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China impõe sanções a Pompeo e outros membros da Administração Trump

por Inês Moreira Santos - RTP
Jonathan Ernst - Reuters

Logo após a tomada de posse de Joe Biden, na quarta-feira, a China anunciou sanções a 28 responsáveis da anterior Administração de Donald Trump, incluindo o secretário de Estado Mike Pompeo, por violação da sua "soberania". Pequim afirma, no entanto, que deseja cooperar com a nova Administração democrata.

Poucas horas antes de terminar o mandato de Donald Trump, Governo chinês acusou Mike Pompeo de "mentir descaradamente" ao considerar, num documento oficial, que o regime cometeu crimes contra a Humanidade no que considera ser uma repressão e um "genocídio" dos muçulmanos uigures, na região de Xinjiang. Como forma de repúdio pela Administração Trump e as acusações de Pompeo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros anunciou sanções a vários funcionários, através de um comunicado difundido enquanto Joe Biden tomava posse.

"A China decidiu sancionar 28 pessoas que violaram gravemente a soberania" chinesa, lê-se no comunicado, onde Pequim acusa estes ex-funcionários da Administração Trump de terem minado os interesses da China e as relações com os EUA, ofendendo o povo chinês e interferindo nos assuntos internos do país asiático.

Segundo o Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Pompeo e os outros responsáveis norte-americanos "planearam, promoveram e executaram uma série de movimentos malucos, interferiram gravemente nos assuntos internos da China, minaram os interesses da China, ofenderam o povo chinês e perturbaram seriamente as relações China-EUA".

Para além de Pompeo, a diplomacia chinesa cita Peter Navarro, conselheiro para o comércio de Donald Trump, Robert O'Brien, um dos seus conselheiros para a segurança nacional, Alex Azar, ex-secretário da Saúde e Stephen Bannon, que também foi conselheiro do ex-Presidente dos EUA.

Todos os nomes desta lista tiveram fricções com Pequim em algum momento. Por exemplo, Azar tornou-se em agosto do ano passado o mais alto funcionário norte-americano a fazer uma visita oficial a Taiwan - que a China reivindica como parte da sua soberania - desde 1979, provocando um forte protesto de Pequim.

Na lista inclui-se ainda o ex-conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, e o estratega de extrema-direita Steve Bannon, a quem foi concedido um perdão presidencial pelo Presidente cessante algumas horas antes de deixar o cargo.

"Todos eles, bem como as suas famílias, não poderão entrar na China, Hong Kong e Macau, e as suas empresas e instituições ficarão impedidas de fazer negócios no país", informou ainda o ministério chinês.

Estas personalidades sancionadas e os membros das suas famílias ficam, assim, proibidos de entrar em território chinês, incluindo Hong Kong e Macau.

A China considera ainda que os políticos norte-americanos, que participaram na implementação das políticas de Trump na China, agiram sem ter em conta os interesses dos povos chinês e norte-americano enquanto pensavam apenas nos seus "interesses políticos egoístas de preconceito e ódio" contra Pequim.
China rejeita "mentiras absurdas"

A decisão de aplicar sanções contra 28 responsáveis e antigos funconários de Donald Trump foi um sinal da repúdio da China, especialmente devido às acusações de Mike Pompeo no seu último dia como Secretário de Estado.

A menos de 24 horas de Joe Biden tomar posse, Pompeo endureceu o discurso contra o regime chinês, visando de novo os principais responsáveis pelo clima de repressão na província de Xinjiang, que considerou ser um "genocídio".

"Penso que esse genocídio ainda está a acontecer e que estamos a testemunhar uma tentativa sistemática de destruir os uigures por parte do partido-Estado chinês", disse Mike Pompeo, num comunicado divulgado na terça-feira.

O ex-secretário de Estado norte-americano também se referiu a "crimes contra a humanidade" cometidos "desde pelo menos março de 2017" pelas autoridades chinesas contra uigures e "outros membros de minorias étnicas e religiosas em Xinjiang".

"Forçar homens, mulheres e crianças em campos de concentração, tentando, com efeito, reeducá-los para serem adeptos da ideologia do Partido Comunista Chinês, tudo isso indica um esforço para cometer genocídio".

De acordo com especialistas estrangeiros, mais de um milhão de uigures estão ou foram detidos em campos de reeducação política em Xinjiang (noroeste), uma região sob estreita vigilância das forças de segurança chinesas. Pequim, no entanto, diz que são centros de treinamento vocacional, destinados a dar-lhes empregos e mantê-los longe do extremismo, após uma série de ataques terroristas atribuídos a separatistas uigures e islâmicos.

Outras investigações realizadas por institutos norte-americanos, baseados em interpretações de documentos oficiais chineses, testemunhos, entre outros, também acusam a China de esterilizações e trabalhos forçados contra uigures. Acusações que o governo chinês continua a rejeitar, alegando que as suas políticas em Xinjiang visam apenas promover o desenvolvimento social e económico da região, bem como erradicar o fundamentalismo islâmico.

Na quarta-feira, a China qualificou de "mentiras absurdas e vergonhosas" as acusações do secretário de Estado norte-americano.

Esta qualificação "é apenas um pedaço de papel aos nossos olhos", disse aos jornalistas Hua Chunying, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, horas antes do fim do mandato da Administração Trump.

"Nos últimos anos, Mike Pompeo propagou inúmeras mentiras e ideias perniciosas. Esta acusação de um suposto genocídio é apenas uma das suas mentiras absurdas e flagrantes", denunciou a porta-voz.

Mas não foi só agora que Mike Pompeo provocou tensões com Pequim. Anteriormente, o ex-secretário de Estado tinha marcado a China como uma "frágil ditadura" que não pode aspirar à "liderança global" depois de um tribunal chinês ter condenado dez dos doze habitantes de Hong Kong que tentaram fugir do território para Taiwan em agosto.

"Este político norte-americano é famoso por mentir e trapaçar, está a tornar-se motivo de chacota e um palhaço", afirmou ainda Hua Chunying.

O Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros disse também que espera que "a nova Administração trabalhe em conjunto com a China no espírito de respeito mútuo, lidando adequadamente com as diferenças e conduzindo uma cooperação mais igualitária em mais setores".

"Esperamos que a nova administração dos EUA possa ter o seu próprio julgamento razoável e sereno sobre as questões de Xinjiang, entre outras questões".

Além das críticas a Pompeo, a China enviou uma mensagem potencialmente mais consequente, nesta fase, ao seu sucessor, Antony Blinken, que na terça-feira disse que Pompeo e Trump tinham agido bem em adotar uma postura rígida em relação à China nas questões relacionadas com direitos humanos.

Blinken disse na terça-feira que concordava "em termos gerais" com a abordagem da administração Trump à China, embora tenha dito que não concordava com os seus métodos.
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