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Carvão e petróleo. Combustíveis que tornam o ar um assassino silencioso

por Carla Quirino - RTP
Tailândia, Banguecoque - poluição atmosférica Jorge Silva

Uma em cada cinco pessoas é vítima da poluição atmosférica produzida por combustíveis fósseis. Dados de 2018 revelam que 8,7 milhões de mortes em todo o mundo estiveram associadas a doenças respiratórias. Europa, Estados Unidos e leste da Ásia contribuem com a maior percentagem para a taxa da mortalidade.

O estudo desenvolvido por cientistas das universidades de Harvard, Birmingham, Leicester e Londres permitiu estabelecer uma relação de causa-efeito entre as emissões de combustíveis fósseis e as 8,7 milhões de pessoas que morreram de doenças respiratórias e cardíacas no ano de 2018.


Polónia, Centra de produção de energia a carvão | Kacper Pempel- Reuters

Pequenas partículas de fuligem, 30 vezes menores do que o diâmetro do cabelo humano, são lançadas para a atmosfera no processo de combustão do petróleo e carvão. Chamam-se PM2,5. Ao serem inaladas, alojam-se nos pulmões e desencadeiam inúmeros problemas de saúde.

O elevado número de mortes surpreendeu os autores do estudo, esta semana destacado pelo diário britânico The Guardian.

"Inicialmente, ficámos muito hesitantes quando obtivemos os resultados porque eles são surpreendentes", disse Eloise Marais, geógrafa da University College de Londres e coautora do estudo.

"Não apreciamos que a poluição do ar seja um assassino invisível" acrescenta Neelu Tummala, médico otorrinolaringologista (ouvido, nariz e garganta) da Escola de Medicina e Ciências da Saúde da Universidade George Washington. "O ar que respiramos afeta a saúde de todas as pessoas, mas principalmente de crianças e idosos. Normalmente, as pessoas em áreas urbanas sofrem os piores impactos".

Karm Vohra, investigador da Universidade de Birmingham e coautor, explica: "Queríamos mapear onde está a poluição e onde as pessoas vivem, para que pudéssemos saber mais exatamente o que as pessoas estão a respirar".

Os resultados do estudo global documentam que "a qualidade do ar da China está a melhorar, mas ainda regista concentrações de partículas finas incrivelmente altas. Os Estados Unidos estão também a melhorar, embora haja no nordeste pontos de elevada toxicidade. A Europa é uma bolsa mista. A Índia é que é definitivamente ponto mais preocupante", destaca Eloise Marais.

Em média, mais de 30 por cento das mortes de pessoas com 14 anos ou mais no Leste Asiático são atribuíveis à poluição por combustíveis fósseis. A Europa regista cerca de 16 por cento. África, Oceania e Austrália têm os números mais baixos, cerca de três por cento.

Na Europa, 13,6 por cento das mortes de crianças com menos de cinco anos causadas por infeções respiratórias são atribuíveis aos combustíveis fósseis. A análise foi feita pela Universidade de Harvard.


China, poluição atmosférica. Jiujiang Yangtze River Bridge | Thomas Peter - Reuters

O alerta já tinha chegado em 2015 com uma investigação publicada na revista The Lancet. Sublinhava este trabalho que a poluição do ar matava mais do que a guerra. No universo de nove milhões de pessoas mortas prematuramente pela poluição, a poluição do ar tinha sido a principal causa de mortes, responsável por 6,5 milhões, seguida pela poluição da água, que teria vitimado 1,8 milhões.

As investigações concluem que os números continuam a subir e que "a poluição do ar associada à combustão de combustíveis fósseis é mais prejudicial à saúde humana global do que anteriormente estimado", refere Ed Avol, chefe da divisão de saúde ambiental da Universidade da Califórnia do Sul.

A utilização dos combustíveis fósseis em atividades humanas sofreu uma escalada desde a revolução industrial no século XIX.

O aumento do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera influencia diretamente os oceanos porque se dissolve nas águas.
Os oceanos, ao absorverem o CO2, ficam com o pH alterado.

A química confirma que a concentração da poluição à superfície contribui para a acidez das águas, o que corresponde a consequências gravosas para a os ecossistemas e recursos marinhos, e os humanos estão diretamente implicados  A qualidade do ar que respiramos depende também da qualidade dos oceanos.

Se o ar está a sufocar e os oceanos estão a ficar ácidos, Eloise Marais sublinha: "Precisamos de uma resposta mais imediata. Alguns governos não têm objetivos concretos para diminuirem os níveis de carbono, talvez precisemos levá-los a avançar rápido devido aos enormes danos à saúde pública. Precisamos de muito mais urgência".
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