Catástrofes naturais em 2024. O ano mais quente de sempre com mais calamidades e mais frequentes

As alterações climáticas são uma das principais preocupações atuais, a nível mundial. Têm sido tema de conferências internacionais e debates entre líderes mundiais nas últimas décadas, mas o ano de 2024 foi o mais quente de sempre: o aquecimento global é hoje uma realidade e não há canto do planeta que esteja imune. As catástrofes naturais estão a tornar-se mais intensas e cada vez mais frequentes em todo o mundo, deixando as regiões já vulneráveis expostas a maior risco de desastres climáticos. Tornados nos Estados Unidos, cheias no Médio Oriente, Ásia e Pacífico Ocidental e ondas de calor e incêndios na Europa foram apenas algumas das calamidades que terão vitimado milhares de pessoas nos últimos 12 meses.

A Organização Meteorológica Mundial concluiu que este foi o ano mais quente desde que há registo. Nos primeiros nove meses de 2024, a temperatura média foi superior aos 1,5 graus Celsius acima do nível pré-industrial.

A temperatura média global "excedeu tudo o que já foi registado, e muitas vezes por uma grande margem", divulgou a organização no relatório “State of the Climate”, que adverte para o risco de as alterações climáticas tornarem os eventos climáticos extremos e mortais, mais comuns e intensos.

A par destes alertas constantes e de eventos que, ao longo do ano, foram devastando algumas regiões do mundo, o denominado “petro-Estado” Azerbaijão foi anfitrião da Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas – um país que já foi o epicentro da produção de petróleo. Entre as críticas à COP 29, que decorreu em novembro deste ano e após registos de centenas de desastres climáticos, destacam-se os compromissos financeiros assumidamente insuficientes e as metas para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.

Com a transição energética ainda em lento progresso, as consequências têm sido devastadoras. No ano mais quente de sempre, milhões de pessoas ficaram expostas a muitos eventos climáticos..
Embora a comunidade científica afirme que um único ano com aquecimento de mais de 1,5°C não constitui uma falha para atingir as metas climáticas declaradas de Paris, a tendência do aumento da temperatura não mostra sinais de parar.
Janeiro
2024 prometia temperaturas altas já no início e quebrar todos os recordes, com o mês de janeiro mais quente de sempre em todo o mundo.

Também neste mês, o sudeste asiático enfrentou chuvas intensas que provocaram inundações devastadoras, afetando países como a Indonésia e a Malásia.

Foto: AFP

E um pouco mais a sul, o ciclone Ellie trouxe chuvas torrenciais e cheias ao território australiano.
Fevereiro
No continente americano o inverno ficou mais rigoroso. Os Estados Unidos e o Canadá enfrentaram as tempestades de inverno, ficando com cidades inteiras sem acessos por causa da neve e do frio intenso, que causou vários danos e mortes. Já no Peru, muitas comunidades foram afetadas pelas chuvas intensas, inundações e consequentes deslizamentos de terra.

Foto: AFP

Do outro lado do planeta, as chuvas de fevereiro não chegaram e a África do Sul foi atingida por uma seca de meses. As colheitas de milho secaram e a maioria do gado morreu. Cerca de 27 milhões de pessoas, muitas já à beira da fome, não tinham comida suficiente. Seca provocada pelo ciclo climático natural conhecido como El Niño, que se somou ao aumento das temperaturasMarço
O ar atmosférico e os oceanos já registavam recordes de calor. E em março, a temperatura média global da superfície do mar atingiu um aumento para os 21,07 graus Celsius , ou quase 70 graus Fahrenheit – fenómeno que desencadeou o branqueamento em massa na Grande Barreira de Corais da Austrália, lar de 400 tipos de corais que alimentam milhares de espécies de peixes. Foi o quarto e maior evento de branqueamento já registado.

Foto: Napat Wesshasartar - Reuters

O calor manteve-se no continente africano que registou seca prolongada em países como Etiópia, Quénia e Somália. Milhões de pessoas no Corno de África ficaram, uma vez mais, em risco de insegurança alimentar.
Abril

Em plena primavera no hemisfério Norte, o mundo viveu o mês de abril mais quente desde que há registo. Um onde de calor estendeu-se pelo sul e o sudeste da Ásia, com temperaturas a superar os 45ºC durante vários dias. Com temperaturas anormalmente elevadas para a época milhares de pessoas morreram, houve falhas de energia e várias escolas tiveram de encerrar no Bangladesh, no Paquistão, na Índia e nas Filipinas.

No final do mês, estendendo-se durante semanas, o Brasil sofreu uma das maiores catástrofes climáticas do país. Em várias cidades, no período entre 27 de abril e 2 de maio, chegou a chover entre 500 e 700 milímetros, correspondendo a um terço da média histórica de precipitação para um ano inteiro, e em muitas noutras a precipitação ficou entre os 300 e 400 mm entre 3 e 5 de maio. Chuvadas que provocaram as grandes enchentes de Rio Grande do Sul, afetaram mais de 60 por cento do território estadual e dois milhões de pessoas. Nos mais de 400 municípios afetados morreram pelo menos 170 pessoas.

Foto: Adriano Machado - Reuters
Maio

Estas inundações no Brasil começaram por marcar o início do mês de maio. Por outro lado, o calor do mês anterior no sul asiático manteve-se. Muitas zonas da Índia viveram com temperaturas extremas em maio, que ameaçavam muitos dos trabalhadores da agricultura.

Também no norte da Europa, principalmente na Alemanha, registaram-se tempestades severas e inundações. Como os níveis de precipitação estavam já acima da média nos meses anteriores, o solo saturado não conseguiu absorver grande parte da água da chuva e muitos rios transbordaram.

