China apresenta primeira visão sistemática do ecossistema a seis mil metros abaixo do mar

por Lusa

Cientistas chineses realizaram um estudo pioneiro sobre os ecossistemas da zona hadal, localizada a mais de 6.000 metros de profundidade nos oceanos, de acordo com um artigo publicado na sexta-feira na revista científica Cell.

A investigação, parte do Projeto de Investigação Ambiental e Ecológica da Fossa das Marianas (MEER), representa o primeiro olhar sistemático sobre este ecossistema, de acordo com a publicação com revisão por pares sediada nos EUA.

A zona hadal, assim designada em homenagem a Hades, o deus do submundo, é a região mais profunda do oceano, a mais de 6000 metros, onde a luz não chega, a pressão é extrema e a vida precisa de se adaptar ao frio e à falta de recursos.

Durante a investigação foram recolhidas 1.700 amostras de sedimentos, 622 anfípodes e 11 espécies de peixes de águas profundas.

Os resultados revelaram a existência de 7.564 espécies de microrganismos procariontes, das quais 89,4% eram até então desconhecidas.

Além disso, os anfípodes, em particular a espécie Hirondellea gigas, foram identificados como tendo um papel fundamental na cadeia alimentar, enquanto os peixes de águas profundas desenvolveram mecanismos de adaptação baseados na acumulação de ácidos gordos polinsaturados em vez de TMAO, uma substância anteriormente considerada essencial para a sobrevivência em condições de alta pressão.

O estudo, conduzido pela Universidade Jiao Tong de Xangai, pelo Instituto de Ciência e Tecnologia de Águas Profundas da Academia Chinesa de Ciências e pelo BGI Group, incluiu explorações na Fossa das Marianas, na Fossa de Yap e na Bacia das Filipinas, com o apoio do submersível Fendouzhe.

A investigação levou também à criação da primeira base de dados biológica de águas profundas, que estará disponível para a comunidade científica internacional.

De acordo com Xiao Xiang, diretor do Centro Internacional para a Vida Marinha Profunda da Universidade Jiao Tong, o acesso aberto a estes dados pode promover a colaboração global e expandir o conhecimento sobre a biodiversidade extrema no oceano profundo.

"Este conhecimento pode ajudar a resolver o esgotamento global dos recursos biológicos", apontou Xiao em declarações noticiadas pelo jornal local The Paper.

Os investigadores destacam o impacto potencial destas descobertas na biotecnologia, na farmacologia e na compreensão das alterações climáticas, sublinhando a importância da exploração contínua das profundezas do oceano.

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