Chef russo detido em Paris suspeito de envolvimento em atos de "desestabilização" dos J.O.

por RTP
Fortes medidas de segurança rodeiam os JO 2024 em Paris Franck Fife - AFP

A polícia francesa deteve um chef russo a viver em França há 14 anos, personalidade de televisão e redes sociais, e alegado membro do FSB, os serviços federais de segurança russos herdeiros do KGB soviético.

O homem, de 40 anos, que não foi oficialmente identificado, foi detido domingo, 21 de julho, durante uma operação de buscas ao seu apartamento, durante a qual foi encontrado um documento com ligações a uma unidade russa de forças especiais de elite, a operar sob as ordens do FSB.

O homem foi acusado e colocado sob prisão preventiva a 23 de julho, tendo sido aberto no mesmo dia um inquérito a alegações de partilha de "informações com um poder estrangeiro, com o objetivo de provocar hostilidades em França", um crime punido no país com uma pena de 30 anos de prisão.

Os atos de desestabilização referidos, em "grande escala", deveriam ter lugar durante os Jogos Olímpicos que se iniciam esta sexta-feira. Não estariam contudo relacionados com quaisquer operações terroristas.

De acordo com o jornal Le Monde, que identifica o suspeito simplesmente pela letra K, os serviços secretos franceses estavam a segui-lo há dois meses, alertados por telefonemas entre ele e o seu recrutador russo, a 8 de maio, quando o alegado espião regressava a Paris depois de uma viagem a Istambul, Turquia.

Expulso do voo devido a excesso de consumo de álcool, K regressou afinal a França via Bulgária. Foi nessa altura que uma conversa sobre os Jogos Olímpicos foi monitorizada, de acordo com o Le Monde.
K afirmou que "os franceses vão ter uma cerimónia de abertura nunca vista", refere o jornal.

Nenhum detalhe foi revelado quanto à alegada conspiração ou sobre a forma como os Jogos seriam desestabilizados.
Personalidade mediática
O Le Monde afirma que o detido treinou como chef em Paris e participou em vários programas de reality tv e de cozinha russos. No seu CV descrevia-se como "chef privado" e usava as redes sociais para dar aulas de cozinha.

K, refere o jornal, chegou a França em 2010, tendo passado uma temporada em Courchevel, uma estância de esqui popular entre a elite russa. Trabalhou ali no restaurante distinguido pelo guia Michelin, antes de se mudar para Paris em 2012.

Numa troca de e-mails de setembro desse ano, a que o Le Monde teve acesso, o suspeito disse à sua senhoria, que indagava pelo seu paradeiro, que havia regressado a Moscovo para trabalhar "para o governo russo", sem detalhar em que cargo. Mas, em abril de 2013, K participou num dia de treino cívico, uma exigência obrigatória do processo de integração em França.

Às seis da manhã de domingo passado, a pedido do Ministério do Interior, agentes da brigada de busca e intervenção francesa, a BRI, invadiram a casa do suspeito, na Rua Saint-Denis, numa das margens do rio Sena. Entre os papéis do chef russo terão sido então encontrados documentos de “interesse diplomático”.
Mais de um milhão rastreados
Em comunicado enviado aos órgãos de comunicação social franceses, a polícia encontrou indícios de que o homem preparava um "projeto em larga escala" que poderia ter tido "graves consequências durante as três semanas das Olimpíadas".

O receio de que a Rússia possa tentar desestabilizar os Jogos Olímpicos não é recente. A Microsoft alertou o mês passado que Moscovo estava a procurar prejudicar os Jogos através de páginas web falsas a replicar páginas francesas autênticas, usando Inteligência Artificial para alimentar especulações sobre violência e terrorismo durante o evento.

O governo francês instaurou uma gigantesca operação securitária em Paris para garantir a segurança das XXXIII Olimpíadas.

"Estamos aqui para assegurar que o desporto não é usado para espionagem, ciberataques ou para criticar ou por vezes até mentir sobre a França e os franceses", afirmou o ministro do Interior, Gérald Darmanin, revelando que só esta semana as autoridades haviam rastreado mais de um milhão de pessoas antes do Jogos.
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