China. PCC expulsa generais de topo acusados de corrupção

O general He Weidong, vice-presidente da Comissão Militar Central, terceiro na cadeia de comando do exército chinês e próximo do presidente Xi Jiping, foi o oficial de mais alta patente afastado devido a suspeitas de corrupção.

Graça Andrade Ramos - RTP /
O general He Weidong, vice-presidente da Comissão Militar Central e terceiro na cadeia de comando do exército chinês era tido como próximo do presidente Xi Jiping Florence Lo - Reuters

Foi a primeira vez, desde a Revolução Cultural de 1966-1976, que um general no ativo e membro da Comissão Militar Central foi expulso. 

He não era visto em público desde março, tendo estado ausente da grande parada militar realizada em Pequim, a 3 de setembro, para celebrar a vitória sobre o Japão e o fim da Segunda Guerra Mundial.

O almirante Miao Hua, antigo chefe do Estado Maior da Armada da China, foi outro dos visados. Ao todo, nove membros das forças armadas chinesas foram investigados e expulsos do Exército de Libertação Popular e do partido, anunciou o Ministério da Defesa da China. Os outros oficiais nomeados incluem He Hongjun, ex-alto funcionário do Departamento de Trabalho Político do ELP, Wang Xiubin, do Centro de Comando de Operações Conjuntas da Comissão Militar Central, o ex-comandante do Comando do Teatro Oriental, Lin Xiangyang, e dois ex-comissários políticos do Exército e da Marinha do ELP.


Muitos destes oficiais desapareceram da vida pública há vários meses.

Miao já tinha sido afastado da Comissão Militar Central em junho, depois de ter sido investigado por "graves violações de disciplina" em novembro passado.

O antigo comandante da Polícia Armada Popular, Wang Chunning, também citado no comunicado, foi afastado da legislatura nacional no mês passado, juntamente com outros três generais do ELP.
Violações "graves"

As investigações surgiram na sequência de uma campanha anticorrupção lançada pelo Presidente chinês, Xi Jinping, a qual resultou já na demissão de muitos militares e civis. O envolvimento de He Weidong e de Miao Hua na possível corrupção não tinha sido divulgado até agora.

"A Comissão de Disciplina, Inspeção e Supervisão do CMC lançou sucessivas investigações contra nove pessoas", afirmou Zhang Xiaogang, porta-voz do Ministério da Defesa, em comunicado, citando He Weidong como a primeira pessoa a ser investigada.

He, Miao e outros sete altos oficiais militares mencionados no comunicado do ministério da Defesa, "violaram gravemente a disciplina do Partido e são suspeitos de crimes graves relacionados com o dever, envolvendo uma quantia extremamente elevada de dinheiro".

Os seus crimes foram "de natureza grave, com consequências extremamente prejudiciais", acrescentou o porta-voz, considerando o seu afastamento "uma conquista significativa na campanha anticorrupção do Partido e das Forças Armadas".

A expulsão de He, de 68 anos, tem implicações que vão para além das Forças Armadas, uma vez que também fazia parte do Politburo, o segundo escalão mais alto do Partido Comunista, composto por 24 membros. Um dos dois vice-presidentes da comissão, o general He era o terceiro comandante mais poderoso do Exército de Libertação Popular sendo até agora tido como um colaborador próximo do presidente Xi Jinping, comandante-chefe do exército.

O anúncio foi feito poucos dias antes da Quarta Sessão Plenária do Comité Central do Partido Comunista, um órgão de elite com mais de 200 altos funcionários, em Pequim. 

Mais decisões pessoais, como a expulsão e a substituição de membros do Comité Central, deverão ser formalizadas na reunião.

"Xi está certamente a fazer uma limpeza geral. A remoção formal de He e de Miao significa que poderá nomear novos membros da Comissão Militar Central - que está praticamente meio vazia desde Março - na Sessão Plenária", disse Wen-Ti Sung, membro do Centro Global da China do Conselho Atlântico.
Ligação a Xi
He tinha vasta experiência operacional e laços de longa data com Xi.

A ligação ao presidente remonta aos serviços que ambos prestaram, ao mesmo tempo, nas províncias de Fujian e Zhejiang, no final da década de 1990. Xi foi vice-secretário do partido e governador da província entre 1995 e 2002.

He ingressou na Comissão Militar depois de comandar o Teatro Oriental do ELP na província de Fujian, frente a Taiwan, que será a região-chave em qualquer conflito pela ilha autónoma que Pequim reivindica como seu território.

Em 2022, He foi promovido diretamente a vice-presidente da Comissão Militar, saltando a etapa habitual de servir no Comité Central, composto por 205 membros.

O Pentágono disse que He desempenhou um papel fundamental no planeamento de exercícios de fogo real em Taiwan depois de Nancy Pelosi, então presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, ter irritado a China quando visitou Taipé em agosto de 2022.

Os exercícios foram as operações mais agressivas realizadas por Pequim contra Taiwan nos últimos anos.
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