Após anos de especulações e de investigações, a agência de informações externas dos Estados Unidos concluiu que a misteriosa doença que tem atingido o pessoal diplomático norte-americano pode ser "explicada" por outros fatores que não a intervenção externa de Estados como a Rússia.
Os primeiros casos da alegada doença misteriosa surgiram em finais de 2016 e agosto de 2017 na capital de Cuba, e ela foi por isso batizada o nome de Síndrome de Havana.
Na altura, Washington acusou o governo cubano de estar por trás dos 22 casos registados na representação diplomática americana recém-aberta na cidade ou de, pelo menos, ser incapaz de proteger os seus diplomatas. Expulsou em retaliação 15 diplomatas cubanos.
Ao longo dos anos os casos multiplicaram-se entre espiões, diplomatas e membros das suas famílias colocados em diversas embaixadas norte-americanas de outros países. Os sintomas da síndrome incluem náuseas, perda ou lapsos de memória, vertigens e tonturas, dores de cabeça e no pescoço, assim como cansaço. Um estudo em 2020 admitiu que radiações micro-ondas poderão explicar os problemas,
A maioria dos 1000 casos detetados “podem ser razoavelmente explicados por condições médicas ou ambientais e fatores técnicos, incluindo doenças não diagnosticadas previamente”, concluiu agora o relatório interno, de acordo com o mesmo responsável da CIA.
A investigação vai prosseguir a cerca de duas dezenas de casos inexplicados, que poderão remeter para novas pistas e esclarecer o eventual envolvimento de outros Estados.
“Não afastamos o envolvimento de atores externos nestes casos” alertou a mesma fonte, sublinhando ainda que “as conclusões não questionam o facto de os nossos diplomatas estarem a reportar experiências reais e a sofrer sintomas verdadeiros”.
Em maio de 2021 a Administração Biden falava em vários casos com lesões cerebrais inexplicáveis.
Micro-ondasAs conclusões coincidem com uma pressão crescente sobre a Administração Biden para investigar os casos da síndrome detetados em embaixadas e consulados da Austrália, Áustria, Alemanha, China, Colômbia e Rússia. Recentemente, o Wall Street Journal reportou que vários casos da doença teriam sido registados também em Paris e em Genebra em 2021, tendo um diplomata americano sido retirado daquela cidade suíça para receber tratamento nos Estados Unidos.
Um estudo da Academia Nacional de Ciência dos EUA, divulgado em dezembro de 2020, apontou radiações de micro-ondas “direcionadas” como a causa provável dos sintomas de alguns casos da Síndrome de Havana em Cuba e na China. Não determinou contudo a origem do fenómeno ou se resultava de uma ação voluntária.
Ainda há uma semana, o secretário de Estado norte-americano afirmava não se saber ainda a origem da doença nem quem seriam os responsáveis prometendo contudo continuar a investigar. Antony Blinken repetiu a promessa esta quinta-feira, em Berlim, Alemanha.
“Não deixaremos pedra sob pedra enquanto não chegarmos ao fundo da questão” garantiu Blinken, numa conferência de imprensa à margem de diversas reuniões sobre a ameaça militar russa à Ucrânia.
Ao contrário da Administração Trump, o atual executivo norte-americano tem evitado referir-se aos casos de Síndrome de Havana como “ataques”.
“Vamos continuar a fazer tudo o que pudermos e usar todos os recursos disponíveis para compreender, de novo, o que se passou, porquê e quem poderá ser responsável”, afirmou Blinken. Os afetados pela síndrome irão continuar a ter os necessários cuidados de saúde, acrescentou.
Em comunicado, o diretor da CIA fez idênticas promessas. William Burns referiu que “enquanto chegámos a algumas conclusões importantes internas, não pusemos um ponto final”.
“Iremos prosseguir a missão para investigar estes incidentes e providenciar os melhores cuidados de saúde aos que deles necessitarem”, garantiu Burns.