Chuvas torrenciais e cheias afetam milhões de pessoas na China

por RTP
Reuters

Chuvas atipicamente fortes e inundações atingiram a província chinesa de Henan, rebentando as margens dos rios, sobrecarregando o sistema de transporte público e afetando dezenas de milhões de pessoas. Zhenghzou, a capital da província situada a cerca de 700 quilómetros a sudoeste de Pequim, está em alerta vermelho devido à forte precipitação, que paralisou a cidade e fez pelo menos três mortos, tendo o exército chinês alertado para o risco iminente de rutura de uma barragem no centro da China.

As chuvas torrenciais registadas nas últimas 24 horas na província de Henan, no centro da China, inundaram a capital, Zhengzhou, e obrigaram à retirada preventiva de mais de 10 mil pessoas, noticiou esta terça-feira o diário estatal "China Daily". Até ao momento, morreram pelo menos três pessoas na cidade, onde a rede de transportes públicos, como o metro, foi suspensa devido ao nível elevado da água - a água dava pela cintura dos residentes, segundo o Guardian.

Os vídeos que circulam nas redes sociais mostram ruas alagadas, avenidas que parecem rios, e mesmo carruagens de metro com passageiros lá dentro com mais de um metro e meio de altura de água. De acordo com a agência de notícias estatal Xinhua, os bombeiros estão a conseguir reduzir o nível da inundação nos túneis do metro e nas composições afetadas da linha 5 da cidade, e os viajantes estão, por agora, fora de perigo.

A grande metrópole de Zhengzhou, situada a cerca de 700 quilómetros a sudoeste de Pequim, foi colocada esta terça-feira em alerta vermelho - o mais elevado nível de alerta meteorológico na China - devido à forte precipitação. Segundo o "China Daily", mais de 144.000 pessoas foram afetadas pela chuva que em Zhengzhou atingiu uns históricos 457,5 milímetros em 24 horas, um número sem precedentes nos últimos 60 anos, desde que há registos.

A precipitação forte começou no sábado, a 17 de julho, em Henan, uma das províncias mais populosas da China com 94 milhões de habitantes. Esta terça-feira, as previsões meteorológicas chinesas esperavam novas chuvas fortes e as autoridades colocaram toda a província em alerta.

Entre as 16h00 e as 17h00 locais desta terça-feiradurante uma hora, a precipitação alcançou os 201,9 milímetros.

"Esta chuva vê-se uma vez em cem anos. A situação é desanimadora"
, indicou o centro de controlo de inundações de Zhengzhou.

Videos nas redes sociais mostram o mundialmente conhecido Templo Shaolin, conhecido pelas artes marciais, completamente inundado.
Centenas de residentes presos em Henan pediram ajuda na Internet quando as inundações provocaram um corte na eletricidade de muitas habitações.

Outras imagens partilhadas nas redes sociais mostram bairros inteiros cobertos de água e centenas de veículos a flutuar na lama. Também a televisão nacional CCTV divulgou imagens de ruas da cidade submersas por uma imensa corrente de água lamacenta, enquanto habitantes com água pelos joelhos empurravam os seus veículos pelas artérias inundadas.

"Vivi em Zhengzhou toda a minha vida e nunca vi uma tempestade tão forte como a de hoje", afirmou à AP Wang Guirong, residente na capital da província chinesa.

A imprensa local adiantou ainda que a chuva torrencial deixou vários edifícios residenciais sem água e eletricidade, além de ter obrigado ao cancelamento de 260 voos no aeroporto local.

"As fortes inundações levaram, na prática, à paralisação do trânsito rodoviário da cidade. Mais de 80 linhas de autocarro foram suspensas"
, indicou a Xinhua, acrescentando que também o serviço ferroviário foi afetado.

Segundo o Diário do Povo, o mau tempo causou o desabamento de habitações. Pelo menos uma pessoa morreu e outras duas estão desaparecidas, e a imprensa local noticiou a morte de mais duas pessoas, em consequência do desabamento de um muro, mas não há ainda qualquer balanço oficial do número de vítimas.
Barragem na China "pode ceder a qualquer momento"
O exército chinês alertou, também esta terça-feira, para o risco iminente de rutura de uma barragem no centro da China, devastado pelas chuvas torrenciais sem precedentes nos últimos 60 anos.

O comando regional do Exército Popular de Libertação explicou em comunicado que surgiu uma brecha de 20 metros na barragem de Yihetan, em Luoyang, na região de Henan, e advertiu de que "a barragem pode ceder a qualquer momento".

As chuvas torrenciais são comuns na região. Todos os verões há inundações na China, devido às chuvas sazonais, mas o impacto tem piorado ao longo das últimas décadas, em parte devido à rápida urbanização da China e à crise climática global.

Só este verão, a China já enfrentou vários eventos climatéricos extremos. Centenas de milhares de residentes na província de Sichuan tiveram de ser realocados já este mês devido a inundações e deslizamentos de terra. Em junho, a cidade de Hotan, na região do extremo oeste de Xinjiang, teve chuvas torrenciais sem precedentes.

Já no ano passado, os níveis das cheias no sudoeste do país bateram recordes, destruindo estradas e obrigando dezenas de milhares de habitantes a abandonarem as suas casas.

A Greenpeace tem alertado que o risco de eventos climáticos extremos agora é maior na China, nos centros das cidades densamente povoadas, mas que também está a aumentar nas periferias das grandes cidades por causa da rápida urbanização.

Liu Junyan, da Greenpeace International, disse à imprensa chinesa que "devido à alta concentração populacional, infraestruturas e atividade económica, a exposição e vulnerabilidade aos perigos climáticos são maiores nas áreas urbanas".

"As cidades são um importante setor de emissões globais de gases de efeito estufa, responsáveis ​​por cerca de 70 por cento das emissões totais", recordou.

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