Nova Deli defende a decisão de organizar a cimeira do G20 dedicada ao turismo no território dos Himalaias de Jammu e Caxemira, apesar das críticas de grupos de defesa dos direitos humanos e do boicote de Pequim.
Além da China, também Arábia Saudita, Egito e Turquia ponderam boicotar o evento.
Srinagar, a capital de verão de Jammu e Caxemira, acolhe esta semana uma reunião de turismo dos membros do G20, numa iniciativa que o Governo indiano apresentou como uma oportunidade para mostrar a cultura da região.
Este é o primeiro evento internacional desta escala a ser realizado na região disputada e de maioria muçulmana desde que a Índia revogou seu status especial e dividiu o antigo Estado em dois territórios federais em 2019. Ladakh, que anteriormente fazia parte do Estado, foi separado e transformado num território autónomo.
Ladakh é uma região disputada ao longo da linha de controlo real, uma fronteira de facto entre a Índia e a China. Com os dois países reivindicam partes da região.O território de Jammu e Caxemira é apelidado de “Suíça da Índia” pelas suas montanhas cobertas de neve, prados exuberantes, jardins de túlipas e lagos.
O objetivo indiano é revelar a região dos Himalaias aos responsáveis turísticos dos países do G20, na esperança de atrair turistas para o território que, ao longo de várias décadas, tem sido perturbado por uma insurgência islâmica.
No sábado, o secretário de Estado do Turismo da Índia, Arvind Singh, afirmou que a reunião não só servirá para "mostrar o potencial turístico (de Caxemira) ", mas também para "assinalar globalmente o restabelecimento da estabilidade e da normalidade na região".
Para o Governo de Narendra Modi, a realização da cimeira do G20 em Srinagar "visa reforçar o crescimento económico, preservar o património cultural e promover o desenvolvimento sustentável da região". A reunião está a decorrer com fortes medidas de segurança.
A reunião de turismo do G20 em Srinagar faz parte de uma série de reuniões que a Índia organizou em todo o país para preparar uma cimeira em Nova Deli, em setembro.
A Índia, a maior democracia do mundo, com uma população de mais de 1,4 milhões de habitantes, tem-se esforçado por se posicionar como líder das Nações emergentes e em desenvolvimento desde que assumiu a presidência do G20.
Números do Ministério do Turismo revelaram que em 2022, um número recorde de turistas visitou Caxemira. O governo de Modi estima que a procura turística aumente e que inclua também visitantes estrangeiros.
Autoridades de Caxemira revelaram que o número de 2022 incluía apenas 20 mil visitantes estrangeiros, principalmente da Malásia, Indonésia, Coreia do Sul e Taiwan, e que o foco agora era atrair turistas da Europa.
Caxemira reivindicada por Nova Deli, Pequim e Islamabad
Em 2020, pelo menos 20 soldados indianos e quatro chineses perderem a vida em confrontos em Caxemira. Nova Deli e Pequim enviaram milhares de militares para a área, onde permanece um impasse semipermanente.
Há mais de 60 anos que as tensões ao longo da fronteira entre a Índia e a China aumentam. Em 1962, um conflito que durou um mês terminou com a vitória de Pequim e com a perda de milhares de quilómetros quadrados do território por Nova Deli.
Caxemira é um dos pontos de conflito mais perigosos no mundo. Reivindicado na sua totalidade pela Índia e Paquistão, a região montanhosa tem sido e epicentro, há mais de 70 anos, de uma luta territorial frequentemente violenta entre países vizinhos que contam com armas nucleares. Uma fronteira, designada por Linha de Controlo, divide a região entre Nova Deli e Islamabad.
A Índia declarou que a revogação da semi-autonomia de Caxemira se destinava a garantir que as leis do país fossem iguais para todos os cidadãos e a aumentar o desenvolvimento económico da região, bem como a pôr termo ao separatismo e ao terrorismo, que alegava ser apoiado pelo Paquistão.
Em abril, o Paquistão, que não é membro do G20, criticou a decisão indiana de realizar a reunião de turismo em Caxemira, qualificando-a de “irresponsável”.
c/agências