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Chuva intensa volta a deixar Maputo debaixo de água

por Lusa

No Bairro Ferroviário, Maputo, Azarias Samuel faz contas à vida depois de a chuva intensa que cai na capital moçambicana desde a madrugada de sábado, pela segunda vez em menos de dez dias, ter levado tudo o que tinha.

"Perdi tudo, a malta não contava que ia acontecer isto", desabafou, à Lusa, o morador de 65 anos, que ainda tentou lutar contra a entrada da água em casa colocando barreiras na rua, tal como os vizinhos.

"Mas à medida que ia caindo, a água ia entrando e não conseguimos tirar nada, ficou tudo submerso. Até o carro", descreveu, enquanto observa, desolado, o grande lago que se formou nas últimas horas à volta do antigo templo da Igreja Apostólica, próximo ao que resta da sua casa.

A província de Maputo está, desde a madrugada de hoje, sob chuva intensa, com a baixa da cidade capital e diversos bairros alagados, prevendo-se que o mau tempo continue até terça-feira, segundo fonte do Instituto Nacional de Meteorologia.

"Este é o resultado da combinação entre o tempo quente que registamos nos últimos dias na zona sul do país e a humidade. Esta conjugação gerou esta instabilidade e esta queda de precipitação. O volume de precipitação esteve em torno de 150 milímetros em menos de 24 horas", declarou à Lusa Telmo Sumila, meteorologista, alertando que o cenário "vai continuar nas próximas 24 horas".

Azarias Samuel sempre viveu naquele bairro e culpa também as obras da autarquia e a falta de drenagem pelos problemas: "Tinham que fazer drenagem (...) Nunca se viveu esta situação".

Noutro ponto do mesmo bairro, tal como em outros da capital, a madrugada foi de sobressalto para Nilton Neves, de 39 anos: "Foi difícil. Muita chuva, muito difícil de passar nas vias, os quintais cheios".

Daí que defenda igualmente a necessidade de fazer obras para acabar com as dificuldades de quem vive nos subúrbios da capital.

"Precisamos de melhorar as vias das condutas das águas, para minimizar isto. Não é nada fácil", desabafa, por entre algum conformismo que quem ali mora também já sente.

"Choveu bastante. Medo não, mas em algum momento a pessoa despertava e via que a chuva não parava", admitiu.

Ruas alagadas, carros atascados e quem tem de sair de casa a caminhar por lagos que se formaram nas últimas horas é um cenário que se vê por toda a cidade este domingo.

"Foi muito complicado. Choveu tanto que algumas casas até cederam. Foram abaixo mesmo", relatou à Lusa Heraldo Eduardo, 32 anos, de outra zona do Bairro Ferroviário.

"Tem que se fazer umas obras de raiz, melhorar o saneamento e arranjar maneira de voltar as águas lá para baixo (...) É difícil, sempre que vem uma chuva, por mais pequena que seja, cria estragos aqui", atira.

Além dos subúrbios, afetados pela segunda vez em menos de dez dias, após a passagem da tempestade tropical "Filipo" pela capital, também a baixa de Maputo sofreu com a intensa chuva que cai há várias horas consecutivamente, levando a água a atingir mais de um metro de altura, alagando viaturas que ficaram para trás na estrada e edifícios.

Anube Safo, 43 anos, mora na baixa e passou a manhã de domingo a tentar desentupir a drenagem da água das chuvas junto a casa.

"A água traz a terra e o lixo fecha as cantoneiras, é preciso limpar", relatava à Lusa, por entre um trabalho que ia fazendo sozinho em plena baixa da capital.

A atual época chuvosa em Moçambique começou em outubro e já provocou a morte de um total de 135 pessoas e afetou outras 116.334, indica um relatório consultado pela Lusa na quinta-feira. Dos 135 óbitos registados desde outubro e até segunda-feira, 57 foram causados por descargas atmosféricas, 31 por cólera, 24 por afogamentos, 20 por desabamento de casas e três por ataques de animais, refere o relatório do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD).

A época das chuvas 2023/2024 causou ainda 181 feridos, a destruição total e parcial de 6.348 casas e inundação de outras 10.473, além de afetar também 652 embarcações, 26.354 hectares de culturas, 5.879 dos quais considerados perdidos.

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