O líder do autoproclamado governo tibetano no exílio (`sikyong`) está a reforçar atividade diplomática no exterior, devido à idade avançada do Dalai Lama, admitindo uma frente comum com outras minorias, como os uigures, mongóis e exilados de Hong Kong.
Na primeira deslocação a Portugal de um `sikyong`, Penpa Tsering afirmou em entrevista à Lusa que a alteração do ponto de vista político mais sentida deve-se a "Sua Santidade (Dalai Lama, líder espiritual e político) não poder viajar tanto como antes", "pois vai fazer 90 anos dentro de alguns meses".
"Por isso, vou andar mais de um lado para o outro. E não nos limitaremos a contactar responsáveis estrangeiros, parlamentares e outros, mas também contactaremos grupos de reflexão, porque estão a surgir muitos para estudar a China", referiu ainda o político, acrescentando também o contacto com faculdades e universidades.
O líder tibetano estima que existam entre 130 mil a 140 mil tibetanos no exílio, a maioria na Índia e no Nepal, mas que se conseguiu uma boa organização, tendo administrativamente alcançado mais de 25 diferentes países.
O responsável político tibetano enumerou ainda o trabalho que está a ser feito para "preparar a administração de Dharamsala (cidade indiana que acolhe o governo no exílio) para o futuro".
"Estamos a trabalhar muito para que quem vier depois de mim não tenha de gastar muito tempo com a administração porque apesar de sermos um governo no exílio, temos todas as funções e dedicamos muito tempo à gestão destas instituições democráticas", adiantou.
Assim, com o objetivo de a administração vir a funcionar por si própria, está em marcha uma "grande reestruturação com foco em base de dados, na estrutura e nos sistemas".
"Embora haja muitas mudanças a acontecer e temos de nos atualizar, também estamos a digitalizar todas as escrituras antigas do Tibete", garantindo que os "ensinamentos de Buda permanecerão até ao fim deste mundo em forma computorizada", revelou.
Também um dos monges lançou um dicionário tibetano, com 223 volumes, tornando-o no "mais volumoso do mundo".
"No ano passado, entregámos 223 cópias em papel à Biblioteca Nacional Checa. Este ano vamos fazer uma apresentação à Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, porque eles têm cerca de 26.000 títulos em tibetano, a maior coleção de livros sobre o Tibete", afirmou Penpa Tsering.
Mas na sua campanha eleitoral para liderar o executivo, Penpa Tsering recorreu já à tecnologia, até por causa da pandemia da Covid-19, e revelou existir trabalho para possibilitar o voto eletrónico.
Dada a dispersão de tibetanos, prometeu nos seus cinco anos de mandato, que iniciou em 2021, "visitar todas as comunidades duas vezes" em todo o mundo, mas não afasta também países sem conterrâneos.
Também tem sido desenvolvido contacto com outras minorias da China, como grupos de muçulmanos uigures da região de Xinjiang ou os mongóis do sul. "Agora, muitos cidadãos de Hong Kong também vêm encontrar-se connosco e líderes pró-democracia na China", enumerou.
Face à multiplicidade de grupos, o `Sikyong` já sugeriu a ideia de "organizar um grande evento na Europa", para "enviar uma mensagem clara ao governo chinês": "se necessário, podemos juntar-nos todos".
Respondendo afirmativamente se estaria disposto a liderar uma iniciativa assim, Penpa Tsering avançou até a possibilidade de ser na capital alemã ou "algures na Europa", porque "poderia enviar uma mensagem forte à China".