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Ataques de Israel matam líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, no Líbano. A evolução da guerra no Médio Oriente ao minuto

Captura de gás do Mediterrâneo por Israel ameaça frágil equilíbrio com o Hezbollah

por RTP
Beirute exige que qualquer projecto na reserva de Karish seja congelado até que uma decisão seja apresentada relativamente às negociações encetadas em 2020 sobre as fronteiras marítimas DR

Israel pretende ligar a disputada reserva de gás de Karish, no Mediterrâneo, à sua rede nacional de energia. Trata-se de uma jogada arriscada que, se por um lado poderá colocar o país numa posição privilegiada como fornecedor a uma Europa privada do gás russo, por outro poderá despertar a ira e inflamar as tensões com o movimento libanês Hezbollah, já que o Líbano reclama parte daquela reserva.

O campo de Karish foi descoberto em 2013, estimando-se que, juntamente com o campo vizinho de Tarin, seja uma reserva na ordem das 3 toneladas de pés cúbicos de gás natural e 44 milhões de barris em líquidos.

Constituindo uma fracção do que a Europa necessita actualmente, face aos constrangimentos que a invasão russa da Ucrânia provocaram na comercialização de gás das reservas russas para o Velho Continente, a operação israelita não deixa de ser bem vista pelos parceiros europeus.

Já este ano Israel incrementou a sua produção de gás em 22 por cento, face à situação depauperada do mercado europeu. Logo em Junho, com grande parte dos parceiros do Velho Continente a rumarem contra a dependência dos fornecimentos russos, Israel assinou um memorando trilateral de entendimento para enviar gás para a União Europeia via Egito, o que acontece pela primeira vez.

Na última semana, o Ministério israelita da Energia anunciou trabalhos exploratórios que devem arrancar na próxima terça-feira para assegurar a ligação à reserva de Karish. A Energean, empresa sedeada em Londres que licenciou o campo, já disse que o processo está “no bom caminho e que deverá [ter capacidade para] fornecer o primeiro gás de Karish em semanas”.

A operação israelita pisa no entanto os limites comerciais ao confrontar o Líbano que, tecnicamente em guerra com Israel, reclama a propriedade do campo de Karish.

Um episódio mais quente ocorreu no ultimo mês de Junho, quando a Energean, fazendo ouvidos moucos aos protestos de Beirute, enviou para a zona um navio-fábrica da empresa. O Líbano exige que qualquer projecto na reserva de Karish seja congelado até que uma decisão seja apresentada relativamente às negociações encetadas em 2020 sobre as fronteiras marítimas e que estão a ser mediadas pelos Estados Unidos.

Hezbollah com os mísseis “apontados” a Karish

A 2 de Julho, o movimento Hezbollah, que mantém fortes laços com o Irão, reagiu às movimentações da Energean na área com o lançamento de vários drones para o campo de Karish. Apesar de os drones estarem desarmados, estes acabariam por ser abatidos pelas forças israelitas.

O recado ficou entretanto entregue: o movimento xiita libanês avisa que tem os olhos e os mísseis postos em Karish.

“Estamos atentos às negociações … os nossos olhos e os nossos mísseis estão focados em Karish”, declarou este sábado Hassan Nasrallah, o líder do Hezbollah, estabelecendo como uma linha vermelha a extracção de gás em Karish por mãos israelitas.

Apontando a importância vital das negociações mediadas pelos Estados Unidos, Nasrallah afirmou que, “enquanto a extracção não começar, há ainda oportunidade para encontrar uma solução”.

Simon Henderson, diretor do Programa Político para o Golfo e a Energia do Instituto de Washington, descartou esta possibilidade de um entendimento, sublinhando que “Israel não considera que alguma coisa na sua zona económica exclusiva tenha de ser alvo de negociação com os libaneses, podendo assim dizer-se que estão a ser provocadores ao avançar com este projecto. O lado israelita roça a indisciplina, porque neste momento tem apenas um governo de gestão”.

De facto, a resposta israelita foi desde logo afastar a mesa de negociações e apontar as miras ao vizinho da fronteira Norte: “Se Nasrallah quer complicar este processo, é bem-vindo. O preço será o Líbano. Espero que não o faça. Nós estamos preparados para defender os nossos interesses”, avisou Benny Gantz, o ministro israelita da Defesa.
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