Na segunda-feira, no 11º dia do julgamento de Derek Chauvin, o ex-agente da polícia de Minneapolis acusado de homicídio em segundo e terceiro grau de George Floyd, um cardiologista foi chamado a testemunhar e explicou que o afro-americano morreu devido a uma paragem cardiorrespiratória. Jonathan Rich descartou a overdose de drogas e considerou que a morte de Floyd era "absolutamente evitável". A partir desta terça-feira, o julgamento foca-se na equipa de defesa, que passa a apresentar as suas testemunhas.
“Ele estava a tentar obter oxigénio suficiente e, por causa da posição a que foi submetido, o coração não tinha oxigénio suficiente”, explicou o cardiologista.
As conclusões de Jonathan Rich vão ao encontro das de outros especialistas que, na sexta-feira, também testemunharam que a causa de morte de Floyd se deveu à falta de oxigénio e não à overdose de drogas, como argumenta a defesa de Chauvin.
“Posso afirmar com um alto grau de certeza médica” que George Floyd “não morreu de um incidente cardíaco primário nem de uma overdose de drogas”, assegurou Rich. Depois de analisar um relatório de toxicologia, o cardiologista concluiu que os níveis de metanfetamina (uma substância que foi detetada na autópsia de Floyd) estavam baixos e não encontrou qualquer sinal que indique a overdose de drogas como a causa de morte.
Morte de Floyd era “absolutamente evitável”
Após assistir ao vídeo do momento da detenção de Floyd, o cardiologista afirmou que o afro-americano poderia ter sobrevivido se tivesse sido assistido, sublinhando que através do vídeo é possível observar que existiram várias oportunidades para salvar Floyd.
Rich observou que a dada altura durante a detenção, e enquanto Floyd estava imobilizado contra o asfalto, um agente policial disse que o afro-americano parecia ter desmaiado. “Essa teria sido uma oportunidade para libertá-lo rapidamente da posição em que estava, que o impedia de receber oxigénio suficiente”, declarou o cardiologista.
Mais tarde, quando os agentes observaram que Floyd não tinha pulso, Rich explica que a sua resposta imediata deveria ter sido administrar compressões torácicas.
“Eu acredito que a morte de George Floyd era absolutamente evitável”, defendeu o cardiologista. “Acho que ele teria sobrevivido naquele dia” se não tivesse sido submetido àquela força policial, concluiu.
Rich reiterou depois, em tribunal, que Floyd não morreu de ataque cardíaco, sublinhando que os registos médicos do afro-americano não mostravam quaisquer evidências de anomalias e que Floyd tinha um coração “extremamente forte”.
Defesa começa a ouvir testemunhas
O cardiologista Jonathan Rich fez parte do último grupo de testemunhas a ser chamado pelos procuradores na segunda-feira. Em 11 dias de julgamento, os procuradores chamaram um total de 38 testemunhas.
Esta terça-feira, no 12º dia do julgamento do ex-polícia Derek Chauvin, é a vez de a equipa de defesa apresentar as suas testemunhas.
Nas declarações iniciais desta terça-feira, o advogado de defesa, Eric Nelson, concentrou-se em três argumentos: Floyd morreu por overdose de drogas e problemas de saúde subjacentes; o uso de força de Chauvin foi apropriado e os observadores que se aglomeraram no local tornaram-se hostis e revelaram-se uma distração para Chauvin.
As testemunhas já ouvidas pelo júri contestaram cada um destes argumentos. Na segunda-feira, Seth Stoughton, especialista em uso de força, ex-agente policial e professor de Direito na Universidade da Carolina do Sul, testemunhou que "nenhum oficial sensato teria acreditado que aquele foi um uso apropriado, aceitável ou razoável da força". Na opinião de Stoughton, Chauvin usou força “excessiva” e “contrária às práticas policiais aceitáveis”.
A primeira testemunha a ser chamada esta terça-feira pelo advogado de defesa foi Scott Creighton, um antigo agente da polícia de Minneapolis que esteve envolvido numa outra detenção de Floyd, em maio de 2019, um ano antes da sua morte. Floyd foi detido e algemado na sua viatura, mostrando-se muito agitado.
“O passageiro não respondeu e não obedeceu aos meus comandos”, testemunhou Creighton, acrescentando que a situação “escalou muito rápido”.
A segunda testemunha foi Michelle Monseng, uma paramédica já reformada que prestou auxílio a George Floyd após o incidente de 2019. Durante o interrogatório, Monseng afirmou que o afro-americano lhe revelou, na altura, que era viciado em opióides. O juiz aceitou ouvir estas testemunhas - apesar dos protestos dos procuradores, que consideram não estar diretamente relacionada com o episódio da morte do afro-americano -, mas disse que foi "com o propósito limitado de mostrar os efeitos que a ingestão de opiáceos pode ou não ter no bem-estar de George Floyd".
O advogado de defesa procura estabelecer uma ponte de ligação entre a detenção de 2019 e a de 2020, ao comprovar que Floyd era viciado em opióides e que o seu comportamento alterado comprometeu a ação policial. No entanto, através do interrogatório das duas testemunhas chamadas pela defesa, os procuradores parecem ter estabelecido que o nível de sofrimento de Floyd durante estes dois momentos de detenção era bastante distinto, o que pode minar os esforços de Nelson.
Durante a tarde desta terça-feira, continuarão a ser ouvidas as testemunhas da defesa.
No total estão convocadas mais de 400 testemunhas e o julgamento tem já mais de um mês de sessões agendadas. O veredicto é esperado para o final de abril ou início de maio, sendo que os 12 jurados terão de decidir por unanimidade, sob pena de o julgamento ser considerado nulo.
Os outros três polícias envolvidos na morte de Floyd (Alexander Kueng, Thomas Lane e Tou Thao) só serão julgados por “cumplicidade no homicídio” em agosto, devido à pandemia da Covid-19.