A China afirmou hoje que "não tolerará interferências" nos seus assuntos, depois de os Estados Unidos terem criticado a polícia de Hong Kong por recompensar informações capazes de levar à detenção de seis ativistas pró-democracia exilados.
"A aplicação extraterritorial da Lei de Segurança Nacional de Hong Kong está em total conformidade com o direito internacional e com as práticas internacionais", afirmou Mao Ning, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, acrescentando que se trata de um "passo necessário para preservar a soberania nacional".
"Exortamos os Estados Unidos a respeitarem plenamente a soberania da China e o sistema jurídico de Hong Kong", disse a porta-voz, numa conferência de imprensa.
Os Estados Unidos da América condenaram na quinta-feira uma "campanha de repressão transnacional em curso por parte do Governo de Hong Kong", depois de a polícia da antiga colónia britânica ter anunciado recompensas por informações que pudessem levar à detenção de seis ativistas pró-democracia exilados.
Esta medida, decidida no âmbito da lei de segurança nacional imposta por Pequim no território, é "uma forma de repressão transnacional que ameaça a soberania dos Estados Unidos e os direitos humanos e as liberdades fundamentais das pessoas em todo o mundo", reagiu Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, num comunicado.
Na terça-feira, a polícia da região semiautónoma da China anunciou uma recompensa de cerca de um milhão de dólares de Hong Kong (quase 125 mil euros) por qualquer informação que levasse à detenção destes ativistas exilados.
É a terceira vez que as autoridades deste território, devolvido à China em 1997, recorrem a uma medida do género - considerada essencialmente simbólica - ao abrigo de uma legislação adotada na sequência das maciças e por vezes violentas manifestações pró-democracia de 2019.
As ofertas de recompensa visam cinco pessoas acusadas de "incitar à secessão" e de "conluio" com um país estrangeiro, bem como o `youtuber` Victor Ho Leung-mau, de 69 anos, acusado de "subversão".
"Os Estados Unidos condenam a emissão de novos mandados de captura e recompensas para seis indivíduos pró-democracia e a anulação dos passaportes de sete outros ativistas, incluindo alguns que vivem nos Estados Unidos", afirmou o porta-voz norte-americano.
"Rejeitamos os esforços do Governo de Hong Kong para intimidar e silenciar as pessoas que escolheram os Estados Unidos como sua casa", acrescentou Miller no comunicado.
Na terça-feira, a organização Observatório dos Direitos Humanos denunciou estas medidas como "atos cobardes de intimidação", apelando ao Reino Unido e ao Canadá, onde muitos opositores estão também exilados, para que reajam.
Os dois anúncios anteriores de ofertas de recompensas por informações sobre ativistas pró-democracia em Hong Kong tinham sido condenados pelos países ocidentais, que as autoridades chinesas acusaram, em contrapartida, de ingerência.
Muitas das figuras envolvidas nos protestos de 2019 exilaram-se ou foram presas, com os tribunais de Hong Kong a condenarem ainda 45 delas a penas até 10 anos de prisão no final de novembro.
Estes "supostos ativistas pró-democracia" estão "há muito envolvidos em atividades que visam desestabilizar Hong Kong, interferir no seu desenvolvimento e perturbar a sua estabilidade social", disse hoje Mao Ning.