no X ao fim do dia de domingo, acrescentando que estavam também a ser fornecidas rações militares e geradores.

O ciclone Chido foi o mais forte a atingir Mayotte em mais de 90 anos, segundo o serviço meteorológico francês, Meteo France. No domingo, os residentes compararam o cenário a um apocalipse nuclear.

Mayotte, no sudeste do Oceano Índico, ao largo da costa de África, é a ilha mais pobre de França e o território mais pobre da União Europeia. Os destroços de centenas de casas improvisadas estavam espalhados pelas encostas, os coqueiros tinham caído sobre os telhados dos edifícios e os corredores dos hospitais estavam inundados, de acordo com imagens dos meios de comunicação locais e da gendarmaria francesa.

O Chido atravessou o sudeste do Oceano Índico na sexta-feira e no sábado, atingindo também as ilhas vizinhas de Comores e Madagáscar. As autoridades das Comores afirmaram que 11 pescadores que saíram para o mar no início desta semana estavam desaparecidos.
Sistema de saúde ficou muito degradado
A situação do sistema de saúde no arquipélago francês de Mayotte está "muito degradada com um hospital muito destruído e centros médicos igualmente inoperantes", disse esta segunda-feira a ministra da Saúde de França.

"O hospital sofreu danos significativos de água e também degradação, nomeadamente nas áreas de cirurgia, reanimação, urgência, maternidade, partes essenciais do funcionamento do hospital", descreveu Geneviève Darrieussecq.

Em declarações ao canal França 2, a ministra da Saúde e Solidariedade francesa mostrou-se preocupada com a situação, mas garantiu que o equipamento continua a funcionar.

"Apesar de tudo [o hospital] continua a funcionar ainda que de forma precária", disse a governante que também descreveu a existência de "centros médicos igualmente inoperantes".

Situada a cerca de oito mil quilómetros de Paris, Mayotte é um destino importante para os imigrantes sem documentos da vizinha Comores. É significativamente mais pobre do que o resto de França e há décadas que se debate com a violência de gangues e a agitação social.

Mais de três quartos da população de Mayotte vivem abaixo do limiar de pobreza francês. No início deste ano, as tensões foram alimentadas por uma escassez de água.

A França colonizou Mayotte em 1843 e anexou as quatro grandes ilhas do arquipélago das Comores em 1904. O resto do arquipélago votou a favor da independência num referendo realizado em 1974, mas Mayotte decidiu manter-se sob controlo francês.
Chido provocou três mortos em Moçambique Pelo menos três pessoas morreram no norte de Moçambique no domingo devido à passagem do ciclone Chido, que provocou ventos fortes e chuvas torrenciais que destruíram vários edifícios, segundo um balanço provisório.

O ciclone atingiu as províncias costeiras de Nampula e Cabo Delgado na madrugada de domingo, danificando edifícios e cortando a eletricidade em algumas zonas.

Duas pessoas morreram na cidade de Pemba, na província de Cabo Delgado, e uma criança de três anos foi arrastada pelo ciclone em Nampula, de acordo com a primeira contagem provisória publicada pelo Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique (INAM).

Mais de 2.800 pessoas deslocadas pelo ciclone tiveram de ser abrigadas em Pemba, acrescentou o instituto.


O instituto meteorológico tinha indicado no início do dia que o ciclone era suscetível de provocar trovoadas e ventos violentos com rajadas até 260 km por hora em certas zonas das províncias.

Mais de 250 milímetros de precipitação eram esperados em 24 horas.

c/agências
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