Foto: Thomas Frey - Reuters
Junho

Com as temperaturas em recordes máximos, o Pantanal do Brasil foi assolado pelos piores incêndios florestais das últimas duas décadas, tendo ficado queimados mais de um milhão de hectares. Fenómeno causado pelo desmatamento e seca no território brasileiro, exacerbado pelas alterações climáticas e que matou espécies raras de onças e papagaios que vivem no Pantanal, o maior pantanal tropical do mundo.

Foto: Ueslei Marcelino - Reuters

No outro lado do mundo, vários países junto ao Mediterrâneo também combatiam grandes incêndios florestais, que obrigaram a evacuar cidades e a deslocar milhares de pessoas na Grécia, Turquia e Espanha.
Julho
O furacão Beryl atingiu estados insulares das Caraíbas, incluindo Granada, Jamaica e São Vicente e Granadinas. Para lá do Pacífico, chuvas torrenciais provocaram grandes inundações e deslizamentos de terras, com dezenas de vítimas mortais no sul da China e no Japão.

Foto: Samir Aponte - Reuters

Enquanto isso, a Europa vivia mais uma onda de calor, com Espanha e Itália a registar máximos históricos.
Agosto
Com temperaturas 1,68ºC acima da média pré-industrial, em pleno agosto, o hemisfério norte vivia o que verão mais quente já registado – fenómeno explicado por uma onda de calor global.

O calor extremo agravou a situação de seca e aumentou o risco de incêndio: as autoridades europeias uniram-se em esforços para combater fogos florestais perto da capital grega e numa reserva Natural perto de Roma. A ilha da Madeira também sofreu com incêndios que queimaram mais de cinco mil hectares.

Em agosto, os cientistas concluíram que a Europa é o continente que está a aquecer mais depressa devido às alterações climáticas.

Foto: Esa Alexander - Reuters

Mas também na América do Sul o calor fez-se sentir. A partir de agosto, os biomas brasileiros, incluindo Amazónia, Cerrado e Pantanal, sofreram com secas extremas que favoreceram a propagação de incêndios.Setembro
Em setembro, incêndios devastadores atingiram as regiões norte e centro de Portugal, resultando em pelo menos nove mortes, incluindo quatro bombeiros. Foram consumidos pelas chamas mais de 135 mil hectares, levando o Governo a declarar o "estado de calamidade" nas áreas afetadas. Mais de 5.000 bombeiros foram mobilizados, com apoio de países europeus, para combater estes incêndios.

Foto: Andreia Custódio - RTP

Em África, em países como Chade e Nigéria, onde os conflitos têm levado milhares a fugir, grandes cheias obrigaram centenas de milhares de pessoas a deslocar-se novamente. Estas cheias destruíram hectares de plantações, essenciais para a alimentação e economia dessas populações.

Nos Estados Unidos, o furacão Helene chegou de forma avassaladora ao sul do país. Quase 230 pessoas morreram, tornando-o o furacão mais mortal a atingir o país desde o Katrina, em 2005. As chuvas torrenciais do Helene causaram danos e perturbações massivas na Carolina do Norte, onde estradas principais foram levadas pela água e infraestrutura crítica ficou destruída.Outubro
A Depressão Isolada em Níveis Altos (DANA) já era esperada na Península Ibérica, mas a tempestade que passou na região espanhola de Valência foi devastadora. Num dilúvio nunca visto em Espanha, choveu durante oito horas a quantidade de precipitação prevista para um ano. Mais de 200 pessoas morreram, as ruas e as casas ficaram destruídas pelas inundações, algumas pontes ficaram destruídas e milhares de carros empilhados em estradas, túneis e garagens.

Foto: Eva Manez - Reuters
Novembro
Enquanto a cidade de Nova Iorque emitia um alerta de risco de seca, com o nordeste dos Estados Unidos a tentar recuperar de uma temporada de outono excecionalmente seca, a região estadual foi arrasada por incêndios florestais. Fenómeno mais comum no outro lado do mundo: começou mais cedo a temporada de incêndios na Austrália, devido à seca prolongada.

Foto: James Ross - EPA

No Atlântico, por sua vez, a tempestade Patty provocou chuvas intensas que causaram inundações e danos nos arquipélagos dos Açores e da Madeira. As regiões insulares portuguesas enfrentaram desafios significativos devido às condições climáticas adversas.

Com o inverno a aproximar-se no hemisfério norte, chuvas intensas afetaram França, Alemanha e Reino Unido provocando novas inundações. Já no sudeste asiático, as chuvas persistentes agravaram os eventos climáticos no Vietname e nas Filipinas, país que estava ao mesmo tempo a ser afetado por tempestades severas que obrigaram milhares de pessoas a deslocar-se.
Dezembro

O ciclone Chido devastou a ilha francesa Mayotte.
Neste país houv mais de 30 vítimas da ilha que pertence ao arquipélago francês situado no oceano Índico. Foi a primeira vez que a França decretou um dia de luto nacional por causa de uma catástrofe climática.

Em Moçambique, o mesmo ciclone causou ainda mais vítimas: pelo menos 120 mortes. O ciclone Chido atingiu sobretudo o norte e o centro do país, em particular as províncias de Cabo Delgado, Niassa, Nampula, Tete e Sofala. no centro, foram as mais afetadas.

Foto: EPA

No último mês do ano mais quente já registado, dados divulgados indicavam que, nos primeiros 11 meses do ano, ocorreram mais de 100 desastres climáticos, resultando em aproximadamente 200 mil mortes e 117 milhões de pessoas deslocadas em todo o mundo.