Em nova declaração pública sobre o corrente conflito diplomático entre Ocidente e Rússia, desencadeado pelo caso do envenenamento do ex-espião Sergei Skipal, o ministro dos Negócios Estrangeiros conservou esta terça-feira o véu sobre a posição a assumir por Portugal. Augusto Santos Silva afirmou que o processo de decisão está “em curso” e que as Necessidades levarão em linha de conta os interesses “nacional, europeu” e da NATO.
Os Estados Unidos e outras duas dezenas de países, incluindo 16 membros da União Europeia, determinaram a expulsão de quase 100 diplomatas russos dos respetivos territórios, num gesto de apoio ao Governo britânico.
Augusto Santos Silva insistiu na ideia de um processo de decisão tripartido, combinando o interesse de Portugal, “enquanto país que fala com toda a gente no mundo e que tem uma enorme facilidade de contacto com todas as grandes regiões do mundo, e os interesses europeu e da Aliança Atlântica”.
Na mesma linha, o chefe da diplomacia portuguesa quis afiançar que as medidas que o Governo português vier a decidir “sem precipitação, com autonomia, com prudência, mas também com firmeza”, serão “as que melhor respondam a estes três critérios”.
Na segunda-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros dissera, em comunicado, tomar “boa nota” das decisões tomadas por outros Estados-membros da União Europeia, para defender a necessidade de “concertação no quadro” europeu, “o instrumento mais eficaz para responder à gravidade da situação presente”.
“Portugal acredita que o instrumento mais importante para reagir à altura da gravidade desta situação é o instrumento multilateral, quer no quadro da União Europeia quer no quadro da NATO, e assim temos procedido nas reuniões que têm havido”, insistiu Augusto Santos Silva.
“Nós não ignoramos as nossas responsabilidades face aos nossos aliados, não ignoramos a nossa responsabilidade particular face ao Reino Unido - desde o início que manifestámos a mais profunda solidariedade - e temos em atenção também o que é que os diferentes Estados-membros vão fazendo”, reforçou.
“Nunca quebrar pontes”
A diplomacia portuguesa, explicou ainda Augusto Santos Silva, procura nesta altura preservar a “característica capacidade de procurar nunca quebrar pontes, de manter sempre uma ligação, porque é nessa lógica multilateral em que mais se revê, na procura de ir enfrentando os problemas e as ameaças e ir convencendo os interlocutores que uma ordem internacional baseada em regras e conforme ao Direito Internacional e o cumprimento do direito é a melhor garantia de paz e de segurança no mundo de hoje”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros rejeitou ainda a existência de uma “desalinhamento” de Lisboa para com aliados históricos como o Reino Unido ou os Estados Unidos.
“Os EUA e o Reino Unido sabem bem quão confiável é Portugal enquanto aliado. Conhecem também as características da política externa portuguesa e sabem que a sua insistência no quadro multilateral e na ideia de que em nenhuma circunstância se deve perder a esperança de manter formas de comunicação que permitam convencer os interlocutores da vantagem de seguir a lei e o direito os ajuda também a eles”, acentuou, para enfatizar, por último, que os Estados-membros são soberanos “no ponto de vista bilateral”.
Partiu do Governo de Londres, na semana passada, a primeira ordem de expulsão de 23 funcionários diplomáticos russos, em resposta ao envenenamento de Sergei Skripal e da filha com um agente neurotóxico a 4 de março em Salisbury, no sudoeste de Inglaterra.
c/ Lusa
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