Chanceler alemão faz visita surpresa à Ucrânia e anuncia 650 milhões em ajuda militar

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Axel Schmidt - Reuters

O chanceler alemão chegou esta segunda-feira em Kiev para uma visita surpresa. Olaf Scholz prometeu que a Alemanha "vai continuar a ser o principal apoiante da Ucrânia na Europa" e anunciou uma nova ajuda militar ao país no valor de 650 milhões de euros.

Olaf Scholz viajou de comboio durante a noite e chegou à estação central de Kiev na manhã desta segunda-feira, para aquela que é a segunda visita do chanceler alemão à Ucrânia desde o início da invasão russa.

Em mensagem publicada na rede social X, Scholz garante que a Alemanha “continuará a ser o principal apoiante da Ucrânia na Europa” e prometeu anunciar, em encontro com o presidente ucraniano, um novo pacote de ajuda militar no valor de 650 milhões de euros, que deverá ser entregue ainda este mês.

Um porta-voz do Ministério alemão da Defesa detalhou que a ajuda à Ucrânia inclui sistemas de defesa aérea IRIS-T, tanques Leopard 1 e drones armados.

"O inverno está a chegar, por isso também haverá equipamento de inverno, bem como armas portáteis e dispositivos de aquecimento", disse o porta-voz.

A visita de Scholz sinaliza o apoio da Alemanha à Ucrânia, numa altura de grande incerteza relativamente à ajuda dos Estados Unidos com o regresso de Donald Trump à Casa Branca. Desde o início da invasão russa, a Alemanha tem sido o segundo maior fornecedor de ajuda militar a Kiev, a seguir aos Estados Unidos.

Acontece também duas semanas depois de uma conversa telefónica entre Olaf Scholz e o presidente russo, Vladimir Putin, que valeu ao líder alemão uma torrente de críticas.

Durante o telefonema, Olaf Scholz defendeu a urgência de negociações de paz na Ucrânia e Vladimir Putin afirmou que qualquer acordo de paz terá de atender à atual situação militar no terreno e às preocupações securitárias da Rússia.

Zelensky criticou a iniciativa alemã, considerando que abriu “a caixa de Pandora”. "Agora pode haver outras conversas e chamadas telefónicas. E isto é exatamente o que Putin procura há muito tempo. É fundamental para ele mitigar o seu isolamento, assim como o isolamento da Rússia, e manter meras conversas que não levarão a lugar nenhum. Há décadas que faz isso", enfatizou Zelensky.

O Kremlin, por sua vez, disse esta segunda-feira não ter “expectativas” específicas em relação à visita do ministro dos Negócios Estrangeiros alemão à Ucrânia.

“Diria que não temos quaisquer expectativas em relação a esta visita. Acompanhámos todas as trocas diplomáticas”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, à imprensa.

“A Alemanha mantém a sua linha de apoio incondicional à Ucrânia”, denunciou, antes de saudar, por outro lado, o recente retomar do contacto de Scholz com Putin.
Na sombra das eleições
A visita de Scholz a Kiev também está a ser vista como uma tentativa de o chanceler alemão reforçar a sua posição política a pouco mais de dois meses de eleições na Alemanha.
Scholz, candidato do Partido Social-Democrata às eleições legislativas antecipadas agendadas para fevereiro, enfrenta uma dura batalha pela reeleição após o colapso da sua coligação em novembro.

Com o apoio à Ucrânia a assumir-se como uma questão fulcral nas eleições, Scholz tem estado sob escrutínio, tanto por parte daqueles que querem que faça mais para ajudar Kiev como, do outro lado, por parte dos eleitores que querem que a Alemanha deixe de enviar armas e ajuda à Ucrânia.

Na sua campanha, o líder de centro-esquerda procura apresentar-se como o “chanceler da paz” e apoiante da contenção, enquanto os conservadores defendem o aumento da ajuda à Ucrânia, nomeadamente o envio de mísseis de longo alcance para Kiev.

Apesar dos repetidos apelos do presidente ucraniano, o chanceler alemão tem recusado reiteradamente fornecer a Kiev mísseis Taurus de longo alcance, explicando que quer evitar uma escalada com Moscovo.

Esta mantém-se uma linha vermelha para Olaf Scholz, que se distancia dos seus aliados norte-americanos, britânicos e franceses, que deram autorização a Kiev para o uso de mísseis contra a Rússia.

No sábado, durante um discurso de campanha, Olaf Scholz prometeu manter a "cabeça fria" sobre o tema da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, denunciando as conotações agressivas do seu adversário conservador Friedrich Merz, que é favorável ao envio de mísseis para Kiev.

c/ agências
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