China enfrenta primeira de três grandes vagas de covid-19 este inverno

por RTP
Uma estrada em Xangai deserta devido ao disparar de casos de covid-19 Reuters

A China está a enfrentar a primeira de três vagas de novos casos de covid-19 este inverno devido à súbita mudança de políticas de controlo da pandemia. Quem o afirma é o epidemologista chefe do Centro Chinês para o Controlo e Prevenção de Doenças, Wu Zunyou. Os medicamentos esgotam-se nas farmácias, ao mesmo tempo que os serviços de saúde e as agências funerárias estão sob enorme pressão.

Depois do levantamento das restrições no início deste mês, os cidadãos chineses relatam que os números de casos de covid-19 estão a disparar de forma alarmante, apesar de os dados oficiais do Governo registarem apenas dois mil casos de infeção por dia.Os especialistas acreditam que os números não traduzem a realidade vivida atualmente no país, uma vez que o alívio nas regras da política de covid zero pôs fim aos testes em massa da população.  

De acordo com um estudo do Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde (IHME), o fim abrupto das restrições rigorosas na China poderá resultar em mais de um milhão de mortes em 2023.

O Governo chinês deixou de divulgar informação sobre o número de óbitos por covid-19. Contudo, multiplicam-se os relatos de "terror" de agências funerárias e crematórios por todo o país.

De acordo com a Reuters, veem-se vários carros funerários a chegar por minuto à maior agência funerária de Pequim em Babaoshan, enquanto a área de estacionamento para carros particulares está lotada. Um funcionário da funerária em questão garantiu à agência noticiosa que "neste momento é de tal forma difícil de reservar um carro funerário que vários familiares transportam corpos com os seus próprios veículos".
Nas farmácias, esgotam-se medicamentos contra a febre, para tratamento de dores corporais e outros sintomas de covid-19, devido a uma corrida desenfreada a estes fármacos. Os testes caseiros de covid também desapareceram - os que existem são vendidos a preços altamente especulativos no mercado negro.

Também os serviços de saúde estão sob enorme pressão. De acordo com o Guardian, há denúncias de hospitais em Pequim onde cerca de 80 por cento do pessoal médico estará infetado e a ser obrigado a continuar a trabalhar.
Silêncio nas ruas
Apesar do levantamento da obrigatoriedade de testagem para andar em espaço público, as ruas das maiores cidades chinesas estão cada vez menos movimentadas e mais silenciosas, com a população a preferir permanecer em casa para se proteger do forte aumento de casos de covid-19

Wu Zunyou estima que a segunda vaga de casos seja desencadeada pelas celebrações do Ano Novo Lunar, que começam a 21 de janeiro e vão levar centenas de milhões de pessoas a viajar por todo o país, para se reunirem com os familiares de outras cidades pela primeira vez desde 2019.

O epidemologista prevê uma terceira vaga de finais de fevereiro a meados de março, depois de as pessoas terem regressado das férias para o trabalho e começarem a contagiar outros na sua zona de residência - seja nos locais de trabalho, transportes públicos ou estabelecimentos comerciais.

Zunyou disse que os casos graves diminuíram em relação aos anos anteriores, sendo que a vacinação ofereceu um grau de proteção importante. Contudo, reforçou que as autoridades estão preocupadas com a crescente resistência da população às doses de reforço da vacina e com a baixa taxa de cobertura vacinal na população idosa (apenas 40 por cento dos chineses com mais de 80 anos recebeu as duas primeiras doses).
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