Os separatistas catalães consideraram hoje insuficiente o debate no Conselho Europeu da proposta de reconhecimento do basco, catalão e galego como línguas das instituições comunitárias, mas reconheceram que "nunca se tinha chegado tão longe".
"Comprovámos hoje que Espanha não se faz ouvir tanto na Europa como dizia [o primeiro-ministro] Pedro Sánchez", disse o ex-presidente do governo regional catalão Carles Puigdemont, do Juntos pela Catalunha (JxCat), um dos partidos independentistas com quem os socialistas negociam a viabilização de um novo governo espanhol de esquerda, na sequência das eleições de 23 de julho.
"É verdade, porém, que nunca tínhamos chegado tão longe e que nunca antes tantos países da União Europeia se tinham mostrado favoráveis, e gostaria de lhes agradecer por isso. Que nenhum país tenha vetado a proposta é uma boa notícia, mas não é suficiente", acrescentou Puigdemont, numa publicação na rede social X (antigo Twitter) em que chegou a agradecer "o esforço" ao ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros (MNE), José Manuel Albares.
Puigdemont acrescentou que "o Estado espanhol sabe que tem trabalho por fazer e sabe que tem de o fazer com diligência, porque a oportunidade é agora".
"Estaremos muito atentos", disse ainda.
Também o atual presidente do governo catalão, Pere Aragonès, da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), com quem os socialistas estão igualmente em negociações, considerou que "é evidente que o papel do Governo espanhol foi insuficiente".
"Como sempre, chegou tarde e mal", afirmou Aragonès, no X, depois de saudar a utilização do basco, catalão e galego hoje, pela primeira vez, no parlamento de Espanha.
"Hoje é um dia histórico", escreveu o presidente do governo catalão, acrescentando que, porém, foi "uma vitória infelizmente agridoce" por ser preciso "continuar a batalhar" nas instituições europeias.
Os países da União Europeia (UE) adiaram hoje uma decisão sobre o pedido de Espanha para o basco, catalão e galego serem reconhecidos como línguas oficiais nas instituições comunitárias, mas sem vetar essa possibilidade.
Espanha colocou na agenda do Conselho da UE, a que preside este semestre, o uso dos três idiomas nas instituições europeias, como pedem os independentistas que têm o poder de viabilizar o novo governo do país.
A proposta foi debatida hoje no Conselho de Assuntos Gerais, onde os 27 países da União são representados pelos ministros ou secretários de Estado com a pasta dos temas europeus e cuja agenda foi definida por Espanha.
O MNE de Espanha disse aos jornalistas, no final da reunião, que o governo espanhol cumpriu o seu compromisso" de levar a Bruxelas o pedido de reconhecimento dos três idiomas e sublinhou que "ninguém manifestou um veto".
"Alguns Estados-membros pediram mais tempo para analisar o desenvolvimento e implementação [da proposta]", acrescentou Albares, que disse que agora as posições dos outros países serão abordadas através de grupos de trabalho e reuniões dos embaixadores no Conselho da União Europeia (UE).
Albares disse hoje que Espanha propôs assumir os custos associados à utilização dos três idiomas nas instituições europeias e que avance primeiro o uso do catalão, aquele que tem mais falantes, mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais do que várias línguas oficiais europeias.
Além disso, reconheceu Albares, é o idioma "cujos representantes solicitaram com mais insistência" o seu reconhecimento pela UE.
Em Espanha, porta-vozes dos partidos bascos e galegos, de cujos votos Sánchez também precisa para ser reconduzido primeiro-ministro, lamentaram esta prioridade ao catalão, mas não disseram que isso impede a viabilização de novo governo de esquerda.
O pedido, por Espanha, do reconhecimento dos três idiomas como línguas das instituições europeias foi uma exigência dos partidos nacionalistas e independentistas, em especial, dos catalães, para darem a presidência do parlamento nacional aos socialistas, em agosto passado, no arranque da atual legislatura.
Os mesmos partidos exigiram que o Congresso dos Deputados permitisse o uso de todos os idiomas oficiais em Espanha, e não apenas o castelhano, nos trabalhos parlamentares, o que aconteceu hoje pela primeira vez, numa sessão plenária, apesar do protestos da direita e da extrema-direita.