Catar condena Israel por deixar "deliberadamente" palestinianos "à fome"

por Inês Moreira Santos - RTP
Mohammed Saber - EPA

O Catar acusou Israel de deixar o povo palestiniano "deliberadamente à fome". Em comunicado sobre a situação do conflito no Médio Oriente, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros apelou à comunidade internacional para que pressionasse o Governo israelita, alegando que é "doloroso" ver que a entrega de ajuda humanitária a Gaza ainda é um problema.

“A fome deliberada do povo palestiniano não pode ser tolerada e a comunidade internacional deve opor-se a esta questão”, declarou Majed Al Ansari, salientando que “qualquer ajuda” a Gaza “representa uma parte muito pequena daquilo” que a população necessita.

“Há dois milhões e meio de pessoas que vivem na completa ausência de serviços de saúde e de emergência. Mais de um milhão de pessoas vivem em tendas no sul da Faixa”,
continuou.

Considerando a situação precária do povo palestiniano, o Catar enfatizou que “a ajuda deve ser fornecida gratuitamente e sem restrições”. Nesse sentido, Al Ansari indicou que enviou 80 aviões mantimentos que foram entregues através de uma ponte aérea, embora os “desafios” para garantir ajuda humanitária nesta região sejam “grandes e contínuos”.

“Até agora, não assistimos a uma pressão real por parte da comunidade internacional para permitir a entrada total e incondicional de ajuda. O Estado do Catar, em cooperação com os seus parceiros, procura pôr fim à agressão antes do mês sagrado do Ramadão. É doloroso que a entrada da ajuda humanitária seja uma das questões em cima da mesa”.
Já na terça-feira as Nações Unidas acusaram Israel de bloquear a entrada de ajuda em Gaza.


O porta-voz do Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU garantiu que todas as caravanas de ajuda, que deviam entrar no norte da Faixa de Gaza, foram recusadas pelas autoridades israelitas nas últimas semanas. Segundo Jens Laerke, mesmo a ajuda humanitária que tem autorização para entrar na Faixa de Gaza é bloqueada frequentemente ou atacada pelos militares israelitas.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a última coluna humanitária a entrar no território palestiniano foi há mais de um mês, dia 23 de janeiro. E o porta-voz do Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU lamenta que, nesta altura, também seja impossível retirar os feridos da região norte da Faixa de Gaza.
Israel alerta para risco de ataques no Ramadão
Com o aproximar do mês sagrado para os muçulmanos, o ministro de Defesa de Israel alertou para o risco de o Irão, o Hamas e o Hezbollah poderem aproveitar os feriados do Ramadão para dar início a uma “segunda fase” dos ataques lançados em outubro contra o território israelita.

“O principal objetivo do Hamas é usar o Ramadão, com destaque para o Monte do Templo e Jerusalém, e torná-lo a segunda fase do seu plano que começou a 7 de outubro”, destacou Yoav Gallant durante uma avaliação do Comando Central das Forças Armadas de Israel.

Segundo o governante que tem defendido não dar margem ao movimento islamita palestiniano, o principal objetivo do Hamas está a ser “amplificado pelo Irão e pelo Hezbollah”.

“Não deveríamos dar ao Hamas o que não foi capaz de alcançar desde o início da guerra”, frisou Gallant, de acordo com o jornal israelita The Times of Israel, citado pela agência Europa Press.

Em declarações que se considera terem sido direcionadas ao ministro da Segurança Nacional, Ben Gvir, de extrema-direita, o ministro da Defesa defendeu que devem ser evitadas "declarações irresponsáveis de pessoas que deveriam ser responsáveis", pois podem levar a uma escalada de acontecimentos em pouco tempo.Ben Gvir, conhecido pelas suas declarações racistas e ultranacionalistas, tem defendido a imposição de restrições aos palestinianos na Cisjordânia e impedi-los de rezar na Esplanada das Mesquitas durante o Ramadão e até proibir o acesso a árabes israelitas com menos de 70 anos.

Entretanto, as forças israelitas afirmaram ter atingido “oito alvos terroristas significativos” na noite de terça-feira.

“Durante a operação conjunta terrestre e aérea na Faixa de Gaza, oito alvos terroristas significativos foram atingidos numa região de onde foram disparados mísseis em direção à cidade [israelita] de Ashkelon na noite passada”, lê-se num comunicado das Forças de Defesa de Israel.
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