O chefe executivo da COP29, Elnur Soltanov, foi filmado a discutir possíveis acordos sobre combustíveis fósseis com um homem que se fazia passar de um potencial investidor. Uma ex-responsável da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP) disse à BBC que este comportamento era "completamente inaceitável" e constituía uma "traição" ao processo da COP.
Um dos representantes da Global Witness abordou a equipa da COP29, que se realiza no Azerbaijão, fazendo-se passar por chefe de uma empresa de investimentos fictícia de Hong Kong especializada em energia que procurava patrocinar a cimeira, em troca de investimentos na Socar.
Nas gravações, Soltanov disse estar aberto a discutir possíveis acordos, nomeadamente sobre petróleo e gás.
Inicialmente, Soltanov sugeriu que o potencial patrocinador poderia estar interessado em investir em alguns dos "projetos de transição verde" nos quais a Socar estava envolvida, mas de seguida falou sobre oportunidades relacionadas com os planos do Azerbaijão de aumentar a produção de gás, incluindo uma nova infraestrutura de gasoduto.
"Temos muitos campos de gás que precisam de ser desenvolvidos", diz Soltanov na gravação. "Eu ficaria feliz em criar um contacto entre sua equipa e a equipa deles [da Socar] para que eles possam iniciar as negociações", disse. Além de presidente-executivo da COP29, Soltanov é também ministro adjunto da Energia do Azerbaijão e faz parte da direção da Socar.
Christiana Figueres, que supervisionou a assinatura do acordo de Paris de 2015 para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, disse à BBC que este comportamento da parte de alguém envolvido no processo da COP era “completamente inaceitável” e constituía uma “traição” ao processo.
Tentar fazer negócios como parte do processo da COP constitui uma violação grave dos padrões de conduta esperados de funcionários da COP, que, segundo a ONU, “devem agir sem parcialidade, preconceito, favoritismo, capricho, interesse próprio, preferência ou deferência”.
A ONU não quis comentar sobre este caso em concreto, mas disse à BBC que "os mesmos padrões rigorosos" são aplicados a quem quer que acolha a conferência, e que esses padrões refletem "a importância da imparcialidade por parte de todos os representantes".
A COP29 realiza-se no Azerbaijão e tem início da próxima segunda-feira, em Baku. A escolha do Azerbaijão como país anfitrião da cimeira climática foi controversa, dado que o petróleo e gás representam cerca de metade da economia total do país e mais de 90% das suas exportações.