Cessar-fogo em causa? Multiplicam-se ataques israelitas no Líbano "em retaliação" contra Hezbollah
Pelo menos nove pessoas morreram em novos ataques israelitas contra aldeias no sul do Líbano na segunda-feira, depois de Israel ter anunciado que estava a atingir dezenas de alvos do Hezbollah. Telavive retaliou após um ataque reivindicado por este grupo islamita pela primeira vez desde a entrada em vigor do cessar-fogo. Ainda assim, os Estados Unidos indicam que a trégua está a "ser mantida".
Segundo o Ministério libanês da Saúde, os ataques mataram cinco pessoas na aldeia de Harris e quatro em Tallousa, no sul do país.
No mesmo dia, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, tinha denunciado uma "violação grave" por parte do movimento libanês, que disparou contra uma zona disputada na fronteira entre o Líbano e a região dos Montes Golã ocupada e anexada por Israel. O líder israelita prometeu mesmo "reagir energicamente".O Hezbollah confirmou os disparos contra uma posição militar israelita nas "colinas ocupadas de Kfar Chouba", atualmente sob o controlo do exército israelita.
"Foi uma primeira reação defensiva" às "violações" do cessar-fogo por parte de Israel, afirmou o movimento libanês apoiado pelo Irão. Segundo Telavive, o ataque teve como alvo uma base do exército.
Também na segunda-feira, um drone israelita atingiu um posto militar libanês em Hermel, ferindo um soldado, de acordo com o exército libanês. Na aldeia de Marjayoun, perto da fronteira, outro ataque com drones terá feito um morto.
O exército israelita confirmou ataques contra "veículos militares que operavam na área de um local de fabrico de mísseis do Hezbollah" nessa região e disse ter atingido locais "utilizados para o contrabando de armas perto da fronteira sírio-libanesa", efetuando "vários ataques em resposta aos terroristas do Hezbollah".
Acordo “está a ser mantido”
Apesar da troca de ataques, os Estados Unidos, principal aliado de Israel, garantiram que a trégua em vigor desde 27 de novembro se mantém e disseram estar a analisar as acusações feitas por ambas as partes. "O cessar-fogo está a ser mantido", assegurou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.
No entanto, o presidente do Parlamento libanês, Nabih Berri - aliado do Hezbollah que negociou as tréguas em nome do grupo islamita -, tinha anteriormente denunciado que Israel violou o cessar-fogo em "pelo menos 54 ocasiões".
Este responsável apelou, por isso, ao comité que supervisiona a trégua - ao qual pertencem os Estados Unidos e a França - que "inicie urgentemente a sua ação e obrigue Israel a pôr fim às violações do acordo e a retirar-se" do território libanês.
Apesar das acusações, o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros rejeitou que Telavive tenha quebrado o acordo de cessar-fogo, "pelo contrário". "Israel está a aplicá-lo" em resposta às "violações do Hezbollah, que exigem uma ação imediata", afirmou Gideon Saar.
O acordo de cessar-fogo, que teve como objetivo pôr fim a dois meses de guerra aberta entre Israel e o Hezbollah, prevê a retirada do exército israelita do Líbano no prazo de 60 dias. Já o Hezbollah deve retirar-se para norte do rio Litani, a cerca de 30 quilómetros da fronteira, e desmantelar as suas infraestruturas militares no sul do país.
O presidente francês, Emmanuel Macron, e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, indicaram na segunda-feira que iriam "prosseguir os esforços diplomáticos para consolidar o cessar-fogo" e apelaram "à realização de eleições presidenciais no Líbano com o objetivo de (...) levar a cabo as reformas necessárias para a estabilidade e segurança do país", informou o Eliseu em comunicado.
c/ agências