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China "seriamente preocupada". Biden aprovou plano nuclear secreto focado em Pequim

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Kevin Lamarque - Reuters

O jornal New York Times revelou que o presidente norte-americano, Joe Biden, aprovou um plano estratégico nuclear confidencial que reorienta a estratégia dos EUA para se focar na rápida expansão do arsenal nuclear de Pequim. A China já reagiu, mostrando-se "seriamente preocupada" e acusando Washington de "alimentar a chamada teoria da ameaça nuclear da China".

Numa notícia publicada na terça-feira, o New York Times (NYT) revela que Joe Biden aprovou, em março, um plano estratégico nuclear altamente confidencial que, pela primeira vez, reorienta a estratégia dos EUA para se focar na rápida expansão do arsenal nuclear da China.

A mudança de estratégia, cuja palavra de ordem até agora era dissuasão e se focava maioritariamente no arsenal de Moscovo – o único país que supera os EUA em número de ogivas nucleares –, visa também preparar os EUA para potenciais desafios nucleares coordenados por parte da China, Rússia e Coreia do Norte.

A China já reagiu, mostrando-se “seriamente preocupada” com este plano nuclear secreto norte-americano.

"A China está seriamente preocupada com o relatório em questão, e os factos provaram plenamente que os Estados Unidos têm constantemente alimentado a chamada teoria da ameaça nuclear da China nos últimos anos", disse o porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning, numa conferência de imprensa esta quarta-feira.


"Os EUA estão a vender a narrativa da ameaça nuclear da China, encontrando desculpas para procurar obter vantagem estratégica", acrescentou a mesma fonte.

Segundo o NYT, a mudança de estratégia ocorre porque os EUA estão preocupados com o crescimento alarmante do arsenal nuclear chinês. O Pentágono acredita mesmo que as reservas nucleares da China competirão com a dimensão e a diversidade das dos Estados Unidos e da Rússia na próxima década. Os EUA têm consistentemente alertado para o armamento nuclear expansivo e crescente da China. Um relatório anual do Pentágono, publicado em outubro passado, afirmava que a China tinha mais de 500 ogivas nucleares operacionais no seu arsenal e poderá duplicar esse número até 2030.

Para além disso, os EUA também estão preocupados com a parceria emergente entre a China e a Rússia, bem como com as armas convencionais que a Coreia do Norte e o Irão estão a fornecer à Rússia para a guerra na Ucrânia.
EUA dizem que estratégia não é resposta a um país em particular
Questionado pelo relatório em questão, o porta-voz da Casa Branca, Sean Savett, disse à agência Reuters que a nova estratégia aprovada por Biden “não é uma resposta a nenhuma entidade, país ou ameaça em particular”.


"Esta Administração, como as quatro Administrações anteriores, emitiu uma Revisão da Postura Nuclear e Orientação de Planeamento de Emprego de Armas Nucleares. Embora o texto específico da orientação seja confidencial, a sua existência não é de forma alguma secreta”, explicou.

Segundo o NYT, a Casa Branca nunca anunciou que Joe Biden aprovou esta nova estratégia, denominada "Nuclear Employment Guidance", que é atualizada de quatro em quatro anos. No entanto, deverá ser enviada uma notificação mais detalhada e não confidencial ao Congresso antes de Biden deixar o cargo.

O documento é altamente confidencial, mas de acordo com o jornal, dois altos funcionários do Governo foram autorizados, em discursos recentes, a fazer referência à alteração da estratégia, embora de forma vaga e cuidadosa.

“O presidente emitiu recentemente uma orientação atualizada sobre o emprego de armas nucleares para ter em conta vários adversários com armas nucleares”, disse Vipin Narang, especialista em estratégia nuclear do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) que serviu no Pentágono, no início deste mês, citado pelo NYT. “E em particular”, acrescentou, a orientação sobre armas teve em conta “o aumento significativo da dimensão e da diversidade” do arsenal nuclear da China.

Também o diretor sénior do Conselho de Segurança Nacional para o controlo de armas e a não-proliferação, Pranay Vaddi, se referiu ao documento em junho. Segundo o NYT, Vaddi explicou que a nova estratégia enfatiza "a necessidade de dissuadir simultaneamente a Rússia, a RPC [República Popular da China] e a Coreia do Norte”.
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