Cessar-fogo em Gaza. Abstenção dos EUA no Conselho de Segurança irrita Israel
Pela primeira vez em cinco meses, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução a exigir um cessar-fogo imediato em Gaza. A abstenção dos EUA foi crucial para o texto passar e é vista como como traição por Israel.
"Tendo em vista a mudança da posição americana, o primeiro-ministro decidiu que a delegação não iria partir", referiu o comunicado.
Para Netanyahu, a recusa do veto norte-americano esta segunda-feira marca um "recuo claro" da sua posição anterior e irá prejudicar os esforços de guerra contra o Hamas em Gaza, assim como os esforços para libertar mais de 130 reféns, retidos no enclave palestiniano desde 7 de outubro.
A delegação ao mais alto-nível iria a Washington debater as operações israelita em Rafah, no sul de Gaza.
O comunicado do gabinete de Netanyahu foi publicado na íntegra na rede X.
Questionado sobre a decisão israelita, o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, referiu não ter sido informado de quaisquer mudanças de planos quando à visita e que a política norte-americana não tinha sofrido alteraçõesPrime Minister’s Office Statement:
— Prime Minister of Israel (@IsraeliPM) March 25, 2024
The United States has abandoned its policy in the UN today. Just a few days ago, it supported a Security Council resolution that linked a call for a ceasefire to the release of hostages.
O Pentágono garantiu por seu lado que o secretário da Defesa, Lloyd Austin, mantinha na agenda a sua reunião quinta-feira com o ministro da Defesa Yoav Gallant, sobre os reféns, a ajuda humanitária e a proteção de civis em Rafah.
O aviso oficial sobre o cancelamento veio meia-hora depois, com a Casa Branca a reconhecer-se "muito desapontada" com a anulação da visita. Um alto responsável admitiu depois aos jornalistas, sob anonimato, que a decisão de Netanyahu está a ser considerada uma "reação excessiva" à abstenção norte-americana.
O presidente dos EUA não procurou ligar a Netanyahu depois do cancelamento da visita nem estará a pensar fazê-lo, nem o primeiro-ministro israelita falou com Joe Biden a avisar sobre o cancelamento da ida delegação.
Aprovação quase unânimeO texto da resolução proposta pelos 10 Estados-membros eleitos, exige um cessar-fogo imediato em Gaza durante o Ramadão. Foi aprovado por 14 votos, com a abstenção dos Estados Unidos da América.
Se os EUA tivessem usado o seu poder de veto, a resolução teria sido chumbada. A embaixadora norte-americana explicou a decisão, mesmo lamentando as limitações do texto.
Esta foi a primeira vez em que houve acordo no Conselho de Segurança para exigir a Israel um cessar-fogo, em cinco meses de guerra entre o Estado judaico e o grupo islamita que tem governado Gaza desde 2007.
Israel exprimiu toda a sua indignação com uma resolução que afirmou "legitimar" o Hamas.
Esse texto foi chumbado pela Rússia e pelos Estados Unidos, que se opuseram à linguagem utilizada no texto, nomeadamente por não "exigir" essa cessação das hostilidades e por vincular o cessar-fogo à libertação dos reféns detidos pelo Hamas. O texto proposto por Washington "determinava um cessar-fogo imediato e sustentado" em Gaza.
A resolução agora aprovada "exige um cessar-fogo imediato para o mês do Ramadão, respeitado por todas as partes, levando a um cessar-fogo duradouro e sustentável".
O texto prevê ainda a libertação imediata e incondicional de todos os
reféns, assim como a garantia de acesso humanitário para atender às suas
necessidades médicas e outras necessidades humanitárias, e exige ainda
que as partes em conflito cumpram as suas obrigações ao abrigo do
direito internacional "em relação a todas as pessoas que detêm".
Hamas aplaudeApós a votação, vários países celebraram o facto de o Conselho de Segurança ter saído do impasse em que se encontrava, com embaixadores como o de França a defenderem que este cessar-fogo temporário transite para permanente.
O Conselho "terá que - depois do Ramadão, que termina dentro de duas semanas - estabelecer um cessar-fogo permanente, terá que trabalhar para a recuperação e estabilização de Gaza, finalmente", defendeu o diplomata francês, Nicolas de Rivière.
"Acima de tudo, o Conselho terá que recolocar nos eixos um processo político destinado a estabelecer a solução de dois Estados, a única capaz de garantir a paz", acrescentou, especificando que a França está a preparar uma resolução a esse respeito.
O mês sagrado dos muçulmanos iniciou-se dia 10 de março e deverá durar até 9 de abril, pelo que a exigência de cessar-fogo abrange apenas duas semanas, apesar de abrir caminho ao seu prolongamento.
O Hamas aplaudiu a votação do Conselho de Segurança, afirmando em comunicado que "afirma a prontidão de iniciar numa troca imediata de prisioneiros dos dois lados".
Já o embaixador palestiniano nas Nações Unidas apelou a que o voto "deva ser um ponto de viragem" na questão israelo-palestiniana.
A resolução foi apresentada pelos 10 Estados-membros eleitos do Conselho de Segurança: Argélia, Equador, Guiana, Japão, Malta, Moçambique, Coreia do Sul, Serra Leoa, Eslovénia e Suíça.
Desde o início da guerra, o Conselho apenas conseguiu aprovar duas resoluções e nenhuma delas dizia respeito a um cessar-fogo, mas sim à questão humanitária.
com Lusa
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