Cerca de 345 mil pessoas em Gaza terão "fome catástrofica" no inverno

por Lusa

Cerca de 345 mil habitantes de Gaza vão enfrentar fome a "um nível catastrófico" este inverno, o que representa um aumento de mais de 150% em relação aos valores atuais, alerta a ONU num relatório hoje publicado.

De acordo com a análise das Nações Unidas, há atualmente 133 mil pessoas em Gaza nesta situação.

A ajuda alimentar que chegou no verão permitiu melhorar a situação, mas a quase cessação dos comboios desde setembro deverá inverter a tendência, lamenta o relatório do Quadro Integrado de Classificação de Segurança Alimentar (IPC), fruto do trabalho de conhecimentos especializados de organizações não-governamentais (ONG) e de agências das Nações Unidas, incluindo a da Alimentação e Agricultura (FAO), com sede em Roma.

"Este declínio drástico do cenário vai limitar muito a capacidade das famílias de se alimentarem e de terem acesso a bens e serviços básicos nos próximos meses", indica o documento do IPC.

A publicação deste relatório surge depois de os Estados Unidos e responsáveis da ONU terem alertado Israel contra uma "política de fome" orquestrada em Gaza para "transformá-la numa arma de guerra", conceito ao qual Telavive se opôs firmemente.

De acordo com o relatório hoje divulgado, "aproximadamente 1,84 milhões de habitantes de Gaza sofreram elevados níveis de insegurança alimentar aguda, correspondentes ao nível 3 ou superior" na escala e 5 (3: crise, 4: emergência, 5: desastre).

Um número que deverá subir para 1,95 milhões entre novembro e abril, alcançando mais de 90% da população, segundo as projeções da ONU para o período de novembro de 2024 a abril de 2025.

Entre as pessoas com insegurança alimentar contam-se 345 mil (cerca de 16% da população) que vão mesmo enfrentar uma "situação catastrófica".

"Embora sejam zonas menos povoadas, Rafah e o norte enfrentam uma insegurança alimentar mais grave", mesmo que quase toda a Faixa de Gaza esteja em crise, especifica-se.

À luz deste relatório, a diretora-geral adjunta da FAO, Beth Bechdol, apelou à "restauração imediata do acesso humanitário para entregar a ajuda alimentar essencial e as sementes a tempo da conseguir ultrapassar a época de plantação de inverno, entre outubro e dezembro".

"A ajuda humanitária não é suficiente. As pessoas precisam de alimentos frescos e nutritivos. Para fazer a diferença, precisamos de ajudar os agricultores", acrescentou.

Na quarta-feira, o chefe da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA), Philippe Lazzarini, na mira de Israel, disse, em Berlim, ter notado uma "queda drástica" no número de comboios de ajuda alimentar no sul, enquanto que "tem de se tornar extremamente complicado" para os levar para o norte.

"A fome na Faixa de Gaza é criada artificialmente" e Israel "impede ativamente os comboios de atravessar a fronteira", quando não são "certos membros do governo israelita (que) fazem da fome uma arma de guerra", disse Lazzarini.

O embaixador israelita na ONU, Danny Danon, rejeitou estas acusações, garantindo que "mais de um milhão de toneladas de ajuda" foram transportadas para o enclave palestiniano.

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