Chegam à Europa menos migrantes do que em 2017

por RTP
Jon Nazca - Reuters

Os países europeus ainda continuam a lutar para absorver os cerca de 1,8 milhão de migrantes marítimos que têm chegado às fronteiras desde 2014. No entanto, a migração está de volta aos níveis anteriores à crise. Embora a controvérsia sobre as políticas de migração continue a abalar o continente europeu, há uma tendência decrescente que aproxima o número total de migrantes ao número anterior a 2015.

De acordo com os dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, o número de chegada de refugiados e migrantes à Europa tem vindo a reduzir drasticamente nos últimos dois anos, podendo ser comparado aos valores apresentados antes do grande pico migratório de outubro de 2015.

As estatísticas apresentadas pelo orgão das Nações Unidas referem-se aos refugiados e migrantes que chegam por mar à Itália, Grécia e Espanha, bem como aqueles que chegam por terra à Espanha. Estes são os países que mais têm recebidos migrantes.


“Em Maio, foram detetadas cerca de 12.100 passagens irregulares nas principais rotas migratórias para a UE, menos 56% do que no mesmo mês do ano passado”, aponta a agência Frontex, fazendo uma comparação entre 2018 e 2017 do número de deteções de passagens irregulares nas fronteiras externas da União Europeia.

Três anos após o pico da crise migratória na Europa, em 2015, no auge da crise e da guerra Síria, a queda acentuada na chegada de migrantes não significa que o continente europeu esteja, atualmente, apto a enfrentar alguns desafios.

"Apesar da diminuição de entradas, os refugiados e os migrantes continuam a colocar-se em risco durante as viagens para a Europa e enquanto tentam seguir em frente em todo o continente", informa o Global Appeal 2018, lançado pelo ACNUR.
Discussão europeia sobre a responsabilidade de acolhimento

Os países europeus continuam a ter muitas discordâncias sobre quem deve assumir a responsabilidade pelos recém-chegados aos Estados fronteiriços. Por um lado, países como a Grécia e a Itália asseguram a entrada da maioria dos imigrantes na Europa. Por outro, países mais ricos como a Alemanha tentam travar a circulação ilegal de migrantes.

Os líderes - particularmente de partidos de extrema-direita – continuam a divulgar com sucesso a ideia de que a Europa é um continente apinhado de imigrantes. No entanto, os números desenham uma realidade social diferente.

O reforço de uma identidade nacionalista tem construído a opinião dos cidadãos. De acordo com uma recente publicação sobre a opinião pública na União Europeia, lançada em março de 2018, as estratégias defensivas de alguns líderes dos países europeus para não receberem migrantes parecem estar a resultar. 



A imigração continua a ser entendida como a questão mais importante que a UE enfrenta, à frente do terrorismo, que perdeu terreno significativo desde o outono de 2017. 

Os temas económicos ficam para trás, embora todos registem um leve aumento. A nível nacional, o desemprego continua a ser a questão mais importante, seguida pela saúde e segurança social.

Na próxima quinta-feira, os líderes da União Europeia vão reunir-se em Bruxelas para uma reunião sobre a migração. Esta cimeira é um lembrete do quanto o cenário político mudou recentemente.

A chanceler alemã, Angela Merkel - que por momentos foi a líder inatacável do continente -, precisa de chegar, mais do que nunca, a um acordo com os restantes líderes europeus para evitar uma crise política no país que governa. A reunião entre os líderes europeus poderá, consequentemente, possibilitar a definição de uma política de migração coerente na Alemanha. 
Migrações em números

Segundo os últimos dados do ACNUR, 57% dos refugiados são provenientes da Siria (6,3 milhões), seguido do Afeganistão (2,6 milhões) e, por último, do Sudão do Sul (2,4 milhões).

Mais de 850.000 requerentes de asilo chegaram à Grécia em 2015, com a maioria deles a chegar a países do norte da Europa, como a Alemanha. Até agora, neste ano, pouco mais de 13 mil fizeram a mesma jornada. 

Em 2015, mais de 150 mil pessoas chegaram à Itália. Em comparação, este ano, o número até agora é inferior a 17 mil. No ano de 2016, mais de 62 mil pessoas procuraram asilo na Alemanha, em média, todos os meses. Este ano, essa média - a menor dese 2013 - caiu para pouco mais de 15 mil. 

Atualmente, o desafio da Europa relaciona-se com o processo de integração dos migrantes na economia e na sociedade, no caso de as respetivas candidaturas serem aprovadas. Outro desafio baseia-se na questão da deportação. Muitas pessoas aguardam pela decisão sobre os respetivos casos.

Estes obstáculos permanecem, na medida em que as autoridades ainda não atenderam à questão dos acampamentos improvisados e sem condições da Grécia - que abrigam cerca de metade dos 60.000 requerentes de asilo do país - ou à economia clandestina da Itália, onde muitos dos 500.000 imigrantes sem documentos do país são explorados.
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