A China quebrou o silêncio em relação à rebelião do Grupo Wagner na Rússia. Em comunicado publicado na noite de domingo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim minimiza os acontecimentos deste fim de semana como “assuntos internos da Rússia” e reitera o apoio a Moscovo na “manutenção da estabilidade nacional”.
Inicialmente, o Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros disse apenas que Rudenko trocou opiniões com o seu homólogo chinês sobre as relações sino-russas, bem como “questões internacionais e regionais de interesse comum”.
No domingo, a China quebrou oficialmente o seu silêncio em relação à rebelião do grupo Wagner. Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China minimiza os acontecimentos deste fim de semana como “assuntos internos da Rússia” e reitera o apoio a Pequim na “manutenção da estabilidade nacional”.
“Como vizinho amigável da Rússia e parceiro estratégico abrangente de coordenação para a nova era, a China apoia a Rússia na manutenção da estabilidade nacional e na conquista do desenvolvimento e da prosperidade”, lê-se no comunicado publicado online.
Moscovo também confirmou que os interlocutores chineses exprimiram “apoio aos esforços da liderança da Federação Russa para estabilizar a situação no país face aos acontecimentos de 24 de junho” e confirmaram “o seu interesse em fortalecer a coesão e a prosperidade da Rússia”.
Golpe para Putin ou “ilusão” do Ocidente?
Na noite de sexta-feira, o grupo paramilitar Wagner, liderado por Evgueni Prigozhin, revoltou-se contra o Ministério russo da Defesa, acusando o Exército russo de levar a cabo ataques contra acampamentos dos seus mercenários, provocando um “grande número” de vítimas.
Prigozhim declarou, por isso, o início de uma “marcha pela justiça” até Moscovo. Os paramilitares russos ficaram a 200 quilómetros de Moscovo, quando o líder do grupo Wagner ordenou o recuso das suas tropas para evitar um “banho de sangue”. Prigozhin terá chegado a acordo com o Kremlin, com a mediação da Bielorrússia, e abandonou a Rússia ao final do dia de sábado, procurando exílio político em Minsk.
Apesar de breve, a rebelião do grupo Wagner foi o mais sério desafio ao poder do presidente Vladimir Putin em 23 anos e está a ser visto como um duro golpe e uma ameaça para o regime de Putin.
Pequim considera, no entanto, que a ideia de que a revolta do grupo Wagner enfraqueceu a autoridade de Putin é uma “ilusão” do Ocidente.
Especialistas chineses, citados pelo Global Times, defendem que a rápida repressão da rebelião “mostra que o Kremlin mantém uma forte capacidade de dissuasão, o que aumentará ainda mais a sua autoridade”.
“Reprimir a revolta num período tão curto de tempo na verdade consolidou a autoridade do governo Putin, que tem pouco impacto no campo de batalha da linha de frente entre a Rússia e a Ucrânia", disse Cui Heng, investigador assistente do Centro de Estudos Russos da Universidade Normal da China Oriental, ao Global Times.
Os especialistas chineses acreditam que a retirada dos paramilitares do Wagner foi uma “escolha racional” e afirmam que o objetivo de Prigozhim era “conseguir mais atenção, especialmente de Putin, para apresentar as suas demandas, em vez de lançar um verdadeiro motim contra a liderança russa”.
No entanto, o jornalista e ex-editor do Global Times, Hu Xijin, escreveu no Twitter, antes de Prigozhim abortar a sua insurreição, que “a rebelião armada fez a situação política russa cruzar o ponto crítico”.
“Independentemente do seu resultado, a Rússia não pode voltar ao país que era antes da rebelião”, escreveu Xijin num tweet, que mais tarde foi eliminado.
“Prigozhin parou rapidamente e a rebelião foi interrompida sem derramamento de sangue, o que obviamente reduziu o impacto na autoridade de Putin, embora não para zero”, lê-se num tweet publicado este domingo.
A China e a Rússia têm mantido laços estreitos durante a invasão de Moscovo à Ucrânia, que a China se recusou a condenar.
Xi Jinping forjou uma forte relação com Vladimir Putin, com quem tem em comum uma desconfiança em relação ao Ocidente.
Nos últimos meses, Pequim tem-se apresentado como uma parte neutra no conflito entre a Rússia e a Ucrânia e procurou desempenhar o papel de mediador da paz, tendo apresentado, em fevereiro, um documento de 12 pontos com propostas para uma resolução política da crise ucraniana.